Wálter Maierovitch

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Opinião

Nos subterrâneos do hospital al-Shifa cabem reféns e o chefão do Hamas

De repente, o maior hospital de Gaza, al-Shifa, virou o centro das atenções da guerra. Para Israel, o Hamas instalou o seu QG (quartel-general) na parte subterrânea do terreno onde foi erguido o hospital.

Segundo a italiana RAI-News, os reféns estariam no túnel existente abaixo do al-Shifa: "Secondo Israele gli ostaggi sarebbero tenuti da Hamas sotto l'ospedale di al-Shifa" ("Segundo Israel, os reféns estariam detidos pelo Hamas debaixo do hospital al-Shifa").

O governo de Israel não presta informações a respeito. E o Hamas suspendeu no Qatar as tratativas de acordo, sob alegação da insustentável situação no hospital al-Shifa.

Para os 007 dos serviços de inteligência, o Hamas aproveita a situação de calamidade no hospital e a localização e cerco a Yahya Sinwar, o comandante das Brigadas Al-Qassam, o braço armado do Hamas.

Mais ainda. O primeiro-ministro de Israel, o "Rei Bibi Netanyahu" (The King Bibi Netanyahu, conforme foi chamado em capa do The Economist), insinuou, na sua fala no 30º dia de combates, estar um grande chefão do Hamas encapsulado em túnel subterrâneo.

Para o comando do exército de Israel, o chefe das brigadas do Hamas em combate na faixa de Gaza, Yahia Sinwar, está em instalação subterrânea debaixo do hospital al-Shifa.

O Direito das Gentes

Pela Convenção de Genebra, em tempo de guerra são protegidos os doentes, os feridos, o pessoal médico, de enfermagem e de servidores. Também estão sob proteção os prédios e as estruturas.

Atenção. Essa regra protetiva cai quando os hospitais são usados pelos combatentes, fora da sua finalidade, em desconformidade com a sua destinação.

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A exceção à regra de proteção está no artigo 19 da Convenção, que estabelece a necessidade de um aviso prévio para a evacuação, com prazo razoável e cuidado especializado com os pacientes. A Convenção de Genebra de 1949 teve por meta reduzir os efeitos das guerras sobre a população civil.

Israel ainda não repassou à direção do hospital nenhum aviso de evacuação. Mas, pelo Shin Bet, o serviço de inteligência interna, e Mossad, de inteligência externa, Israel deixou vazar uma "esboço" de planta subterrânea do al-Shifa.

Pelo esboço, seriam três níveis de pavimentação subterrânea — tipo garagens de automóveis em três planos de subsolo de shoppings de grandes cidades.

O Hamas teria tentado esconder o seu QG em local insuspeito e protegido.

Hospital sem condições

Para a OMS (Organização Mundial de Saúde), o hospital não tem mais condições de funcionamento.

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O governo de Benjamin Netanyahu informou ter oferecido o necessário para a operação dos geradores hospitalares e não teria recebido resposta.

Para a OMS e para a respeitada organização humanitária Médicos Sem Fronteiras, a situação no al-Shifa é desesperadora e catastrófica.

Como mostram as imagens difundidas pelas agências internacionais, é um edifício hospitalar abarrotado de pacientes.

Os seus corredores estão lotados de macas com feridos à espera de atendimento. No pátio, pessoas aglomeram-se em busca de lugar em que presumem não caírem bombas. E barracas de refugiados estão armadas — entre elas circulam todo tipo de desesperados.

Pano rápido. O Hamas, desde o início da execução do projeto de terror de 7 de outubro, aposta no pior para a população palestina. Em especial, almeja grande número de civis inocentes mortos.

Para atingir o caos em hospitais e na vida da população de Gaza, contou, como esperado, com a fúria defensiva desumana de Israel, enquanto os EUA pediam moderação e exigiam morte mínima de palestinos inocentes, desarmados e sem participação no conflito.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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