Topo

Wálter Maierovitch

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rússia x Ucrânia: bomba de fragmentação de Biden deixa Otan de cabelo em pé

Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden - REUTERS/Leah Millis
Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden Imagem: REUTERS/Leah Millis

Colunista do UOL

09/07/2023 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) vai se reunir em Vilnius, capital da Lituânia, nos dias 11 e 12 de julho. Os seus Estados-membros decidirão sobre o pedido de ingresso da Ucrânia.

Não bastasse o problema decorrente da aceitação, o presidente Joe Biden entrou em cena e acaba de deixar os representantes dos Estados-membros da Otan com os cabelos em pé.

A pedido do presidente Volodymyr Zelensky, o presidente norte-americano aceitou o envio aos ucranianos da bomba de fragmentação aérea conhecida por Cluster Bomb. Para Biden, não há nada de mais no pedido e poderá ajudar na legítima estratégia defensiva contra o invasor russo.

Biden finge esquecer da proibição, pelas Nações Unidas, do emprego da referida bomba em zona de concentração de população civil: cidades, distritos e povoados.

Essa bomba pesa cerca de 500 kg, fragmenta-se quando em contato com o ar. Então, do seu interior espalham-se até 200 outros pequenos explosivos.

A Cluster é um invólucro que abre, e pequenas bombas se espalham — bombe a grappolo, como chamam os militares italianos. Pela força da gravidade, as pequenas bombas caem em vários pontos. E cada pequeno explosivo aterra num minúsculo paraquedas. A explosão ocorre com o contato com o terreno, como acontece com uma granada arremessada.

Olho por olho, dente por dente

Na base na primitiva lei do Talião — olho por olho, dente por dente —, os militares ucranianos apontam anterior uso pelos russos da tal Cluster bomb. Isso teria acontecido, segundo alegam, nos territórios habitados por civis em Donestsk e Luhansk. As explosões mataram civis inocentes, ou seja, que não guerreavam.

A anunciada contraofensiva ucraniana está a encontrar problemas de avanço territorial pelas minas colocadas pelos russos. Também pelo sistema de entrincheiramento construído para abrigar os soldados russos — pequenas fortificações ajudam no retardo dos deslocamentos dos ucranianos.

Pelo jeito, a velha Linha Maginot de defesa, usada pelos franceses para impedir a invasão pelas tropas da Alemanha, voltou à moda, apesar do seu fracasso à época. As minas, trincheiras e fortificações objetivam a atrasar e surpreender as tropas ucranianas.

Bomba para destruir trincheiras russas

Com bombas a cair do alto e em série, os militares ucranianos entendem ser a estratégia ideal para destruir, com rapidez, as trincheiras e fortificações. As explosões serviriam para causar o disparo das minas de solo.

Na Europa, a Cluster bomb é comparada a um cacho de uvas — os vários grãos seriam as pequenas bombas que se soltam do cacho e se abrem e explodem ao chocar-se com o solo.

A reprovação das Nações Unidas foi sustentada por 110 países. E 2/3 dos Estados-membros da Otan votaram, na ONU, pela proibição da bomba, devido aos danos causados à população civil.

A mencionada bomba foi usada pelos russos na Síria e em ajuda ao ditador Bashar al-Assad. Além de membros do Estado Islâmico e das milícias combatentes da guerra pela queda do ditador, a população civil foi atingida em cheio pelas bombas de fragmentação produzidas na Rússia.

Na reunião dos dias 11 e 12, a promessa de Biden poderá ser discutida, embora a Otan não esteja em guerra com a Rússia na Ucrânia.

Caso não seja adiada a análise do pedido ucraniano de ingresso na Otan e se houver deferimento, a Aliança Atlântica terá de sair em defesa da Ucrânia. Aí o assunto Cluster bomb irá se tornar ainda mais explosivo.