Veja em que pontos Bolsonaro errou e acertou durante o discurso na ONU
Em discurso na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) na manhã de hoje, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) criticou governos anteriores, disse que tirou o país do socialismo, afirmou que o Brasil tem compromisso com o meio ambiente e comparou a agricultura no país com países europeus. O UOL checou algumas das declarações. Confira o resultado abaixo:
Apresento aos senhores um novo Brasil, que ressurge depois de estar à beira do socialismo
FALSO: Brasil não estava à beira do socialismo
Não há registro de que o Brasil estivesse prestes a virar um país socialista. Desde a redemocratização, em 1985, todas as eleições presidenciais foram realizadas nas datas e anos marcados (a cada quatro anos a partir de 1989).
Entre os eleitos, houve presidentes sociais-democratas, de esquerda e de direita. Dois deles, Fernando Collor (1990-1992) e Dilma Rousseff (2011-2016), sofreram impeachment segundo rito previsto na Constituição Federal.
Durante os anos de governo petista (2003-2016), não houve qualquer tentativa de golpe por parte do Executivo ou do Exército, tanto que Jair Bolsonaro, assumidamente de direita, foi eleito democraticamente em 2018 e assumiu a Presidência em 2019.
Em 2013, um acordo entre o governo petista e a ditadura cubana trouxe ao Brasil 10 mil médicos sem nenhuma comprovação profissional
FALSO: Médicos cubanos tinham, sim, formação profissional
De acordo com o TCU (Tribunal de Contas da União), em 2017, dos 18.240 médicos participantes do Mais Médicos, 29% (5.274) eram formados no Brasil, 8,4% (1.537) tinham diplomas do exterior e 62,6% (11.429) eram cubanos e faziam parte do acordo de cooperação com a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde).
De acordo com a lei que criou o programa, todos os cubanos tinham de apresentar seus diplomas de medicina com faculdades validadas pela Opas.
Dos mais de 4 milhões que fugiram do país, uma parte migrou para o Brasil, fugindo da fome e da violência
VERDADEIRO: Mais de 4 milhões de pessoas deixaram a Venezuela
O número de venezuelanos que deixaram o país já passou de 4 milhões. De acordo com a OIM (Organização Mundial para as Migrações) e a Acnur (Agência das Nações Unidas para os Refugiados), Brasil recebeu pelo menos 168 mil deles.
Ela [a Amazônia] não está sendo devastada e nem consumida pelo fogo, como diz mentirosamente a mídia
FALSO: Desmatamento e queimadas aumentaram sob Bolsonaro
Durante os sete primeiros meses do governo Bolsonaro, o desmatamento na Amazônia Legal cresceu mais do que 67% se comparado ao mesmo período do ano anterior. Só em agosto, aumento foi de 222% se comparado a 2018.
O mesmo se dá com as queimadas, que, de acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), aumentaram em cinco biomas da Amazônia neste ano.
A França e a Alemanha, por exemplo, usam mais de 50% de seus territórios para a agricultura
VERDADEIRO: França e Alemanha usam mais de 50% de suas terras para a agricultura
Segundo números do FFA (Fórum para o Futuro da Agricultura), a França tem a maior área dedicada à agricultura na Europa, com 54% do território.
Já a Alemanha, de acordo com a Agência de Nacional de Conservação Natural do país, destinava 51,4% do território para o setor em 2014. Além disso, de acordo com o Banco Mundial, a Alemanha tem apenas 37,38% do seu território preservado, enquanto a França apresenta um percentual ainda menor: 26,34%.
O Brasil usa apenas 8% de terras para a produção de alimentos
IMPRECISO: Dados sobre território destinado à produção de alimentos são conflitantes
Um estudo da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), de 2017, confirmado pela Nasa (a agência espacial norte-americana), aponta que lavouras ocupam apenas 7,6% do território nacional.
Mas, segundo informações da secretaria executiva do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) de outubro do ano passado, o país destina cerca de 30,2% do seu território para a produção de alimentos. Procurado, o Mapa não quis se pronunciar sobre o número.
61% do nosso território é preservado
IMPRECISO: Brasil tem mais de 61% de vegetação nativa, mas não em área preservada
De acordo com outro estudo disponibilizado pela Embrapa em 2017, 66% do território nacional está coberto por vegetação nativa. Isso não representa, no entanto, o território destinado a áreas de preservação nas chamadas Unidades de Conservação.
Nesta época do ano, o clima seco e os ventos favorecem queimadas espontâneas e criminosas
FALSO: Fogo espontâneo não existe na Amazônia
Fogo espontâneo na Amazônia não existe. O gerente do Programa Amazônia do WWF Brasil, Ricardo Mello, afirma que, no caso da região amazônica, não há um processo natural que provoca queimadas, como o calor que atinge o cerrado.
"Todo fogo [na região amazônica] é de alguma forma iniciado pelo ser humano. Então, é diretamente causado pela ação do homem", afirma.
Medidas foram tomadas e conseguimos reduzir em mais de 20% o número de homicídios nos seis primeiros meses de meu governo
VERDADEIRO: Número de homicídios diminuiu 23%, mas Bolsonaro não é único responsável
Em junho, o Ministério da Justiça e da Segurança Pública informou que o número de homicídios diminuiu 21,2% nos primeiros quatro meses de 2019 em comparação ao mesmo período do ano passado. O levantamento foi feito pelo governo com base no Sinesp (Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e de Rastreabilidade de Armas e Munições, e sobre Material Genético, Digitais e Armas).
No entanto, de acordo com especialistas que analisaram os dados a pedido do UOL em junho, a redução não se deve apenas a ações de Bolsonaro, mas outros fatores, como integração de governos promovida por Michel Temer, iniciativas de governos federais e trégua entre facções criminosas.
O Foro de São Paulo, organização criminosa criada em 1990 por Fidel Castro, Lula e Hugo Chávez para difundir e implementar o socialismo na América Latina, ainda continua vivo e tem que ser combatido.
FALSO: Foro de São Paulo não é organização criminosa
O Foro de São Paulo surgiu por meio de uma iniciativa do PT em 1990, após a queda do Muro de Berlim, na Alemanha. A primeira reunião foi realizada em São Paulo sob o nome de "Encontro de Partidos e Organizações de Esquerda da América Latina e do Caribe", com a presença de 48 partidos latino-americanos de esquerda, dos quais oito eram brasileiros (além do PT, havia PDT, PSB, PCB, PCdoB, PPL, PPS e PSB).
Todos os encontros desde então foram feitos legalmente e não há registro de que organizações criminosas façam parte dele. Na sua carta de compromisso, a "Declaração de São Paulo", o grupo fala em reestruturar o socialismo e combater o imperialismo capitalista, mas também se compromete a respeitar a vontade soberana de cada povo.
Hoje, o Foro ainda existe com mais de cem partidos e está longe de ser um grupo que pretende ou tem influência para implantar um bloco socialista no continente. Dos brasileiros, só o PSB não é mais signatário.
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