A vingança dos aiatolás. #Free Sala, pede o mundo civilizado
A jornalista italiana Cecília Sala, 29 anos, foi presa no Irã quando, autorizada pelo governo e com visto de permanência por dez dias, executava um trabalho, série de podcast, para a publicação Choa.
Sala, com livro publicado e premiado com a "Pena de Ouro", concedida pelo presidente da República italiana, foi presa no dia 19 de dezembro último.
A jornalista está sendo mantida incomunicável no temível presídio de Evin, de muitas histórias de torturas e mortes de presos políticos.
Na sua segunda viagem ao Irã, a jovem jornalista italiana já havia enviado três matérias para o diretor da revista onde trabalha, o conhecido jornalista Mario Calabrese, que já dirigiu o maior jornal italiano, La Repubblica.
A esperada quarta matéria não chegou a Calabrese na data agendada. Então, o experiente jornalista começou a desconfiar. Até porque Sala não atrasava e sempre avisa quando algo que levasse ao adiamento de compromissos profissionais ocorria.
A mãe da jornalista e o seu companheiro, que também é jornalista, Danielle Raniere, receberam uma mensagem de voz de Sala. O companheiro percebeu logo que Sala lia uma mensagem, claramente não escrita por ela. Na curta mensagem, ela dizia que estava bem e encarcerada.
Diplomacia
Na diplomacia Itália pratica-se o princípio ético de nenhum italiano, fora do país, ser deixado sozinho nas dificuldades. Existe uma repartição para atendimento 24 horas.
As autoridades diplomáticas e o governo conseguiram informações mínimas e estas dão conta de estar Sala em cela individual e a receber alimentos.
Até o momento a causa da prisão é desconhecida.
Medo e pavor
Numa antiga entrevista concedida após ter o livro premiado, Sala contou das suas experiências no Irã, no Afeganistão e na Ucrânia.
Este colunista leu a entrevista que a mídia italiana publicou, ontem, sábado, 28.
Numa passagem, Sala distingue, nas situações passadas por ela como jornalista, o sentimento do medo e daquele chamado de pavor, em coberturas profissionais a envolver risco.
Fico aqui a pensar com os meus botões de madrepérola e as minhas "canetas falantes" da língua de Dante, se a jornalista passa por medo ou pavor, pois ela bem conhece as arbitrariedades da teocracia iraniana, pelos seus serviços de inteligência.
Como foi admitido o envio de mensagem de voz e está em cela sozinha, a jornalista Sala, com sua experiência, deve estar a sentir o medo em face de um governo imprevisível e desumano.
Vingança
Os 007 da inteligência europeia já fazem contato com as agências norte-americanas, israelenses e egípcias.
Vingança, tem sido a conclusão.
Por quê?
No dia 16 de dezembro passado, no aeroporto milanês de Malpensa, a polícia aduaneira italiana prendeu em flagrante o iraniano Mohammad Abedini Naijafabadi, com contrabando. Eram componentes eletrônicos usados em drones de última geração.
O Irã é fabricante de drones e abastece os terrorista iemenitas da organização Houthi, o hezbollah. Abastecia o derrubado governo Bashar Assad, da Síria.
O último ataque iraniano a Israel foi realizado por meio da tática denominada "chuva de drones". Trata-se de, numa tática de guerra, a confundir o sistema de vigilância do escudo protetivo de mísseis do adversário.
Nejafabadi estava no radar dos serviços de inteligência do Ocidente. A sua prisão em flagrante por contrabando aconteceu dias antes da que vitimou a jornalista Sala.
A diplomacia da Itália move-se com cautela. Os 007 americanos acreditam na correlação e na vingança.
Justa causa
O direito internacional público, melhor chamado de direito das gentes, não admite, no exterior, a prisão de estrangeiros sem justa causa.
Nenhuma causa justa foi apresentada até agora, passados dez dias da custódia da jornalista.
A frisar: Sala estava autorizada a realizar matérias jornalísticas e entrevistar pessoas.
Organizações protetivas de direitos humanos preparam protestos contra o governo dos aiatolás iranianos. Os cidadãos italianos estão muito apreensivos e já imaginam uma troca de prisioneiros, ou seja, a pacífica jornalista Cecília Sala pelo contrabandista, um mercador de mortes.
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