Lula foi vacinado contra covid, ao contrário do que afirma legenda de vídeo
É falso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não tenha sido vacinado contra a covid-19 durante o lançamento do Movimento Nacional pela Vacinação. Trecho de um vídeo da cerimônia, compartilhado amplamente nas redes sociais, foi legendado de forma a dar a entender que uma técnica em enfermagem diz ao presidente que seu cartão de vacinação foi preenchido, mas que ele não recebeu o imunizante.
Conteúdo investigado: Um vídeo que circula nas redes sociais apresenta um trecho da cerimônia do Movimento Nacional pela Vacinação, realizada em 27 de fevereiro, em que Lula aparece ao lado da ministra da Saúde, Nísia Trindade. O presidente é abordado por uma mulher de vermelho, cuja fala é legendada da seguinte maneira: "Vou falar!! Receba o cartão de vacina, mas você não foi vacinado, não. Gerente da UBS ainda vai passar foto entregando o cartão". À peça de desinformação, foram acrescentadas, ainda, as inscrições "foi tudo teatro" e "farça montada!!! aplicou plascebo (sic)".
Onde foi publicado: Kwai, Twitter, Facebook e TikTok.
Conclusão do Comprova: Não é verdade que o presidente Lula (PT) não tenha sido vacinado contra a covid-19 durante o lançamento do Movimento Nacional pela Vacinação, em 27 de fevereiro.
Trecho de um vídeo da cerimônia, compartilhado amplamente nas redes sociais, foi legendado de forma a dar a entender que uma técnica em enfermagem diz ao presidente que seu cartão de vacinação foi preenchido, mas que ele não recebeu o imunizante.
Na transmissão feita pelo canal TV Brasil no YouTube, contudo, é possível verificar que a legenda não condiz com o que a mulher fala. Na verdade, ela refere-se ao fato de que, se Lula não tiver o documento com o registro, não poderá comprovar a imunização.
Também pode-se acompanhar, em imagens ampliadas, o vice-presidente e médico Geraldo Alckmin (PSDB) aplicando a substância no presidente.
A Secretaria de Comunicação da Presidência negou que a vacinação tenha sido encenada, assim como a Secretaria de Saúde do Distrito Federal, responsável pela UBS onde ocorreu a cerimônia.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Conforme a ferramenta CrowdTangle, a publicação aqui verificada recebeu 28,7 mil interações no Twitter até o dia 3 de março. O vídeo também foi compartilhado por diversas contas em diferentes redes sociais, que tiveram milhares de interações. Uma das publicações no TikTok soma 57,7 mil visualizações, enquanto outra teve mais 13,5 mil no Kwai.
O que diz o responsável pela publicação: O vídeo contém a inscrição de quem o publicou no Kwai e no Tik Tok. O Comprova encontrou os perfis citados na publicação e enviou mensagens, mas, até a publicação deste texto, não recebeu resposta.
Como verificamos: Primeiramente, identificamos o evento sobre vacinação do qual o presidente Lula participou junto da ministra da Saúde, Nísia Trindade. Em seguida, procuramos pela transmissão da cerimônia no YouTube. Ao assisti-la, identificamos o trecho utilizado nas peças desinformativas. A partir do áudio com melhor qualidade disponível na plataforma, foi possível entender com clareza o que a mulher diz ao presidente.
Por meio de uma publicação do Conselho Nacional de Enfermagem (Cofen), foram identificados os profissionais da área que participaram do evento. Ao consultar os nomes deles no Google Imagens, descobrimos que a pessoa que fala com Lula é a técnica em enfermagem Fátima Lúcia Rola, que em 2022 foi candidata a deputada distrital pelo PT.
A pesquisa no Google também informou que ela é membro da Associação dos Profissionais de Saúde Pública do Distrito Federal, o Clube da Saúde, com o qual a reportagem entrou em contato, e é conselheira de saúde no Distrito Federal, portanto, a Secretaria de Saúde também foi procurada.
Entrevistamos, por fim, o médico pediatra Juarez Cunha, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e membro da Comissão Nacional Especializada em Vacinas.
Lula foi imunizado no lançamento do Movimento Nacional pela Vacinação
No dia 27 de fevereiro, Lula recebeu a quinta dose da vacina contra a covid-19. Ele foi imunizado com o produto bivalente da empresa Pfizer (Comirnaty), cujo uso temporário e emergencial foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em novembro de 2022. As vacinas bivalentes oferecem proteção contra mais de uma cepa do vírus.
A aplicação ocorreu durante o lançamento do Movimento Nacional pela Vacinação, do Ministério da Saúde, com o objetivo de ampliar a cobertura vacinal no Brasil. A cerimônia foi realizada em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no Guará, região administrativa do Distrito Federal.
Além de Lula, participou do evento o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, que é médico anestesista e foi o responsável por aplicar a dose no presidente.
O conteúdo aqui checado tenta desqualificar as vacinas e afirma falsamente que Lula não teria recebido a dose de fato, mas fingido ter sido imunizado. Na peça de desinformação, consta sobre as imagens a seguinte inscrição: "farça montada!!! aplicou plascebo (sic)" - um placebo é elaborado para ter a aparência exata de um medicamento real, mas é composto por substâncias químicas inativas, ou seja, não faz qualquer efeito.
