Aiatolás justificam prisão de jornalista italiana e EUA entram na briga
No comentário de ontem, que passou despercebido, frisei, com base em informes dos 007 dos serviços de inteligência do Ocidente, o que havia por trás da prisão, pela polícia iraniana, da jovem e premiada jornalista italiana Cecilia Sala.
O engenheiro iraniano Abedini Naijafabadi, destaquei, havia sido preso em flagrante no aeroporto milanês de Malpensa por contrabando. Isso ocorreu dois dias antes da prisão da jornalista Sala. Estava o engenheiro na posse ilegal de componentes de drones de última geração, um segredo mantido entre os estados italiano e norte-americano.
Como frisei, e os jornais italianos confirmaram hoje, incluída matéria de capa do Corriere della Sera, existiam especulações sobre troca de prisioneiros: Sala por Abedini.
Sala, jornalista bem conhecida na Itália e com dois livros publicados, chegou regularmente ao Irã no dia 13 de dezembro. Estava autorizada a permanecer por até dez dias e realizar matérias jornalísticas. Sua passagem de volta estava comprada e instruiu o seu pedido de permanência no Irã.
A jornalista acabou presa em 19 de dezembro e a causa da prisão só foi revelada hoje, 30 de dezembro.
O ministério iraniano da cultura e de orientação islâmica emitiu nota informativa. Esclareceu haver Sala sido presa por "violação à lei da República Islâmica do Irã".
Juridicamente, a motivação representa um nada. E qualquer prisioneiro, pelo direito internacional, tem direito de conhecer em detalhes a acusação que lhe é formulada.
Extradição de Abedini
Os norte-americanos entraram rapidamente em cena e um complicador surgiu. Para evitar a troca e a concessão de pedido de prisão domiciliar já formulado por Abedini, os EUA solicitaram à Justiça italiana a sua extradição. Tudo sem prisão domiciliar, à espera da análise do pedido de extradição.
Os americanos colocam Abedini como perigoso engenheiro espião, que conseguiu apropriar-se de tecnologia de defesa desenvolvida por cooperação entre EUA e Itália.
Não teria faltado à lembrança um falido ataque iraniano de drones contra Israel, cuja falta de tecnologia adequada resultou em interceptações. Com melhor tecnologia, cujo domínio os iranianos não possuem, poderiam ter tido melhor resultado.
Os americanos, no pedido de extradição, lembraram haver a Itália, no curso de pedido de extradição apresentado pelos EUA, concedido prisão domiciliar ao traficante de armas russo Arthem Uss. O russo rompeu o bracelete eletrônico e fugiu e nunca mais foi visto pela Itália.
Por evidente, a extradição de Abedini impedirá a almejada troca de prisioneiros. Os americanos, frise-se, acusaram Abedini de passar informações tecnológicas aos Pasdaran (Corpo das Guardas da Revolução Islâmica do Irã) e tentar enviar material de amostra.
A jornalista Sala, segundo previsões, deverá passar muito tempo presa, arbitrariamente. Está sendo usada em briga de estados.
A lembrar terem os EUA já sido chamados, por Khomeini, o pai da revolução teocrática iraniana, de o "Grande Satã".
Comportamento ilegal
Para os operadores do direito internacional, não está difícil - à luz de um estado teocrático em crise e com o chefe supremo velho, muito doente e que quer emplacar o filho clérigo fundamentalista na sucessão - descobrir qual o enquadramento legal à jornalista.
Sala filmou e postou mulheres iranianas a andar pelas ruas sem estarem veladas. Há pouco, na universidade e como já contou esta coluna, uma jovem estudante de literatura francesa foi agredida e presa por protestar no campus sem roupa. O protesto solitário era contra a obrigatoriedade do uso de véu na cabeça. Outra mulher, em época anterior, havia sido agredida e morta por usar véu em desalinho.
Fala-se, ainda, em entrevistadas por Sala que não usavam o véu.
Com efeito, essa teria sido a desculpa encontrada para a prisão da jornalista, com objetivo de trocá-la, em momento oportuno, pelo engenheiro Abedini.
Pano rápido
O pedido de extradição colheu hoje a Itália de surpresa. E todos se perguntam como trocar prisioneiros, quando está em jogo segredo de dois estados em cooperação tecnológica.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.