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Refinarias da Petrobras na Bolívia foram vendidas ao país, não 'dadas'

23.mai.2022 - É falso que Lula "deu" refinarias da Petrobras para a Bolívia; instalações foram vendidas - Arte/UOL sobre Reprodução/Twitter Carla Zambelli
23.mai.2022 - É falso que Lula 'deu' refinarias da Petrobras para a Bolívia; instalações foram vendidas Imagem: Arte/UOL sobre Reprodução/Twitter Carla Zambelli

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

23/05/2022 19h16

É falso que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confessou que "deu refinaria da Petrobras" para a Bolívia, como dizem posts nas redes sociais hoje (23). O país fez um acordo com a estatal brasileira para pagar US$ 112 milhões pelas duas refinarias que nacionalizou em 2006.

"Em 2006 Lula permitiu que a Bolívia nacionalizasse uma refinaria da Petrobras. Hoje, a Bolívia corta 30% do fornecimento de gás para o Brasil, priorizando a Argentina (Kirchner). Estranho, não?", dizem as publicações, que circulam junto com um vídeo do petista com a legenda "Ex-presidiário confessa que deu refinaria da Petrobras para Bolívia".

A alegação falsa pegou carona na notícia de que a Bolívia reduziu a exportação de gás natural ao Brasil em 30% — segundo a Petrobras, volume abaixo do contratado. O corte veio após um acordo para reforçar o fornecimento à Argentina.

Em 2006, o governo boliviano usou o Exército para tomar instalações de empresas estrangeiras do setor de petróleo e gás, entre elas a Petrobras. No ano seguinte, em comunicado aos investidores, a estatal disse que a Bolívia havia aceitado comprar as duas refinarias da empresa no país por US$ 112 milhões.

Os posts usam um vídeo de um evento em 2015 em que Lula aparece ao lado do então vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera. O petista relata uma conversa com Linera e o ex-presidente boliviano Evo Morales sobre a nacionalização das instalações da Petrobras pelo país.

"Eu quero confessar para vocês, e falo isso com orgulho: possivelmente, se não fosse um governo como o nosso aqui no Brasil, o Evo Morales teria tido muito mais dificuldade na Bolívia, porque aqui no Brasil havia uma elite atrasada que queria que o Brasil fosse duro com a Bolívia. Eu lembro da primeira conversa que você teve no meu gabinete com o Evo Morales, com o Marco Aurélio Garcia, quando você perguntou: 'Presidente Lula, como você se comportaria se nós nacionalizássemos a Petrobras?'. Isso antes de eles serem governo. E eu disse 'olha, o gás é de vocês, o petróleo é de vocês. Portanto, façam o que vocês quiserem', sabe? E foi assim que nós nos comportamos", disse o petista.

Um dos posts com a alegação checada foi feito pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), aliada do presidente Jair Bolsonaro (PL), pré-candidato à reeleição. No Instagram da parlamentar, o vídeo de Lula tinha mais de 320 mil visualizações até o começo da noite de hoje. No Facebook, eram mais de 100 mil visualizações. No Twitter, 15 mil. Lula e Bolsonaro concentram as intenções de voto para as eleições presidenciais de outubro, com vantagem para o petista (43% contra 31%), mostra o agregador de pesquisas do UOL.

O boato de que Lula deu uma refinaria à Bolívia circula pelo menos desde 2020 e já foi checado por diferentes veículos de imprensa, como AFP Checamos, Aos Fatos, Estadão Verifica e Lupa. Em ocasiões anteriores, a alegação foi usada para tentar justificar aumentos no preço do gás de cozinha (GLP), que subiu 64% nos últimos três anos.

Desde 2016, no governo de Michel Temer (MDB), a Petrobras adota uma política de preços que segue a cotação dos combustíveis no exterior, em dólar. No PPI (preço de paridade de importação), a estatal leva em conta quanto ela poderia lucrar vendendo esses produtos no mercado internacional. Por isso o dólar e a cotação do petróleo influenciam diretamente no preço aqui no Brasil. Custos como frete marítimo, taxas portuárias e transporte rodoviário também são considerados no PPI.

Críticos da paridade internacional alegam que ela aumenta o lucro dos acionistas às custas do consumidor, que no fim paga pela alta do dólar e do petróleo. Defensores do PPI afirmam que essa é a melhor maneira de atrair investimentos, garantir o abastecimento e estimular a concorrência.

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