Por conta de outras postagens falsas e enganosas que circulam nas redes sociais sustentando que Lula não foi vacinado, a Secretaria de Comunicação da Presidência já havia se posicionado sobre o assunto. No dia 28 de fevereiro, a pasta ressaltou que o presidente é um "defensor da ciência e da vacinação como estratégia fundamental para a saúde pública no Brasil". Ao ser procurada pelo Comprova, reforçou o comunicado e desmentiu o conteúdo alvo desta verificação.
Procurada pelo Comprova, a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, responsável pela UBS onde ocorreu a imunização, também declarou ser falsa a afirmação de que o presidente Lula não tenha sido vacinado.
Na transmissão do evento feita pela TV Brasil, é possível acompanhar, a partir dos nove minutos e 37 segundos, Alckmin aplicando a substância em Lula. Imagens em zoom mostram o vice-presidente preparando a dose e, neste momento, quando ele retira um pouco do ar que há na seringa, nota-se alguns respingos saindo da agulha, comprovando que havia líquido no interior:
| Captura de tela da transmissão da TV Brasil feita em 02/03/2023
Diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o médico Juarez Cunha frisa que os frascos que chegam à rede pública de saúde contêm vacina e que o placebo, mencionado na peça de desinformação, é destinado a estudos clínicos. "Na nossa rede, os frascos que a gente tem de vacina são de vacina, não existe frasco de placebo. Então, quando tu aspira o produto ali, o produto que tu aspira é vacina", explica Cunha.
"O presidente atual, em outros momentos, já participou de campanhas de vacinação, e isso nunca foi uma preocupação", acrescenta.
Técnica em enfermagem não diz que Lula não foi vacinado
A mulher que aparece de vermelho ao lado do presidente Lula nas imagens viralizadas é a técnica em enfermagem Fátima Lúcia Rola, servidora pública do Distrito Federal. Na peça desinformativa, uma legenda adicionada ao conteúdo não reproduz o que realmente é dito no vídeo. A postagem sustenta falsamente que a mulher teria dito: "vou falar!! Receba o cartão de vacina, mas você não foi vacinado, não. Gerente da UBS ainda vai passar foto entregando o cartão".
Na transmissão feita pela TV Brasil, a cena pode ser conferida a partir dos 11 minutos e 48 segundos. O material está disponível no YouTube e tem qualidade de áudio superior à do conteúdo viralizado, permitindo entender com mais precisão o teor da fala.
Ao se aproximar de Lula, que está ao lado da ministra da Saúde, Nísia Trindade, Fátima, na verdade, diz: "presidente, deixa eu falar, receba o cartão de vacina, senão o senhor não foi vacinado, não". Ela refere-se à comprovação, feita pelo documento, de que ele recebeu o imunizante.
Em seguida, a técnica aponta para o documento que está na mão de outra pessoa, apresentada por ela como gerente da Unidade Básica de Saúde onde ocorre o evento. A gerente mostra o comprovante ao presidente, que o pega, analisa e mostra os registros das vacinas para as câmeras. Depois, Lula guarda o cartão no bolso do paletó. Após um trecho inaudível, Fátima acrescenta: "vamos tirar foto entregando o cartão".
À reportagem, a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde do Distrito Federal afirma ser falso que qualquer servidora tenha dito que o presidente não recebeu o imunizante. "A recomendação dada a todas as pessoas que recebem qualquer vacina é que guarde, em local acessível e seguro, o cartão de vacinas para que possa comprovar as imunizações, nos casos em que se fizer necessário", orienta o órgão, em nota.
O Comprova procurou Fátima Lúcia por meio do Clube da Saúde, da Secretaria de Saúde do Distrito Federal e de sua conta pessoal no Facebook, mas não conseguiu falar com a técnica em enfermagem.
O que podemos aprender com esta verificação: A partir da manipulação do registro de um evento em que o presidente Lula de fato tomou a quinta dose da vacina contra a covid-19, o conteúdo aqui verificado se aproveita do excesso de ruídos para acrescentar ao vídeo uma falsa legenda sobre o que está sendo dito, induzindo ao erro quem o visualiza sem tanta atenção.
Diante disso, a verificação feita pelo Comprova levanta alguns pontos que servem de aprendizado. São eles:
1) Desde que começaram a ser divulgadas informações sobre a produção de vacinas contra a covid-19, as redes sociais viraram palco de desinformações sobre a eficácia do imunizante. O Comprova, inclusive, já verificou vários conteúdos suspeitos sobre o tema. Considerando isso, tome cuidado com conteúdos virais que questionem as vacinas, seja em relação à sua eficácia ou sobre a aplicação de imunizantes em autoridades.
2) Sempre procure fontes confiáveis para verificar as afirmações apresentadas em conteúdos disseminados nas redes sociais.
3) Procure se informar por meio de veículos de imprensa profissionais, órgãos governamentais e instituições com credibilidade.
Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal. São abertas investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp (11) 97795-0022.
Outras checagens sobre o tema: O Comprova já verificou diversos conteúdos falsos citando o nome do presidente Lula, como, por exemplo, que o plano de governo dele não propunha medidas como nova CPMF, tributação do PIX e congelamento da poupança. Também foram checadas dezenas de conteúdos relacionados às vacinas contra a covid-19, como um vídeo que distorce declaração de executiva da Pfizer sobre eficácia do imunizante. O mesmo conteúdo aqui verificado foi checado também por Aos Fatos.
O Comprova é um projeto integrado por 40 veículos de imprensa brasileiros que descobre, investiga e explica informações suspeitas sobre políticas públicas, eleições presidenciais e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. Envie sua sugestão de verificação pelo WhatsApp no número 11 97045 4984.
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