Yanomamis em estado de desnutrição são brasileiros
Após a repercussão do grave estado de desnutrição e desassistência médica que vivem os yanomamis, denunciado pelo site Sumaúma, publicações nas redes sociais tentam dissociar do governo Bolsonaro as imagens da tragédia. Para isso, disseminam a mentira de que os indígenas nas imagens são venezuelanos e não brasileiros, o que não é verdade.
A notícia falsa é atribuída ao bolsonarista Oswaldo Eustáquio, investigado no inquérito das fake news e das milícias digitais. Eustáquio teve a prisão decretada em dezembro por determinação do STF.
Procurada, a Polícia Federal disse que "não se manifesta sobre eventuais investigações em andamento nem divulga nomes de presos ou investigados" e não confirmou se Eustáquio é considerado foragido. O blogueiro também não está custodiado no sistema prisional do Distrito Federal. O Ministério da Justiça se limitou a responder o mesmo que a PF. Já o STF disse que não passa informações sobre processos sigilosos.
Desinformações espalhadas por Eustáquio já foram desmentidas pelo Projeto Comprova (aqui) e pelo UOL Confere (aqui e aqui).
Segundo dados da reportagem do site Sumaúma, 570 crianças yanomamis com menos de 5 anos de idade morreram por causas evitáveis durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022). Os dados são do Ministério da Saúde.
Ao UOL Confere, o Ministério afirmou que os indígenas que aparecem nas imagens divulgadas pela reportagem são brasileiros.
Onde vivem os yanomamis
Os indígenas yanomamis ocupam uma região no Brasil entre Roraima e Amazonas que é considerada a maior reserva indígena do país, com 30.400 habitantes. A área faz fronteira com a Venezuela e também há yanomamis no território vizinho.
No entanto, as denúncias de desassistência à saúde dizem respeito apenas aos yanomamis que se encontram em território brasileiro, que estão sob responsabilidade do governo federal. A reportagem cita as regiões de Auris, Surucucu, Xitei, Koraimatiu, Porapë.
Além disso, descreve o movimento oposto ao da notícia falsa ao dizer que homens yanomamis do grupo Sanoma "migram para o garimpo ilegal do outro lado da fronteira, na Venezuela". O cenário descrito é de insegurança alimentar (leia aqui).
Bolsonaro e os yanomamis
A situação dos yanomamis de Roraima, que foi agravada pela pandemia, não deixou de ser denunciada ao longo do governo Bolsonaro. Relembre fatos e ações do governo sobre o caso:
"Vamos expulsar com o Revalida os cubanos do Brasil". Esta e outras declarações de Bolsonaro contra os médicos cubanos levaram o governo de Cuba encerrar a parceria com o Mais Médicos após as eleições presidenciais de 2018, antes que ele assumisse o cargo. A saída dos médicos cubanos do programa trouxe consequências diretas à assistência à saúde do povo yanomami. O DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) Yanomami registrou o maior número de mortes de bebês já em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro (leia aqui);
Em junho de 2020, o governo Bolsonaro enviou uma comitiva de militares para a TI Yanomami com apoio do Ministério da Saúde. O Exército distribuiu medicamentos do fraudulento "kit covid" para as aldeias da região, como cloroquina e azitromicina (veja aqui). Esposas de militares maquiaram indígenas yanomamis, causando aglomeração (veja as fotos aqui);
Em julho de 2020, Bolsonaro vetou em projeto de lei, a pedido de Damares, a obrigação do governo de fornecer água potável, leitos de UTI e itens de higiene a indígenas como forma de combate à pandemia de covid-19 nas aldeias. O veto foi derrubado pelo Congresso.
Ainda em 2020, representantes dos povos indígenas entraram com uma ação no STF para obrigar o governo federal a adotar medidas de combate à pandemia nas aldeias (ADPF 709). Entre os pedidos estava a retirada de garimpeiros da TI Yanomami;
Dados de 2020 indicaram que os casos de malária quadruplicaram em 2019 na TI Yanomami (leia aqui), na comparação com números de 2014. A doença está relacionada ao garimpo ilegal;
Em 2021, matéria da Repórter Brasil denunciou que a lotação de militares sem capacitação específica nos distritos de saúde indígena deixava as populações desassistidas (leia aqui). A reportagem denuncia casos de coordenador armado intimidando indígenas, de remoções de barreiras sanitárias nas aldeias e de desvio de verbas para o combate à pandemia;
Bolsonaro visitou a TI Yanomami em 2021, sem máscara (veja aqui). Ele chegou a dizer que respeitaria a vontade dos indígenas se não quisessem garimpo na região, mas seu governo autorizou duas lavras para exploração próximas à terra indígena (leia aqui), uma delas em 2022;
Em abril do ano passado, o MPF encaminhou ao STF uma petição reiterando o pedido para retirada de invasores da TI Yanomami. O documento apontava o descumprimento da medida cautelar determinada pela Corte no ano anterior e relatava agravamento da situação (leia aqui).
Na Câmara, em julho do ano passado, entidades da sociedade civil denunciaram a tragédia humanitária que assola o povo yanomami (leia aqui): garimpo ilegal, violência sexual contra mulheres e crianças, ameaças de mortes e desestruturação dos postos de saúde. A desnutrição infantil também foi relatada.
Bolsonaro chegou a ser denunciado por uma entidade indígena (Apib) ao tribunal de Haia pelo crime de genocídio (relembre).
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