São montagens posts que atribuem a Lula declarações sobre desarmamento
São montagens as supostas capturas de tela atribuindo ao ex-presidente e candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarações sobre desarmamento. Elas são falsas e reproduzem a aparência da conta oficial de Lula no Twitter e do portal de notícias G1. As publicações nunca foram feitas, como afirmam as equipes do petista e do site vinculado à Globo e como se pode constatar em consultas sobre o teor das falsas declarações na internet.
Conteúdo investigado: Imagens de supostos tuítes e reportagem do G1 com declarações atribuídas a Lula sobre desarmamento no país. As montagens, com a mesma aparência da conta de Lula no Twitter, destacam as seguintes frases: "o povo entregará suas armas voluntariamente" e "a polícia não precisará de fuzil de assalto ou de arma curta fora de serviço". Já a suposta matéria do G1 apresenta o título "Daremos um prazo razoável para que todos possam entregar suas armas de forma espontânea sem punição" e o subtítulo "Depois desse período vamos buscar via mandado de busca e apreensão estabelecidos pelo decreto lei em vigor".
Onde foi publicado: Facebook, Instagram e WhatsApp.
Conclusão do Comprova: São falsas as imagens de tela com supostas declarações de Lula relacionadas a armamento. Os conteúdos imitam a aparência da conta oficial de Lula no Twitter e da página do site G1. A manipulação do material foi confirmada pela equipe de Lula e do G1.
Buscas pelas frases repercutidas nos falsos prints não retornam nenhum resultado que ateste a veracidade do conteúdo. Mas sim verificações de agências de checagem que o desmentem, como UOL Confere e Boatos.org, além do texto publicado no site de Lula, já mencionado.
O plano de governo da chapa de Lula e de seu candidato a vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), está disponível no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e não inclui nenhuma das propostas que aparecem nas mensagens falsas. Também não foram encontrados na conta oficial de Lula no Twitter os posts reproduzidos nas peças de desinformação.
Falso para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: No Instagram, a publicação com o conteúdo falso tinha 2.046 curtidas e 223 comentários até o dia 11 de outubro de 2022. Ela foi marcada como informação falsa pela plataforma. No Facebook, outra postagem, com o mesmo teor, tinha 198 curtidas, 13 comentários e 65 compartilhamentos no mesmo período. Já no aplicativo de mensagens WhatsApp, aparece a mensagem: "Encaminhada com frequência".
O que diz o autor da publicação: O autor da publicação com a matéria falsa do G1 foi procurado através de mensagens no Instagram. O responsável pelo perfil afirmou que o objetivo foi "alertar os mais desinformados quanto às reais intenções" de Lula. Ele cita que existem vídeos em que o político diz que irá desarmar a população. Quando questionado sobre as supostas gravações, o usuário não respondeu.
Posteriormente, a conta fez uma nova publicação na qual reconheceu que a matéria do G1 era falsa, mas expressou que as "intenções [de Lula] são reais".
Um dos perfis no Instagram que compartilhou os tuítes falsos de Lula utiliza a categoria "organização governamental" e se associa à Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP). A conta é citada no esclarecimento feito pela assessoria de imprensa do ex-presidente. Ao Comprova, a PMESP explicou que o perfil analisado não é uma página oficial da corporação e, portanto, não expressa as opiniões institucionais.
"Vale dizer que a referida conta foi denunciada ao Instagram por violar os termos de utilização, em especial por denominar-se 'organização governamental', estando em análise a denúncia", informou a Polícia Militar. A reportagem tentou entrar em contato com o perfil, mas não recebeu retorno.
Também entramos em contato com outro usuário que postou o conteúdo falso em suas redes sociais. O homem foi candidato a deputado estadual em São Paulo nas eleições deste ano pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), mas não foi eleito. Ele respondeu que também foi enganado e fez um novo post reconhecendo que o conteúdo é falso.
