Wálter Maierovitch

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Opinião

A 'Operação Arrependimento' de Israel contra o Irã e suas consequências

A operação noturna da sexta feira (25), executada pelas forças de Israel, teve referência a período bíblico e um começo inesperado, que surpreendeu as forças iranianas.

O primeiro-ministro de Israel explicou o nome escolhido: Operação "Arrependimento". Traído pelo ufanismo, deixou a escapar fúria: "Arrependam-se, três horas de bombardeamento podem bastar".

A resposta já foi dada pelos aiatolás da teocracia iraniana: "Humilharemos os nossos inimigos".

Na guerra de propaganda, Israel aponta para o sucesso absoluto. Os aiatolás anunciaram "danos limitados".

O "arrependimento" bíblico corresponde, segundo informam alguns religiosos consultados, a um período de dez dias, entre o ano novo judaico (Rosh Hashaná) e o dia do perdão (Yom Kipur).

Seria o período bíblico reservado à reflexão e ao jejum, para exame interior, perante Deus, sobre as más ações cometidas no curso do ano.

Apesar do sábado de guarda (shabat), o líder de direita radical de Israel, Itamar Ben-Gvir, reclamou da pouca intensidade do ataque. Frisou que deveria ser arrasador, pois o Irã "está por trás de tudo", numa referência ao terror do 7 de outubro de 2023 e às ações de Hamas, Hezbollah e Houthis do Iêmen.

A surpresa

Para os estrategistas militares, a surpresa não mais existia. Isso porque Netanyahu, depois da chuva de 200 drones iranianos sobre Israel, avisou que haveria retaliação.

Fora isso, as especulações correram soltas. Sobre a retaliação, foram variadas cogitações. Falou-se em ataque aos sítios nucleares. Depois, de bombardeamentos às plataformas petrolíferas. Finalmente, ataques aéreos às bases militares e aos paióis, fato consumado na noite de sexta.

A surpresa, no entanto, ocorreu. Tudo começou com ataque destrutivo à rede de radares da Síria.

Com isso, cortou-se o canal informativo entre Síria e Irã. Os radares sírios dariam o alerta e, como se sabe, a distância entre Tel Aviv e Teerã é de cerca de 2.000 km. Os sírios estão bem pertos, daí o canal costurado pelo Irã.

Em resumo, o ataque de Israel era sabido, e o Irã contava com as informações da Síria para se inteirar do dia e da hora do início da operação de represália.

Em absoluto segredo, mais de 100 aviões partiram a caminho de Teerã. Dentre os aviões utilizados, estavam os novíssimos F-35-Adir.

Três minutos antes dos bombardeios às bases militares iranianas e aos depósitos de mísseis, Israel comunicou os ataques ao adversário. Ou seja, os militares iranianos perceberam, então, que a comunicação com os radares sírios havia sido interrompida.

Ato de defesa?

O governo dos EUA entendeu que a Operação Arrependimento foi um ato de defesa.

O certo mesmo, é que o foro internacional, as Nações Unidas e a Corte de Haia deveria, antes da solução bélica, ser o canal acionável depois do ataque do Irã: 200 drones lançados, e cinco deles lograram ultrapassar o escudo antimíssil chamado Domo de Ferro -- que já foi o sistema substituído neste mês, por outro e mais seguro sistema norte-americano.

Outro ponto: a legítima defesa, no direito internacional, requer reação imediata. O lapso temporal, no caso, não foi pronto e até anunciou-se a retaliação, que não foi imediata.

Até o mais fanático entre fanáticos sabe promover o Irã ao terrorismo internacional. O imperialista e teocrático regime dos aiatolás quer dominar o Oriente Médio, apagar Israel do mapa e impor ao mundo a religião xiita, num messianismo pela violência e armas. Internamente, violam os direitos humanos e contam com repressiva e violenta polícia dos costumes.

Ao barbarismo iraniano não se deve, fora o caso da legítima defesa técnica, abandonar o limite imposto pelo direito internacional.

A lembrar: na eliminação do sanguinário líder do Hamas, Ismail Haniyeh, o Mossad, serviço de inteligência externo e de ações especiais de Israel, atuou em território iraniano, com violação à soberania.

A reação, desproporcional por parte do Irã, com 200 drones, poderia ter resultado em tragédia maior do que àquela acontecida no 7 de outubro, em território israelita.

Ataque pontual

Para o premiê Netanyahu, a resposta da noite de sexta foi pontual e se encerrou a retaliação.

Não se sabe como será o comportamento dos aiatolás. No momento, os seus braços, Hamas, Hezbolah, Houthis (Iemên), milícias iraquianas e jihad palestinas, perderam força, e os chefes quase todos restaram eliminados.

A Operação Arrependimento bombardeou depósitos de armamentos das milícias iraquianas na divisa com Israel.

Mais ainda, no mundo árabe não xiita, o imperialismo iraniano é conhecido, com financiamento de organizações terroristas como, por exemplo, o braço armado da Irmandade Muçulmana, sempre objeto de preocupação do Egito.

Apenas com a solução da questão palestina, com a criação do estado palestino e políticas para restituir a dignidade ao povo palestino, teremos um breque ao imperialismo, expansionismo pelo terrorismo, do Irã.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

17 comentários

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Júlio Pereira

Não é guerra santa, mas guerra satânica. Como consequência Kamala já perdeu a eleição e   aumenta o antissemitismo. Não é mais um guerra contra o Hamas, mas um guerra contra a humanidade. Alguém precisa deter Israel ou acordaremos em breve envolto em uma grande nuvem de poeira radioativa.  

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Roberto Maciel

EUA patrocinam abertamente a expansão dos conflitos no Oriente Médio, seja através do genocídio israelense de civis palestinos em Gaza, seja através da invasão e ataques ao Irã, Líbano e Síria. Parece buscar, através do Moedor de Crianças Netanyahu, uma Terceira Guerra Mundial. Inclusive intensifica os preparativos da OTAN e armamentos pesados para contra-atacar a Rússia na Ucrânia e em território russo. São ações deliberadas. Ações de desespero porque o dólar está perdendo poder e os países estão se unindo em outras frentes, como os BRICS?

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Cassio Roberto Vieira Tahan

Será que existe alguem que acha que essa guerra vai acabar? Que algum lado vai vencer? Claro que não!  Só perde o povo e só ganha quem vende armas.  Judeus e árabes só vão viver em paz se existir um estado Palestino. 

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