É falso que livro do 'kit gay' foi distribuído em escola municipal na Bahia
Uma das principais fake news que circulou durante as eleições de 2018, o "kit gay", voltou a circular em 2022. Um vídeo compartilhado nas redes sociais mostra um pai de uma aluna de uma escola municipal de Camaçari, na Bahia, reclamando da entrega à filha do livro "Aparelho Sexual e Cia", que nunca fez parte de qualquer distribuição em ambiente público escolar. A publicação também não faz parte do acervo do colégio.
O que diz a publicação? A publicação circula no Facebook. Ela é composta por um vídeo de 2 minutos e 31 segundos que mostra a discussão entre um pai de uma aluna e uma servidora — que em um momento das filmagens diz ser a proprietária do livro "Aparelho Sexual e Cia."
O vídeo é acompanhado de uma legenda que falsamente informa que o livro fazia parte do "kit gay" e que teria sido distribuído.
"Em Camaçari, Bahia. Uma "professora" usa material inapropriado e não autorizado induzindo à erotização, sexualização das crianças, um pai descobre, se revolta e vai reclamar. A própria pilantra filma sem qualquer constrangimento ou medo de represálias, embora esteja cometendo UM CRIME contra a criança e contra a família, esta é a cartilha do kit gay de Haddad, que NÃO FOI LIBERADO, por pressão da sociedade através do Congresso Nacional (então eles distribuíram via MinC). O pai deveria ir à delegacia registrar queixa por conduta inadequada, inapropriada da "professora". Em sala de aula, o professor NÃO TEM LIBERDADE de EXPRESSÃO, mas liberdade de CÁTEDRA baseada em programa pré estabelecido sobre uma platéia cativa. Isso teria que chegar ao MEC, MPF. Ah, se fosse minha com minha filha, não ia dar nada bom".
'Kit gay' não existiu. O chamado "kit gay" surgiu após o projeto Escola Sem Homofobia, encomendado pelo MEC após cobranças do MPF (Ministério Público Federal), e visava combater a violência contra homossexuais nas escolas públicas do país.
O livro mencionado na postagem e que aparece nas mãos do pai nunca fez parte do kit, que nem chegou a sair do papel após suspensão pela então presidente Dilma Rousseff (PT).
"Aparelho Sexual e Cia." é vendido pela editora Companhia das Letras, no Brasil. O livro, de 2001, é de autoria dos escritores franceses Philippe Chappuis e Hélène Bruller, e foi lançado no Brasil em 2007.
Quem pela primeira vez citou que a publicação era distribuída por meio do projeto foi o então deputado federal Jair Bolsonaro, em 10 de janeiro de 2016, em um vídeo nas redes sociais.
Dias depois, o MEC (Ministério da Educação) desmentiu Bolsonaro, mas o político voltou a mencionar por diversas vezes a desinformação em 2018. Na ocasião, o MEC emitiu nota dizendo que "as informações equivocadas presentes no vídeo, inclusive, repetem questões que tinham sido esclarecidas anos atrás".
"Em 2013, o Ministério da Educação já havia respondido oficialmente à imprensa que 'a informação sobre a suposta recomendação é equivocada e que o livro não consta no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e no Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE)", afirmou o ministério, à época.
Em 2022, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) também já mandou retirar vídeos do TikTok com menções ao "kit gay".
O que aconteceu em Camaçari? No caso ocorrido em Camaçari, ao UOL Confere, a prefeitura confirmou que o livro foi entregue a uma aluna de 11 anos do colégio Amélia Rodrigues, no distrito de Monte Gordo. Porém, negou que a publicação fizesse parte do acervo da biblioteca.
De acordo com a Seduc (Secretaria de Educação) de Camaçari, o vídeo foi gravado no final do mês de agosto. Na primeira semana de setembro, após a repercussão do vídeo nas redes sociais e imprensa local, uma sindicância foi aberta para apurar como o livro foi parar na biblioteca.
Durante visita ao colégio, a Seduc diz que "ouviu os pais da estudante para quem o livro havia sido entregue, bem como dialogou mais uma vez com a gestão escolar". Foi constatado que o livro teria sido entregue por uma auxiliar de classe, também ouvida.
"A sindicância, criada por meio de portaria oficial, segue com a apuração, enquanto uma equipe pedagógica multidisciplinar atua na escola com o intuito de garantir a fluidez nos processos curriculares", afirmou.
O UOL Confere tentou contato com a servidora, mas ela não respondeu aos pedidos de entrevistas enviados pelas redes sociais.
Ao site BNews, da Bahia, a funcionária disse que o livro é dela e que a aluna lia a publicação há dias, o que a fez autorizar a levá-lo para casa. Ela comentou que a garota sabia do conteúdo e que passou a sofrer ameaças após o caso viralizar.
"A diretora me recepcionou informando sobre a mudança e ainda não tenho um local específico para ficar. De lá fui para uma reunião no sindicato onde fui orientada a não voltar, por enquanto, já que estou sofrendo ameaças", relatou a educadora.
Fabíola Cidral conta como reconhecer logo de cara uma fake news
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