Como verificamos: O Comprova consultou a conta oficial de Lula no Twitter e fez buscas na internet pelas frases atribuídas ao ex-presidente e atual candidato à Presidência da República. Também fez contato com a assessoria de imprensa do PT e do portal G1, e consultou a proposta de governo da candidatura no site do TSE.
Prints são falsos; tuítes não foram postados por Lula
As imagens falsas trazem data e horário dos supostos tuítes: às 8h4 e às 8h7 do dia 10 de outubro de 2022. Eles não constam na página oficial de Lula no Twitter. Já nos horários específicos que aparecem nos prints falsos, as mensagens publicadas pelo ex-presidente são outras: 8h4 (1, 2) e 8h7 (1).
No início da noite desta segunda-feira, 10, o site oficial de Lula publicou texto afirmando que o ex-presidente jamais disse ou escreveu as afirmações falsamente atribuídas a ele.
O Comprova ainda realizou buscas no Google com o teor dessas afirmações e não encontrou qualquer resultado; confira: "o povo entregará suas armas voluntariamente" e "vamos reduzir o armamento das polícias e dos militares e substituir por inteligência". As páginas foram gravadas com auxílio do site Web Archive, para preservar os resultados que apareceram no momento em que a consulta foi feita, no dia 10.
O plano de governo da candidatura Lula/Alckmin 2023-2026 não contém nenhuma menção ao alegado nas postagens verificadas. As diretrizes podem ser acessadas na página da candidatura no site do TSE.
G1 informa que nunca publicou o conteúdo
Por meio da busca pelo título da suposta reportagem no Google, não foi encontrado nenhum resultado correspondente. Na página do G1, também não consta tal publicação nem nada similar. A partir da constatação, o Comprova entrou em contato com a assessoria do portal, via e-mail, questionando-a sobre a existência do conteúdo e se o portal pretendia tomar alguma medida diante da escalada de casos em que a imagem do veículo vem sendo utilizada em peças de desinformação.
Em resposta, o portal informou que "esse conteúdo nunca foi publicado pelo G1" e reforçou que não há "nenhum Paulo Canuto na equipe do portal", em referência à assinatura de um suposto repórter que aparece no print alvo desta checagem.
Vale ressaltar ainda que o G1 disponibiliza uma relação com os nomes dos profissionais que fazem parte da equipe em todo o Brasil. O veículo não respondeu se pretende tomar medidas legais para identificar os responsáveis pela falsificação.
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A poucas semanas do segundo turno das eleições presidenciais de 2022, conteúdos falsos que envolvem candidatos à Presidência da República, como a postagem checada, podem influenciar a decisão do eleitor, que deve se basear em informações verdadeiras e confiáveis para definir o seu voto.
Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o Comprova verificou outros conteúdos que simulavam páginas de veículos jornalísticos. No início deste mês, o Comprova mostrou que o G1 não publicou matéria na qual Lula afirma que "nem Deus tira essa eleição da gente". O Comprova também mostrou que era falsa uma suposta postagem do portal GE (Globo Esporte), que afirmava que a marca Puma teria aumentado o patrocínio do jogador Neymar Jr após ele declarar apoio a Bolsonaro. Em setembro, mostramos ser falsa uma montagem de suposta publicação do G1 na qual Lula teria dito que a Venezuela "não precisa de críticas", mas de "financiamento e empréstimos".
Este conteúdo foi investigado por O Dia, SBT, Metrópoles e O Povo. A investigação foi verificada por CNN, Plural, Estadão, Correio, A Gazeta, Grupo Sinos. Crusoé, SBT news. A checagem foi publicada no site do Projeto Comprova em 10 de outubro de 2022.
O Comprova é um projeto integrado por 40 veículos de imprensa brasileiros que descobre, investiga e explica informações suspeitas sobre políticas públicas, eleições presidenciais e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. Envie sua sugestão de verificação pelo WhatsApp no número 11 97045 4984.
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