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Wálter Maierovitch

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A ética mafiosa da ministra do Turismo, Daniela Carneiro

29.dez.2022 - Lula com Daniela Carneiro, a Daniela do Waguinho, ministra do Turismo - FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
29.dez.2022 - Lula com Daniela Carneiro, a Daniela do Waguinho, ministra do Turismo Imagem: FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

05/01/2023 15h15

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A nova ministra do Turismo, Daniela Carneiro, mostrou aos cidadãos brasileiros —basta ter olhos de ver e isenção político partidária—, ser adepta da ética mafiosa.

Num pano rápido, Lula, em nome da ética, não pode mantê-la como ministra e, portanto, agente da sua autoridade presidencial.

Uma história italiana: o mafioso Gaspare Mutolo foi importante colaborador da Justiça. Quando descontava pena no cárcere Ucciardone localizado em Palermo —já considerado um hotel 5 estrelas controlado pela Cosa Nostra siciliana—, Mutolo conheceu Totò Riina e virou uma espécie de "dama de companhia" e seu conviva nos régios banquetes promovidos pela máfia.

Riina, passados alguns anos da sua saída do Ucciardone e em consequência da interna e sangrenta segunda "Guerra de Máfia", tornou-se o "capo dei capi" (o chefe dos chefes) da potente e transnacional Cosa Nostra.

Pelo seu lado, Mutolo virou o motorista particular nos mais de 18 anos de fuga de Riina, que nunca tirou o pé da Sicília. Como a Cosa Nostra tinha controle de territórios e o cidadão comum era submetido à "omertà", a lei do silêncio, Riina tornou-se um longevo fugitivo da Justiça.

Pois bem. Aos magistrados em função de Ministério Público, o colaborador Mutolo revelou a ambígua ética mafiosa.

Trata-se de ambígua por ser fundada no interesse e, lógico, nos fins justificarem os meios. Por exemplo, Mutolo contou preferir qualquer mafioso ficar preso do que permanecer em liberdade sem dinheiro, sem poder.

Voltando à ministra do governo Lula...

Nos poucos dias de comanda da pasta do Turismo, Daniela Carneiro revelou não possuir respeito aos princípios éticos fundamentais. Em outras palavras, não se norteia pela ética social, pelo "beabá" da cidadania. Para ela, também os fins justificam os meios, ainda que imorais e antiéticos.

Atenção. Daniela Carneiro não tem ideia de que "nem tudo que é legal (não proibido pela lei) é ético, é moral".

Com efeito. Nas suas campanhas eleitorais vitoriosas (ela é atualmente deputada federal licenciada), contou, como "cabo eleitoral" efetivo, com um chefe de milícia da Baixada Fluminense. Ou seja, com o ex-PM Juracy Alves Prudêncio —vulgo Jura. São inúmeras as fotografias de Daniela Carneiro ao lado de Jura.

A esposa do Jura também virou cabo eleitoral de Daniela Carneiro. Um detalhe, Giane Prudência, já eleita vereadora em Nova Iguaçu, sempre contou com o apoio do marido. No Tribunal Regional Eleitoral (TER), registrou-se, para usar como nome de campanha e ter votos validados, como Giane Jura.

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, que primeiro informou sobre o vínculo antiético e amoral, o supracitado Jura era líder de milícia em cinco bairros de Nova Iguaçu. Além de chefe de milícia, Jura ostenta uma condenação por homicídio.

Ao tentar justificar o injustificável, a ministra Daniela Carneiro, em nota ministerial, alegou " que o recebimento de apoio político não significa que compactue com os crimes pelos quais o ex-PM foi condenado".

Depois dessa nota, devem estar a girar nas sepulturas os filósofos Aristóteles e Spinoza. Ambos, o grego e o holandês, destacaram a figura do "respeito" como um dos princípios éticos fundamentais. A partir da igualdade entre os seres humanos, o respeito ao próximo é fundamental.

Juntar-se a um líder miliciano condenado não é, moral e eticamente, respeitoso aos cidadãos. A ministra, na verdade, desfrutou de um miliciano e da esposa dele, que vive da identidade e da fama do marido (é a Giane Jura), para obter votos.

Repita-se: ssso não é ético e nem moral. É coisa do clã Bolsonaro, cujos membros consideraram milicianos heróis.

Membros desse referido clã visitaram o chefe do famoso "Escritório do Crime" quando estava ele encarcerado. Flávio Bolsonaro condecorou milicianos. E o ex-presidente Jair Bolsonaro, conforme registros jornalísticos, admitiu ter pedido ao filho parlamentar para conseguir condecorações a milicianos.

A lembrar: a nova ministra Daniela Carneiro pertence ao chamado Centrão. Está filiada ao União Brasil, ou melhor, ao mesmo partido do seu esposo Wagner Carneiro, apelidado Waguinho, prefeito de Belfort Roxo (RJ). Foi forte apoiador da candidatura Lula à presidência.

A ministra se elegeu com nome de Daniela do Waguinho.

Para sair do regime prisional fechado e passar ao semiaberto, o chefe de milícia, o tal Jura, teve, consoante exige a Lei de Execuções Penais, de apresentar à Justiça uma proposta de emprego. No regime semiaberto, o preso trabalha durante o dia e volta ao presídio no final da jornada laborativa.

Aí é que o prefeito Waguinho entrou em cena. E Jura arrumou um cargo na prefeitura. Esse mencionado miliciano passou a integrar em 2017, como informou o Estadão, a Secretaria Municipal de Defesa Civil e Ordem Urbana.

O chefe de milícia, pasmem, foi lotado na secretaria em Belfort Roxo. Saltava aos olhos a inadequação ao encargo.

Diante disso tudo, só falta Aristóteles —considerado o pai da ética— soltar do além-túmulo um grito de "Acorda, Lula".

E tem mais a acontecer para completar esse quadro surreal e antiético, onde a ministra Daniela Carneiro não acha nada de mais ter usado como cabo eleitoral um chefe de milícia e autor de homicídio.

A ministra Daniela do Waguinho terá como seu subordinado Marcelo Freixo, futuro presidente da Embratur.

Freixo sempre teve vida política regida pela ética. Freixo, como deputado estadual, foi o relator responsável pela CPI das Milícias do Rio. E, com ameaças de eliminação física, apontou como sendo líder de milícia o cabo eleitoral de Daniela Carneiro.