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Uma iniciativa do UOL para checagem e esclarecimento de fatos


Bolsonaro erra sobre desemprego e cita remédios ineficazes para covid

Bernardo Barbosa e Douglas Maia

Do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo e Curitiba

20/05/2021 20h33Atualizada em 20/05/2021 21h46

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez alegações falsas na live de hoje (20) sobre dados de desemprego do país e, mais uma vez, defendeu o tratamento da covid-19 com medicamentos que não têm eficácia comprovada para a doença e inclusive passaram a ser contraindicados em parecer de um órgão do próprio governo.

Bolsonaro voltou a fazer menção velada ao consumo de hidroxicloroquina, que chamou de "remédio da ema" e é inclusive contraindicada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para qualquer caso de covid-19. Uma área técnica do Ministério da Saúde também contraindica o medicamento para pacientes hospitalizados com covid-19. O presidente também citou um estudo sobre ivermectina feito no México que é repleto de inconsistências. Veja a checagem do UOL Confere:

Emprego formal encolheu em 2020

O [trabalhador] formal, carteira assinada, não houve perda de emprego. Terminamos 2020 com mais empregados que 2019
Presidente Jair Bolsonaro em live semanal

Bolsonaro falava sobre os trabalhadores do setor privado com carteira assinada, categoria que, ao contrário do que afirmou o presidente, encolheu entre 2019 e 2020: queda de 7,8% (2,6 milhões de pessoas), para 30,6 milhões de trabalhadores, segundo dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)

No geral, o desemprego atingiu nível recorde no Brasil em 2020, considerando a série histórica iniciada em 2012, com uma taxa média anual de 13,5% (13,4 milhões de pessoas). O número de pessoas que desistiram de procurar trabalho aumentou 16,1% em relação a 2019, chegando a 5,5 milhões de pessoas.

Estudo mexicano não prova eficácia da ivermectina

Não pode falar aqui não, porque senão... Esse aqui, ó: 'Cidade do México diz que tal medicamento reduz internações em até 76%'.
Presidente Jair Bolsonaro em live semanal

O "tal medicamento" mencionado por Bolsonaro é a ivermectina, que não tem eficácia comprovada contra o coronavírus. O presidente citou a notícia sobre o México depois que o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, afirmou ter tomado ivermectina contra a covid-19.

Uma checagem publicada hoje pelo projeto Comprova, do qual o UOL faz parte, mostrou que o estudo tentou medir os efeitos de um kit composto por três medicamentos, não só a ivermectina.

Além disso, a pesquisa não foi capaz de determinar se as pessoas efetivamente usaram as medicações, se tomaram no período correto e se receberam outros medicamentos. Os autores do estudo também presumem que o grupo controle —ou seja, o que serve como base para a comparação— não usou o trio de remédios apenas porque não recebeu o kit nos postos de atendimento. Isso significa que é impossível estabelecer uma relação de causalidade entre o uso de ivermectina isolado e a suposta baixa nas internações.

Em sua mais recente orientação sobre o uso de medicamentos no tratamento da covid-19, divulgada em março, a OMS recomenda o o uso de ivermectina apenas em testes clínicos, o que não foi o caso do México. O Conitec, órgão técnico do Ministério da Saúde, emitiu parecer contraindicando a ivermectina para casos hospitalares de covid-19. O uso indiscriminado da ivermectina pode causar até hepatite medicamentosa.

Hidroxicloroquina é contraindicada para covid-19

Tomei aquele negócio que o pessoal usa para combater malária, usei lá atrás, junho, julho, e no dia seguinte eu estava bom
Presidente Jair Bolsonaro em live semanal

Como costuma fazer nas lives de quinta-feira, Bolsonaro voltou a defender o uso da hidroxicloroquina contra a covid-19 de forma velada e citando seu próprio caso — o presidente afirma que tomou o medicamento quando teve a doença, em meados do ano passado. No entanto, a hidroxicloroquina nunca teve sua eficácia comprovada para a doença, e desde dezembro de 2020 seu uso é inclusive contraindicado pela OMS para pacientes com covid-19. Esta semana, o Conitec, órgão técnico do Ministério da Saúde, também passou a contraindicar a substância em casos hospitalares da doença.

Bolsonaro omite contexto de aumento de seu salário

"O pessoal falou que aumentei meu salário, que patifaria da imprensa"
Presidente Jair Bolsonaro em live semanal

O aumento pode não ter sido colocado em prática pelas mãos do próprio presidente, mas é resultado de uma medida de um órgão do seu governo — o que Bolsonaro não explicou em sua live.

Uma portaria do Ministério da Economia publicada em 29 de abril definiu as regras para que servidores públicos passassem a receber, em determinados casos, acima do teto constitucional de R$ 39,2 mil. A imprensa noticiou a medida na semana passada.

Bolsonaro foi beneficiado por ser militar reformado e estar em um cargo eletivo. Seu salário bruto vai chegar a R$ 41,6 mil mensais, segundo cálculos da Folha. O governo federal afirma que a medida apenas adequa os salários a decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) respaldadas pelo TCU (Tribunal de Contas da União).

Argentina de fato suspendeu exportação de carne

"A Argentina está tendo problema sério, acabou de proibir a exportação de carne, o preço está alto"
Presidente Jair Bolsonaro em live semanal

De fato, o governo argentino decidiu suspender a exportação de carne. A medida foi anunciada anteontem (18) e valerá por um mês. Segundo reportagem da agência Reuters, o governo tomou a medida para tentar conter não só preço do produto, mas a inflação no país.

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