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Wálter Maierovitch

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Papa lança livro contra a guerra, e Macron quer livrar a cara de Putin

Papa Francisco - Getty Images
Papa Francisco Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

14/04/2022 08h42Atualizada em 14/04/2022 14h30

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A novidade do dia vem das livrarias, enquanto afunda no mar Negro o cruzador russo Moskva, atingido por mísseis ucranianos.

Nas prateleiras das livrarias italianas, desde cedo, já está disponível o novo livro do papa Francisco, um guerreiro do bem, dos direitos da pessoa humana e o das gentes. O título do livro é instigante: "Contra a guerra, a coragem de construir a paz".

A primeira edição é em língua italiana e traz, na edição, a marca do jornal italiano Corriere della Sera.

O livro de Francisco não tem nada a ver com o mundialmente famoso romance "Guerra e Paz", do russo Leon Tolstoi. A obra de Tolstoi tem como pano de fundo a invasão desastrosa promovida por Napoleão na Rússia, em 1812.

Na obra, Francisco não romanceia —realiza profundas reflexões espirituais e chama à razão. Mas, por ser chefe de Estado, Francisco faz crítica política, tomado termo no bom sentido.

Por exemplo, o papa escreveu ser a guerra um sacrilégio e, frisou, que não podemos alimentá-la.

O termo sacrilégio tem significado religioso, mas, com o tempo, adquiriu também conteúdo laico. Em outras palavras, De "pecado grave contra a religião ou contra as coisas sagradas, passou, — sacrilégio—, a significar um ultraje contra a pessoa. Contra os direitos naturais dos seres humanos, como matar civis inocentes, na guerra. Com flagrante autorização de Putin, estamos no momento a assistir ataques contra civis inocentes e inermes, ou seja, desarmados, inofensivos, indefesos.

E o papa escreveu: "Já estamos vivendo a Terceira Guerra Mundial. E ela está ocorrendo em pedaços". Com isso, Francisco quis dizer, guerras em várias lugares, em diferentes partes do mundo. "Guerra a pezzi", disse o papa. Sobre isso, está aí a Rússia que invadiu a Ucrânia, com os EUA e a União Europeia a oferecer armas, munições e treinamentos aos ucranianos.

Em tempo eleitoral e a enfrentar no segundo turno a radical Marine Le Pen (admiradora de Putin), o presidente francês, Emmanuel Macron, resolveu advertir Joe Biden para o excesso de linguagem nessa guerra iniciada e provocada pela Rússia.

Segundo Macron, o presidente norte-americano erra ao falar de genocídio consumado na Ucrânia.

Para o presidente francês, existe crime de guerra. Ou melhor, para Macron, a responsabilidade seria dos soldados russos e, no futuro, caberá ao TPI (Tribunal Penal Internacional) apurar eventual responsabilidade de Putin.

De olho nos votos de parte da direita e também de parte da esquerda que votou em Jean-Luc Melenchon, Macron, com oportunismo, resolveu passar pito em Biden. Pior: quer Putin impune. E com essa sua posição de só reconhecer existência de crime de guerra, Macron compromete-se com a impunidade.

Impunidade porque está escrito no Tratado de Roma —que deu vida ao Tribunal Penal Internacional— a possibilidade de qualquer estado-membro, em se tratando de acusação por crime de guerra, não aceitar a jurisdição do TPI. Ressalte-se: em se tratando de acusação de crime de guerra.

No popular, seria dar uma banana para o TPI.

Para quem tiver curiosidade, é só ler o Tratado de Roma. Nele está expresso a cláusula "opting out", que se traduz por "opção para sair". Num pano rápido, cair fora do TPI.