Wálter Maierovitch

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Opinião

Pacto entre Israel e Hamas não é garantia de paz; um quer o fim do outro

O acordo prevendo a trégua na guerra entre Hamas e Israel pode sair a qualquer momento, embora o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ameace derrubá-lo.

Como todo operador do direito internacional sabe de cor e salteado, uma coisa é firmar um acordo, outra é executá-lo em todas as fases pacificadores previstas.

Para se ter ideia, ainda não foi concretizada plenamente a Resolução 181 da ONU, de 1947, a fim de serem criados dois Estados — o da Palestina ainda não foi implantado.

Como é o pacto?

A costura do pacto, que durou meses, foi feita por Qatar (sede), Egito e Estados Unidos, com o pessoal de Joe Biden e um representante de Donald Trump —o empresário judeu Steve Witkoff, seu amigo e morador nos EUA.

Caberá ao direito internacional fazer valer as suas regras para o fim do conflito. E tudo com base no princípio do pacta sunt servanda (o pacto deve ser cumprido).

No campo do direito internacional humanitário, cerca de 33 reféns israelenses vivos serão libertados. Atenção: 33 vivos, dos 98 ainda em cativeiros mantidos pelo Hamas.

Na segunda fase do acordo pactuado, serão libertados os restantes dos reféns vivos. Na terceira e última fase do acordo serão devolvidos os cadáveres mantidos em geladeiras.

Em contrapartida, serão soltos cerca de mil prisioneiros palestinos que não participaram dos atos terroristas de outubro de 2023.

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Balanço da guerra

Foram mais de 450 dias de guerra sangrenta, desde o ato terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023, com 120 mortes de judeus e 240 israelenses feitos reféns, para servir de moeda de troca.

Pelos cálculos, nessa guerra, morreram 500 israelenses (segundo o governo Netanyahu) e 46 mil palestinos (conforme o Hamas). Um estudo publicado na conhecida revista Lance fala em 40% a mais de mortes.

Como o Hezbollah entrou na guerra em solidariedade ao Hamas, o número de libaneses mortos, a incluir os agressores do Hezbollah, chegou a 3.700.

Cerca de 90% dos moradores da faixa de Gaza tiveram de deixar as suas casas. No norte de Israel, em razão dos bombardeios do Hezbollah, perto de 60 mil israelenses deixaram as suas residências.

Motivos para o cessar-fogo

O momento da guerra facilitou o acordo de cessar-fogo. A faixa geográfica de Gaza virou ruína.

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O Hamas, que iniciou a guerra com 40 mil homens (espalhados em cinco brigadas, 24 batalhões e 120 companhias), sofreu uma redução para menos de 9 mil combatentes.

Fora isso, o solidário Hezbollah libanês, que bombardeava o norte de Israel e não respeitava a faixa de trégua controlada pelos soldados de paz da Unifil-Onu (Força Interina das Nações Unidas no Líbano), perdeu os seus chefes e a força bélica.

A ressaltar, nesse quadro de circunstâncias facilitadores da trégua, que caiu a sangrenta ditadura na Síria, que apoia Hamas e Hezbollah. Israel aproveitou-se disso e destruiu locais militares estratégicos.

De metas imperialistas percebidas pelos árabes, o Irã virou estado pária. Eram os aiatolás que financiavam Hamas, Hezbollah, milícias sírias e terroristas do Iêmen.

Todo esse quadro levou o Hamas a jogar a toalha. Resta saber se o grupo terrorista vai topar sair de Gaza ou querer fincar pé e transformar-se em partido político minoritário.

Atenção: o pacto de trégua prevê um governo em Gaza composto por uma remodelada Autoridade Nacional Palestina. Lógico que sem Abu Mazen (nome de guerra do presidente palestino, Mahmoud Abbas), tido como corrupto e de idade avançada. O plano prevê ainda investimentos para a reconstrução da destruída faixa de Gaza.

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Netanyahu e os radicais

Do lado de Israel, existem complicações. A direita radical, que mantém Netanyahu como primeiro-ministro, quer a destruição total do Hamas e o controle a distância da geográfica faixa de Gaza. Além disso, esse grupo exige a posse ilegítima das duas partes da Cisjordânia que estão sob o governo da Autoridade Palestina.

Na Cisjordânia, há um apartheid, e Israel governa e avança ilegitimamente com assentamentos. Há uma região divisória mantida por Israel após conquista em guerra.

Pano rápido

Uma coisa é fechar um pacto e termos a regra de direito internacional do pacta sunt servanda. Outra será cumprir todas as suas fases pacificadoras avençadas.

O Hamas vai continuar querendo, estando dentro ou fora de Gaza, riscar o estado de Israel do mapa. E Netanyahu e os radicais de direita que o sustentam no poder não aceitam a existência do Estado Palestino.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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