Wálter Maierovitch

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Opinião

Por que o Hezbollah 'fica na sua' durante conflito entre Israel e Hamas

Em uma conversa com amigos, brincamos se devemos começar com as boas ou as más notícias. No conflito que se desenvolve entre Hamas e Israel, melhor usar a balança e relatar conforme a ordem de importância.

Hezbollah 'fica na sua'

A boa notícia do dia é destacada pela mídia europeia e baseia-se nas declarações de Hassan Nasrallah, o líder xiita do Hezbollah — algo importante, pois Nasrallah é o ventrículo da teocracia iraniana.

Depois de elogiar o Hamas pelo ataque de 7 de outubro e lembrar os civis mortos pela "fúria assassina" de Israel, Nasrallah disse que o conflito entre Hamas e Israel não será por ele alargado no momento — em outras palavras, o Hezbollah vai continuar a disparar mísseis e morteiros do Líbano, mas sem ultrapassar a fronteira.

Os especialistas militares afirmam, e as agências de inteligência informam os seus governos, que os petardos e os mísseis são lançados entre 5 km e 10 km de distância da fronteira.

Pelo Direito Internacional, isso representa agressão e provocação. E a história aponta para a provocação como geradora de conflito, como o ocorrido entre Hezbollah e Israel, em 2006.

Boa notícia essa disposição do Hezbollah de, como se diz entre jovens, "ficar na sua". Dá até para usar ao caso a expressão lusitana e avoenga, cunhada no século 19: "tudo como dantes no quartel da cidade de Abrantes".

Fica no ar a pergunta sobre a razão de o Hezbollah não entrar no conflito em apoio de campo ao Hamas. Trata-se de mudança de posição, depois do acertado em encontro havido no Líbano, entre representantes do Hezbollah, Hamas e Jihad islâmica palestina. E estava presente Nasrallah.

A resposta no campo da geopolítica é não interessar ao Irã se envolver mais. Sabem os iranianos que os dirigentes dos países árabes estão preocupados com a cada vez maior tentativa persa-xiita (Irã) de ocupar espaços territoriais e influenciar fortemente no Oriente Médio. E, ainda, continuar a dar sustentação às organizações de matriz terrorista como Hamas, Jihad palestina, Hezbollah e Irmandade Muçulmana.

Os especialistas em geoeconomia, por outro lado, apontam a situação interna inflacionária do Irã. Não é mais rico como no tempo que financiou o Hezbollah na "guerra" contra Israel.

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O próprio cerco realizado por Israel em Gaza indica para a derrota como fato consumado, interessando ao Irã entrar nas negociações para a costura do "day after".

Netanyahu e o não a Biden

Devagar com o andor, diria uma idosa sabida. Todo o mundo sabe ser sempre relativo o "não" do premiê israelense Benjamin Netanyahu às propostas encaminhadas pelo presidente norte-americano Joe Biden.

Como destaquei na coluna do dia 28 de outubro, Biden, preocupado com a matança de civis inocentes em Gaza, procurava uma saída e encontrou a chamada, pelo Direito Internacional, de "pausa humanitária".

Os vetos de propostas no Conselho de Segurança tornaram-se insuportáveis. Até a ótima e justa proposta brasileira, quando na presidência rotativa, restou vetada pelos EUA.

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A solução para a saída do impasse foi a convocação da Assembleia Geral das Nações Unidas. Aí, a proposta da Jordânia saiu vencedora por 120 votos, com 14 contrários e 45 abstenções.

A proposta jordaniana, por atingir o quórum de 2/3, virou resolução. O embaixador de Israel protestou e avisou que não seria cumprida. Em síntese, o cessar-fogo condicionado não iria acontecer. As resoluções das Nações Unidas não têm força vinculante. São apenas recomendações.

A assessoria jurídica internacional de Biden trabalhou com o instituto da "pausa humanitária". A "pausa humanitária" é incondicional, mas pode ser restrita a certas áreas.

Conforme noticiamos na coluna de ontem, 3 de novembro, o secretário de Estado Antony Blinken já está no Oriente Médio para tratar do "dia seguinte" (day after) pós-derrota do Hamas e da imediata "pausa humanitária".

Netanyahu, como informou o UOL, disse um "não" a Biden, com Blinken a levar o recado.

Atenção. O não de Netanyahu deve ser entendido com um "grano salis", com temperança. Disse que não aceitaria parar os ataques, sem a libertação dos reféns (242, segundo Israel).

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Na verdade, Netanyahu vai aceitar — e esta é uma boa notícia— a "pausa humanitária". Mas vai demarcar o território onde o fogo vai parar. E com isso o fluxo de ajuda humanitária será mais intenso.

Bom para fora do alvo

O Hamas acusou Israel de bombardear uma escola onde estavam refugiados em migração das áreas em conflito. Segundo o ministério sanitário do governo do Hamas em Gaza, foram 20 mortos e dezenas de feridos — uma péssima notícia.

Israel frisa ter alvejado uma ambulância e de as ambulâncias serem usadas no deslocamentos dos combatentes do Hamas. Mais um episódio a ser apurado com cautela, para não se repetir do informado com relação ao hospital dado como bombardeado. Ou àquele de bebes com cabeças decepadas.

Houthis querem aparecer na foto

Por outro lado, o grupo terrorista Houthis, baseado no Iemên, utilizou drones para tentar atingir Israel. Seu líder declarou apoio incondicional ao Hamas. Esse grupo terrorista, de um Iemên dividido e efervescente, não tem potencial para entrar no conflito e preocupar Israel.

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Ao tempo do sunita Bin Laden, da Al Qaeda, um destroyer americano fundeado no porto de Aden foi atingido no casco, por uma embarcação com explosivos. Naquele tempo, outubro de 2000, a Al Qaeda já se aproveitava para fazer do Iêmen sua sede, dada a grande convulsão social e política.

O Iêmen vive hoje dividido e grupos de terror, como o Houthis, organizam-se e atacam. E o grupo Houthis quer ficar conhecido internacionalmente. Para isso, atacam de surpresa e com grande quantidade de vitimas fatais.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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