Putin e Trump adotam o 'manda quem pode', e Zelensky fica em maus lençóis
O direito internacional público não incorporou o ditado popular do "manda quem pode, obedece quem tem juízo".
O autocrata russo Vladimir Putin e o antidemocrático Donald Trump adotam o "manda quem pode". Referentemente à paz na Ucrânia, ambos estão com divergências mínimas.
Volodymyr Zelensky, por sua vez, está em situação complicada. Em breve, ficará sem o apoio de Joe Biden. E a recente autorização dada para usar mísseis de longo alcance (até 300 km) made in USA será cassada por Trump. Certamente, Zelensky terá de pensar em poupar os civis da fúria de Putin.
As normas do direito internacional, o chamado direito das gentes, são conhecidas, e a carta constitutiva das Nações Unidas continua em pleno rigor, apesar de constantemente desobedecida — por exemplo, na invasão da Ucrânia pelos russos, em 24 de fevereiro de 2022.
Da parte de Trump, o "manda quem pode" estará em vigor a partir de 20 de janeiro, data da posse presidencial.
Trump e Putin, pelo que se sabe, já teriam acertado, pelas seus prepostos diplomáticos e telefonema secreto revelado pelo Washington Post, um plano de paz para colocar fim à guerra na Ucrânia.
Trump prometeu em campanha eleitoral resolver a guerra entre Rússia e Ucrânia, em 24 horas, daí a busca de acerto com Putin. Isso não é mais novidade para os 007 dos serviços de inteligência.
Putin mira de novo no inverno
Como notado no final de semana pelos especialistas militares em geoestratégia, Putin recoloca, bombardeando pesadamente Kiev, o seu plano de ataque de inverno. Pretende enfraquecer ao máximo o poder de resistência da população ucraniana. Deixar os ucranianos sem fonte de aquecimento e luz é, de novo, o objetivo do presidente russo.
Os pesados ataques de final de semana miraram na infraestrutura civil. De sustentação à cidade de Kiev. As forças russas dispararam, entre sábado e domingo passados, 120 mísseis e utilizaram 90 drones.
Uma outra estação invernal privada de aquecimento e com alargamento dos limites dos territórios apossados, darão a Putin maior musculatura numa negociação de paz.
Putin, que já fez um referendo nas zonas ocupadas, com soldados a intimidar e distribuir cédulas nas casas, já considera, como integrantes da Federação Russa, os territórios de Lugansk, Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson. Para a apropriação, baseou-se no tal referendo.
Sapo de fora
Com o plano de paz costurado a quatro mãos, o presidente Zelensky, a União Europeia e a Otan serão avisados apenas para engolir o sapo, sem nem poder cortar as suas unhas ao deglutir.
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Quero receberTrump estaria disposto a deixar com os russos os territórios já ocupados: hoje os russos controlam cerca de 20% do território ucraniano.
Sua ideia, além daquelas de terminar com as ajudas econômica e militar à Ucrânia, seria criar uma zona-tampão, desmilitarizada.
Essa zona desmilitarizada teria 1 km e caberia a vigilância a uma força de paz europeia, com despesas cobertas apenas pela Europa.
Zelensky, sem Biden, até já concorda em ceder territórios, mas quer o ingresso da Ucrânia na Otan, para o país ter segurança.
Trump e Putin não querem a Ucrânia na Otan. O presidente eleito deseja que Ucrânia seja um "Estado neutro" e desmilitarizado.
Trump quer congelar por 20 anos a proposta de ingresso da Ucrânia na Otan.
Pelo seu lado, a Otan diz estar disposta a aceitar a Ucrânia, num futuro distante e o prazo de deliberação a começar a contar após o fim da guerra.
Para surpresa, a Otan já emite sinais de concordar com as anexações da Criméia e boa parte de Donbass. Certamente, a ponte de ligação entre Crimeia e o Donbass, no mar de Azov, não precisará mais ser mantida em super vigilância por Putin.
A Europa teme o avanço da Federação Russa e volta a lembrar uma eventual tentativa russa de anexação do enclave da Transnistria, na Moldávia.
O chanceler alemão Olav Scholz, que acabou de substituir o ministro das Finanças do partido da coalizão para evitar a queda do seu governo, está preocupado com Putin. Num telefonema de final de semana foi bastante duro referente à questão da Ucrânia.
Os governos europeus, Alemanha, Itália e França à frente, temem que a Ucrânia transforme-se numa Bielorrússia, onde Putin manda e desmanda no ditador Alexandre Lukashenko
Outro discurso e lei marcial
Ao invadir a Ucrânia, o presidente russo justificou a ação bélica. Segundo sustentou, seria para colocar fim ao nazismo na Ucrânia, tudo em defesa de cidadãos russos dos enclaves, de fala russa.
Até Zelensky, um judeu praticante da religião, virou nazista para Putin.
Como os russos tiveram papel fundamental, durante a Segunda Guerra, na aniquilação do nazismo, Putin aproveitou-se do fato histórico. O primeiro discurso, no entanto, ficou para trás. Agora, Putin insiste na falta de legitimação de Zelensky, cujo mandato presidencial expirou.
Na verdade, Putin finge esquecer estar a Ucrânia em guerra e sob Lei Marcial, ou seja, diante da impossibilidade de eleições o mandato foi constitucionalmente prolongado.
Agora, a jogar de mão com Trump, Putin já poderá pensar na consolidação da parte meridional, de Mariupol ao mar do Azov. Também na parte oriental da região de Kherson, e cerca de 90% de Zaporizhzhia e 75% do Donbass. Isso tudo daria 20% da Ucrânia. Enfim, um novo mapa da Federação Russa.
Kursh e os norte-coreanos
As forças ucranianas tomaram a cidade fronteiriça russa de Kursh e ocupam cerca de 1.000l km² de território russo.
Zelensky já propôs devolver o território em troca do Donbass ocupado. Putin, em resposta, enviou para recuperar o território cerca de 50 mil soldados. Dentre eles, estão 10 mil norte-coreanos.
Para analistas, com Trump no poder não terá Zelensky condição de manter Kursh por muito tempo. E o próprio Zelensky terá, em breve, de jogar a toalha e aceitar um plano de paz, que será uma capitulação, um acordo de perdedor.
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