Wálter Maierovitch

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Opinião

Em uma França rachada, Macron quer ser o grande medalhista olímpico

Os franceses usam muito a expressão "rempli de soi-même". Para designar aquele insuportável socialmente que se acha o centro do universo. Ou "o bom", como se diria no Brasil.

O presidente francês Emmanuel Macron, 46, é para muitos franceses, da esquerda para a direita, "rempli de soi-même". Para os centristas, transformou-se de jovem estudante brilhante a verdadeiro estadista.

Em uma França politicamente rachada e a duras penas reunida eleitoralmente para se afastar do extremismo direitista liderado por Marine Le Pen, o presidente Macron abrirá os Jogos Olímpicos nesta sexta-feira (26), a partir das 14h30 (horário de Brasília).

Ano do orgulho francês

"O ano do orgulho francês". Macron definiu assim 2024, o ano olímpico. E haverá, pela primeira vez na história das Olimpíadas, uma cerimônia de abertura ao ar livre e fora de um estádio. Para os franceses não precisarem de ingressos: os comerciantes e donos de hotéis já reclamam das aglomerações a espantar clientes.

O rio Sena será a "pista olímpica" fluvial da abertura. Os atletas estarão nos barcos e, como no trajeto turístico feito pelo conhecido 'Bateu Mouche", os monumentos franceses serão mostrados ao mundo.

Até o horário da abertura foi estudado, a começar às 19h30 local com o pôr do sol a dourar as águas do rio, pontes e monumentos.

No final da abertura, a cidade estará iluminada. E virá a lembrança de Paris como 'Cidade Luz' (ville lumière). Não pela iluminação elétrica, mas por ter sido a terra do iluminismo.

Patrocínio francês

Macron vibra por ter conseguido, como maior patrocinador para a reforma e remodelação da antiga estrutura olímpica, o envolvimento de Antoine Arnault, empresário francês, ou melhor, o manda-chuva da Dior, Tiffany e Louis Vuitton.

Para Macron, o patrocínio francês permitirá mostrar pujança e divulgar as empresas francesas presentes no mercado mundial.

Mas, tem muito mais.

O dia D

Escolheu-se o ano comemorativo dos 80 anos do desembarque das tropas aliadas na Normandia, o maior até hoje registrado pela história e a abrir a segunda frente antinazista contra a Alemanha de Hitler. O famoso Dia D, ou Jour J, como falam os franceses, a lembrar, a França com um governo de colaboração nazista, em Vichy, sob comando do marechal Pétain, traidor da pátria, combatido pelo general De Gaule, herói francês.

Animado com o apoio fundamental dado para a reeleição de Ursula von der Leyn ao segundo mandato como presidente da Comissão Europeia, Macron, "cheio de si" (rempli de soi-même), acha que a empolgação no curso dos jogos fará o francês esquecer da política.

Com a reeleição de Von der Leyn, o presidente francês destruiu a premiê italiana Giorgia Meloni, líder do Fratelli d'Italia, e o neofascista Matteo Salvini, líder do partido Lega Nord, carne e unha de Le Pen e Putin.

Meloni, para surpresa geral uma vez ter se mostrada afastada dos radicais de direita, não votou em Von der Leyne. Com isso tirou da Itália a possibilidade de ocupar cargos importantes e influir na União Europeia. Bola fora de Meloni, com recaída ao seu passado fascista.

Para os que entendem haver Macron errado ao dissolver a Assembleia Nacional francesa e convocar eleições, as Olimpíadas não irão empolgar e gerar 'tabula rasa', ou seja, o esquecimento dos eleitores.

O susto de primeiro turno com o partido de Le Pen na frente e o seu delfim, Jordan Bardella na iminência de obter a maioria e poder reivindicar o cargo e a função de primeiro ministro no sistema semi-presidencialista francês, não será tão cedo esquecida pelos cidadãos franceses.

Não se pode esquecer ter a Frente Nacional, partido de esquerda, causado a reviravolta eleitoral, embora com a participação do partido centrista de Macron, segundo posicionado.

Em resumo, politicamente a França está rachada. Até a prefeita de Paris foi sabotada no seu mergulho nas águas do Sena, para mostrar a propriedade para as competições náuticas.

A direita pediu aos parisienses que voltassem a jogar "merda" no rio para aumentar a poluição. O rio ainda está poluído, mas em razão das águas das chuvas e os bueiros a desaguar.

Macron está com a questão política em aberto no pós-eleição, pois a esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon à frente, quer cargos e funções no governo.

Como "rempli de soi-même", Macron já se acha o grande medalhista de ouro das Olimpíadas.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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