Síria, Putin e Khamenei se afundam com a queda da dinastia Assad
cEnvolvido na guerra contra a Ucrânia, iniciada com a invasão russa de fevereiro de 2022, o presidente Vladimir Putin não teve, desta vez, como deslocar as suas forças bélicas para salvar a ditadura de Bashar al-Assad, que se contentou com exílio dourado em Moscou.
Putin já teve de apelar e recebeu soldados da Coreia do Norte para combater os ucranianos.
Além de Bashar, o ex-ditador sírio da tirânica dinastia fundada em 1970 pelo seu pai Hafez al-Assad, um sanguinário general apelidado de Leão de Damasco pela ferocidade, outros perdedores, fora da Síria, são reconhecidos, depois da rápida rebelião de dez dias de avanços e conquistas.
Desde que não mais pode manter a privatização da guerra com os mercenários do grupo Wagner, do seu conterrâneo Yevgeny Prigozhin, morto em surpreendente desastre aéreo depois de romper com Putin, o presidente russo tem enfrentado problemas com o recrutamento de combatentes.
A guerra que imaginou vencer em poucos dias, com soldados recebidos como heróis no centro de Kiev, dura até agora.
Não bastasse, as forças ucranianas tomaram a cidade russa de Kursh.
Sem a força e musculatura exibidas quando bombardeou com sucesso os terroristas do Estado Islâmico e grupos de rebeldes em conquista da Síria, Putin nada mais fez.
Putin, de braços cruzados, assistiu em dez dias ao governo de Assad cair. Com a queda, desmoronou o sonho imperialista de Putin.
A Síria, sob o prisma geoestratégico, era a marca da presença russa no Mediterrâneo.
Outro perdedor foi Ali Khamenei, líder supremo iraniano. Os braços que usa para guerrear e tentar conquistar posições no Oriente Médio estão em frangalhos: Hamas, Hezbollah e Houthis.
No momento, depois de o Mossad mostrar a debilidade interna na segurança dos aiatolás, Khamenei, doente e no fim da vida, tenta emplacar, com dificuldades, o filho como seu sucessor.
Nem Putin nem Khamenei conseguiram manter Assad no poder na Síria.
Diante desse quadro, o sanguinário premiê israelense Benjamin Netanyahu iniciou operações no Golã.
Passados 51 anos da guerra de outubro de 1973, Israel invadiu a área de segurança demarcada pela ONU e avisou, com a queda de Assad, sobre o aumento de chance de negociação dos cerca de 110 reféns sequestrados pelo Hamas, na ação terrorista de 7 de outubro de 2023.
Antigos ventos
Em 2011, os ventos da Primavera Árabe sopraram na Síria. Um grupo de jovens grafitou paredes com apelos por liberdade e não foi poupado o busto de Hafez al-Assad.
O sanguinário Hafez foi o chefe do clã que assumiu o poder. Isso numa divisão do nacionalista partido Baath, que passou ao controle da minoritária de religião alauita.
Hafez assumiu o governo por meio de um golpe, depois da derrota síria na chamada Guerra dos Seis Dias. Com a sua morte natural em 2000, assumiu o controle ditatorial o filho Bashar, um doutor em oftalmologia, até então distante da política.
Bashar mandou prender e torturar os jovens movidos pelos ventos libertários da Primavera Árabe. Para ele, a punição exemplar inibiria futuros revoltosos.
O ditador Bashar usou a chave de interpretativa errada. Ao tocar no busto-símbolo da opressão, os jovens haviam derrubado o medo da ditadura.
Com a sua estupidez, Bashar deu início à guerra civil síria. Com auxílio da Rússia e Irã, controlou a revolta.
Para os analistas internacionais, os revoltosos perderam para o governo ao se dividir, abrindo-se brecha para os fanáticos jihadistas da Al Qaeda e, na esteira, o Estado Islâmico.
Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas, a pesada repressão na guerra civil resultou em mais de 90 mil mortes, até 2013.
Para se segurar no poder, pós guerra civil, Bashar al-Assad passou a depender da Rússia, a grande responsável pela eliminação das frentes terroristas, e do Irã, que usou, além de apoio financeiro e estratégico militar, o braço armado do Hezbollah libanês.
A repressão com apoio russo gerou 500 mil mortos. Quase 7 milhões de sírios deixaram o país e refugiaram-se em várias partes do mundo.
A luta rebelde síria, iniciada com a frustrada Primavera Árabe, logrou se reorganizar e, com os curdos e nacionalistas, derrubou o ditador Bashar e terminou com a dinastia dos Assad.
O grupo rebelde HTS (Hayat Tahrir al-Sham), liderado por Abu Mohammed al Joulani, também conhecido por al-Jawlani, chegou a Damasco primeiro, e o ditador Bashar fugiu. De avião decolou de uma base militar russa na Síria, chegou em Moscou e obteve exílio com Putin.
O novo HTS
Os especialistas europeus em geopolítica e os operadores do direito internacional entendem como preocupante a formação de um novo governo, até pelas inúmeras etnias e desconfianças antigas.
Joulani apresenta um discurso nacionalista em que fala em democracia, igualdade e reconstrução.
O HTS, pela ONU, é considerado um grupo terrorista em busca da restauração da antiga região do Levante árabe: Síria, Líbano, Israel, Palestina, Jordânia e a província de Hatay, na Turquia.
Os que se debruçam em estudos de organizações terroristas sustentam ter o HTS mudado de metas e, por isso, separou-se do que sobrou da Al Qaeda e do Estado Islâmico.
Para os membros do Estado Islâmico, o HTS é uma organização traidora do jihadismo.
A população síria mostra grande alívio com o fim da dinastia Assad e está aliviada da força paramilitar de Bashar, composta de mais de 8.000 homens, não ter reagido.
O irmão mais novo do ditador, Majad, não é visto como resistência. É viciado em heroína e tem problemas psiquiátricos.
Maher, quando da rebelião, estava no comando de uma divisão administrativa do exército sírio, não tem liderança entre os militares. É visto como violento e precipitado. Bassel, o preferido do pai Hafez, morreu numa corrida automobilística em 1994.
Ao que tudo indica, a Síria conseguiu livrar-se da tirânica dinastia dos Assad.
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