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É falso que hospital orienta automedicação com aspirina em caso de infarto

08.mar.2023 - Desinformação que circula em Portugal ao menos desde 2020 orienta erroneamente pacientes que sofrem ataque cardíaco a se automedicarem com aspirina; procedimento só deve ocorrer em unidades de saúde, sob supervisão médica   - Arte/UOL Confere sobre Reprodução/WhatsApp
08.mar.2023 - Desinformação que circula em Portugal ao menos desde 2020 orienta erroneamente pacientes que sofrem ataque cardíaco a se automedicarem com aspirina; procedimento só deve ocorrer em unidades de saúde, sob supervisão médica Imagem: Arte/UOL Confere sobre Reprodução/WhatsApp

Pedro Vilas Boas

Colaboração para o UOL, em Salvador

09/03/2023 17h58Atualizada em 09/03/2023 21h37

É falsa a mensagem que circula nas redes sociais e aplicativos de mensagem com uma suposta recomendação de um hospital de que as pessoas se automediquem com aspirina caso acordem sofrendo um ataque cardíaco. O medicamento é administrado em caso de infarto, mas o paciente jamais deve tomá-lo por conta própria, apenas sob orientação médica, dentro de uma unidade de saúde.

O UOL Confere aplica o selo falso a conteúdos que não têm amparo em fatos e podem ser desmentidos de forma objetiva.

O que diz o texto? Com a suposta atribuição "DO HOSPITAL SANTA MARIA", a mensagem falsamente explica "Como usar a aspirina no ataque cardíaco, em caso de emergência".

A mensagem ainda afirma que uma pessoa "pode não sentir nunca uma primeira dor no peito durante um ataque cardíaco" e que "60% das pessoas que tiveram um ataque cardiaco enquanto dormiam, já não se levantaram. Porém, a dor no peito pode acordá-lo dum sono profundo".

Em seguida, vem a recomendação: "Se assim for, dissolva imediatamente duas Aspirinas na boca e engula-as com um pouco de água. Em seguida, ligue para o 112 e diga 'ataque cardiaco' e que tomou 2 Aspirinas. Sente-se numa cadeira ou sofá e espere pela chegada do pessoal da Emergência do 112 e NÃO SE DEITE!!!!". Ao final, a mensagem faz um apelo por compartilhamento. "Um cardiologista afirmou que, se cada pessoa receber este mail e o enviar para mais 10 pessoas, pelo menos uma vida poderá ser salva! Eu fiz o meu trabalho! Espero que faças o teu.'

A desinformação circula em Portugal. O número de emergência da mensagem é o português, não o do Brasil. Quem está em território brasileiro deve discar 192 para casos de emergência relacionados a problemas cardíacos.

A localização da unidade de saúde não consta na mensagem. No entanto, uma checagem do mesmo texto falso foi publicada pela agência portuguesa Observador em 2020. A agência, assim como o UOL Confere, faz parte da rede internacional de checadores IFCN (International Fact-Checking Network) e confirma que a orientação não foi divulgada por uma unidade de saúde. Naquela época, a assessoria do Hospital Santa Maria, localizado na cidade do Porto, afirmou que a mentira "já circula há vários anos", e que "não tem origem no Hospital Santa Maria".

Sobre infarto. Guilherme Arruda, coordenador de cardiologia da Rede D'or em São Paulo, confirma que o paciente pode sofrer um ataque cardíaco sem apresentar a dor no peito imediatamente, porém, diz não haver informações sobre mortes provocadas por infarto durante o sono.

Você pode ter o ataque cardíaco dormindo, mas não é o mais comum, isso é a minoria da minoria, dos eventos. O ataque normalmente acontece quando a pessoa está acordada, fazendo esforço, suas atividades diárias Cardiologista Guilherme Arruda, em entrevista ao UOL Confere

O especialista ressalta que o uso de aspirina no tratamento do infarto acontecer, mas apenas com orientação médica. "Fica difícil para a própria pessoa identificar o padrão de dor do infarto. Pode ser, inclusive, uma úlcera, e a aspirina vai piorar a úlcera".

A melhor recomendação nesse momento [suspeita de infarto] é procurar imediatamente um serviço de emergência. Agora, o tipo de procedimento, medicamento, quem está habilitado a dizer isso é o médico Cardiologista Guilherme Arruda

A aspirina é importante para o tratamento emergencial de um infarto, sendo administrada ainda no pronto-socorro. Segundo Arruda, o medicamento desobstrui o coágulo formado na artéria do coração.

O pedido de checagem foi enviado ao UOL Confere pelo WhatsApp (11) 97684-6049. Sugestões também podem ser encaminhadas ao email uolconfere@uol.com.br.

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