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Torres não quis falar antes do depoimento de Bolsonaro; atestado só ajudou
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Não dá para colocar em dúvida o laudo médico-legal sobre as condições físico-mentais de Anderson Torres.
Pelo relato médico, ele perdeu mais de 10 kg e entrou em forte depressão, com períodos de choro compulsivo. Ainda segundo frisado pela autoridade de saúde do governo do Distrito Federal, até medicação para evitar suicídio restou ministrada a Anderson Torres.
Neste grave quadro médico, é espantosa a fragilidade emocional de um experiente delegado da polícia federal. De um homem público que ocupou postos elevados como ex-ministro da Justiça e ex-secretário da segurança pública do Distrito Federal. E tem mais, Torres era da linha de frente do bolsonarismo-raiz, de matriz fascista.
Com Torres, o clichê bolsonarista do "cabra-macho" fica prejudicado. E até Carlos Bolsonaro, como noticiado na semana passada, anda temeroso de amargar pedido de prisão preventiva.
Quando a prisão preventiva foi imposta pelo ministro Alexandre de Moraes, o ex-ministro Torres estava nos EUA. Voltou e, com firmeza de muralha de fortaleza medieval, disse que enfrentaria as apurações, sabedor da sua inocência.
Torres não está custodiado em penitenciária ou cadeia. Está, conforme previsão legal, em sala especial de estado-maior de quartel militar. E tal sala é equivalente ao gabinete e quarto de acomodação do oficial de dia de uma unidade militar.
Para os que deixam o quadro médico de lado e pensam na estratégica jurídico-legal da defesa, Torres conseguirá, em face do adiamento havido, ser ouvido depois do ex-presidente Bolsonaro.
O depoimento de Jair Bolsonaro na Polícia Federal e sobre os atos golpistas e antidemocráticos de 8 de janeiro passado, foi remarcado para a próxima quarta, 26 de abril. Seria nesta segunda, no mesmo momento de Torres, conforme estratégia da Polícia Federal, que está a atuar como polícia judiciária.
Para Anderson Torres e o seu novo defensor técnico, certamente é melhor saber o conteúdo do depoimento de Bolsonaro. E, assim, avaliar o quanto poderá complicar juridicamente a defesa dos membros do núcleo duro do ex-presidente, como era o caso de Anderson Torres.
A lembrar que o ex-ministro Torres seria ouvido hoje sobre a sua participação em ações da PRF (Polícia Rodoviária Federal) no Nordeste. Ações não comuns que, efetivamente, retardaram e quase impediram cidadãos de votarem, em área de inclinação eleitoral pró Lula.
Também sobre seu deslocamento ao estado da Bahia para, pelas suspeitas, pressionar o relutante comandante local da PRF a aderir ao plano bolsonarista. O plano de impedir votos de lulistas. E não se pode esquecer o testemunho da diretora de inteligência de Torres, Marília Alencar, destacada para, no segundo turno, mapear redutos lulistas.
Fora isso tudo, Torres deveria novamente ser convidado a esclarecer sobre o documento golpista, ou melhor, a minuta de decreto de Estado de Defesa, encontrado em sua residência e para intervenção no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), com revisão de votação e proclamação de vitória de Bolsonaro.
Conforme o futuro depoimento de Bolsonaro, a defesa técnica de Anderson Torres, volto a reprisar, poderá optar por caminhos surpreendentes. Especulações não faltam, da sua delação premiada ao aguardo da fase processual para dedurar Bolsonaro.
O interessante, como registrei na coluna de ontem e quando era noticiado o depoimento de Bolsonaro para esta segunda, é que este mês de abril, à luz da história, é pleno de recordações de datas antifascistas e antinazistas. Dia 25 será a data nacional italiana de Libertação do nazifascismo, quando as tropas alemãs retiraram-se do território italiano. E no passado 19 de abril, os judeus e poloneses de outros credos recordaram, como contou ontem a jornalista Dorrit Harazin, o Levante do Gueto de Varsóvia.
Bolsonaro poderá silenciar no inquérito, mas, politicamente, seria inconveniente. Até porque, popular e não juridicamente, vale o "quem cala anui". Agora, se Bolsonaro tentar tirar o corpo fora, jogará ao mar muitos aliados. A incluir, como destacado acima, Anderson Torres.
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