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Peritos apontam adulteração em vídeo: Bolsonaro não disse "calma, Adélio"

Lucas Borges Teixeira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

26/06/2019 04h00

Mais um vídeo que questiona a autenticidade da facada sofrida pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) em setembro do ano passado, quando estava em campanha eleitoral, passou a circular pelas redes sociais. Segundo a corrente, o então candidato teria falado, antes do ato, "calma, Adélio" ao agressor.

O vídeo mostra um homem apontado como segurança de Bolsonaro no meio da multidão em Juiz de Fora (MG). Em vários momentos, ele diz "calma" e "agora não, cara". Por volta de 20 s, segundo o vídeo, uma frase atribuída a Bolsonaro indica que ele teria gritado "calma, Adélio". A frase é legendada e repetida algumas vezes. Diversos usuários estão usando as imagens para questionar a autenticidade do ataque e questionando como Bolsonaro sabia o nome do seu futuro agressor.

FALSO: Bolsonaro não falou "calma, Adélio"; vídeo é tirado de contexto

O UOL pediu para o IBP (Instituto Brasileiro de Perícia) analisar o vídeo. Como base, o gerente técnico da instituição, Gustavo Batistuzzo, usou a versão estendida do vídeo, disponível no YouTube, e teve a colaboração da fonoaudióloga Priscila Haydée de Souza na avaliação. O tempo editado na postagem do Twitter vai de 0min50 a 1min40 do vídeo enviado pela reportagem ao perito.

"Como aquele vídeo já havia sido editado, usamos um que parece ser um pouco mais original. Nesta versão [estendida], podemos ver que a fala atribuída a Bolsonaro não é "calma, Adélio", garante Batistuzzo. "Ele fala algo parecido com 'dá uma viradinha para a cam'. O que, avalio, pode ser a câmera. Não dá para ouvir direito, mas não foi Adélio", avalia o perito.

Bolsonaro leva facada - Raysa Leite/AFP - Raysa Leite/AFP
Bolsonaro reage após levar facada durante campanha eleitoral de 2018
Imagem: Raysa Leite/AFP
No vídeo compartilhado no Twitter, esta fala é cortada, editada e legendada, o que traz uma alteração de contexto e induz quem está vendo, diz o especialista.

"É como aqueles vídeos ou GIFs estrangeiros legendados em português que ficam em looping. Depois que você lê a legenda, impossível não achar que foi falado aquilo", argumenta. "É uma adulteração com objetivo muito claro de levar o espectador ao engano", diz Batistuzzo.

Quanto ao restante do vídeo, o gerente técnico do IBP afirma não ver tantos problemas. Por causa do barulho, ele diz não conseguir determinar que foi o presidente Bolsonaro quem falou a frase grifada, só garante que o nome "Adélio" não é dito em momento algum.

"Estamos tentando fazer a comparação com uma entrevista que ele [Bolsonaro] deu, como já fizemos. Mas está difícil. Ele fala pouco e com muito ruído no fundo, isso confunde o exame. Tentamos pegar parâmetros, mas tem muitas pessoas falando junto", afirma o perito.

Segundo ele, o vídeo também tem "uma característica esquisita do espectro sonoro" pouco antes da fala. "Parece que todas as frequências mais altas foram suprimidas. Pode ser natural ou do equipamento, mas por que ele iria suprimir frequência alta em uma parte do áudio e outra não?", questiona.

Apesar das poucas dúvidas, o que o gerente técnico do IBP já diz garantir é que, mesmo que a fala tenha sido do presidente, nem ele nem o homem que está filmando e repete diversas vezes "calma aí, pô" falam o nome do agressor.

"Há diversas explicações para isso [pedido de calma], mas o que acontece é que a pessoa editou o vídeo e o colocou no repeat, o que adultera o entendimento", afirma Batistuzzo. "Ela está claramente tentando montar a teoria da conspiração da facada falsa, mas não dá para dizer isso do vídeo", encerra o perito.

O UOL procurou o Palácio do Planalto para comentar o vídeo e a suposta fala, mas não teve resposta até o fechamento da matéria.

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