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Uma iniciativa do UOL para checagem e esclarecimento de fatos


É falso que ligações e mensagens trocadas pelo WhatsApp serão monitoradas

8.mar.2023 - A empresa negou a informação - Reprodução/Facebook
8.mar.2023 - A empresa negou a informação Imagem: Reprodução/Facebook

Pedro Vilas Boas

Colaboração para o UOL, em Salvador

09/03/2023 13h32Atualizada em 09/03/2023 16h33

É falso que "novas regras de comunicação para WhatsApp e telefonemas" serão implementadas e que haverá monitoramento de mensagens do aplicativo, ao contrário do que diz um texto que circula nas redes sociais. A empresa nega a informação. A mensagem elenca uma série de informações genéricas e mente sobre a possibilidade de mudança nas notificações de envio e leitura de mensagens no aplicativo.

O UOL Confere aplica o selo falso a conteúdos que não têm amparo em fatos e podem ser desmentidos de forma objetiva. A checagem foi sugerida por leitores pelo WhatsApp (11) 97684-6049 e pelo email uolconfere@uol.com.br.

O texto afirma, sem especificar qualquer data, que "A partir de amanhã serão implementadas novas regras de comunicação para WhatsApp e telefonemas". Além disso, diz que "01. Todas as chamadas serão gravadas. 02. Todas as gravações de chamadas serão salvas. 03. WhatsApp, Facebook, Twitter e todas as redes sociais serão monitoradas." Procurados, Facebook e Twitter não responderam.

O WhatsApp nega a informação. Não há qualquer registro nos principais veículos de imprensa do país sobre medidas deste tipo. A reportagem consultou os arquivos de UOL (veja aqui e aqui), Folha (veja aqui), Estadão (veja aqui), O Globo (veja aqui) e g1 (veja aqui). Também não houve qualquer sinalização de representantes das redes divulgadas pelas empresas.

O texto tem falhas de grafia e gramática, algo comum em desinformações. "04. avise quem não sabe saber", diz um dos tópicos. Sem especificar qual seria o suposto órgão responsável, a mensagem falsamente afirma: "05. Seus dispositivos serão conectados ao sistema ministerial. 06. Tenha cuidado para não enviar a mensagem errada para ninguém. 07. Informe seus filhos, irmãos, pais, amigos e conhecidos que você precisa cuidar deles e que raramente gerencia sites sociais."

O texto ainda desconsidera o sistema presidencialista brasileiro. "08. Quaisquer mensagens ou vídeos que você tenha na frente do governo ou do primeiro-ministro sobre política ou a situação atual... etc. Não envie", diz a mensagem. Não existe o cargo de primeiro-ministro no Brasil.

A mensagem falsa diz ainda, sem especificar qualquer regra legal que "09. Atualmente é crime escrever ou enviar mensagem sobre qualquer assunto político ou religioso... Pode resultar em prisão sem mandado. dez.* A polícia emitirá uma notificação... então o cibercrime... então uma ação será tomada. É muito sério.*". A informação também é falsa. Não é crime no Brasil escrever ou enviar mensagem sobre qualquer assunto político ou religioso. A manifestação do pensamento é garantida pelo artigo V da Constituição.

Uma lei mais dura sobre crimes cibernéticos entrou em vigor em maio de 2021, mas não prevê o que diz a mensagem falsa. A lei 14.155 estabelece pena de 1 a 4 anos de reclusão e multa para quem "invadir dispositivo informático de uso alheio, conectado ou não à rede de computadores, com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do usuário do dispositivo ou de instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita" (veja aqui).

O texto ainda diz que haverá mudança no sistema de notificações de envio e leitura de mensagens, que supostamente vai começar a a sinalizar não só se a informação é viral, mas também se o governo tomou nota da mensagem, se vai verificar as informações do usuário ou se vai entrar com uma ação e com uma intimação contra o usuário. No entanto a mensagem falsa não especifica nem qual seria a instância de governo —municipal, estadual ou federal— responsável pela suposta fiscalização, nem qual órgão seria o responsável pela suposta medida.

Em janeiro de 2021, o WhatsApp alterou os Termos de Serviço e da Política de Privacidade. A atualização foi amplamente divulgada pela empresa e pela imprensa. As conversas continuaram protegidas por criptografia, mesmo após a mudança. A central de ajuda no aplicativo afirma que "o WhatsApp e a Meta não podem ler nem ouvir o conteúdo dessas conversas" (leia o texto na íntegra aqui). O que os novos termos definem é que o WhatsApp compartilhe informações com o Facebook, como nome, número de telefone, aparelho usado, dados de transações e pagamentos e outros dados anônimos (veja aqui).

Uma outra mensagem falsa parecida, sobre suposto monitoramento de mensagens do WhatsApp, foi desmentida pelo UOL Confere (veja aqui). Uma corrente de WhatsApp afirmava falsa mente que STF havia autorizado o monitoramento de chamadas do WhatsApp. A suposta medida também começaria "a partir de amanhã", sem data definida. O boato também foi desmentido por Estadão Verifica, Fato ou Fake e Lupa.

Procurada pelo UOL Confere, a assessoria de imprensa do WhatsApp também afirmou que tudo o que é compartilhado entre os usuários permanece entre eles.

As conversas pessoais são protegidas com criptografia de ponta a ponta, o que significa que essas conversas são privadas, e que o WhatsApp não pode ler, ouvir ou ver o conteúdo das imagens compartilhadas. Por essa razão, o WhatsApp não mantém o registro das pessoas para as quais o usuário ligou ou enviou mensagens de texto, de áudio ou imagens Nota do WhatsApp

A checagem também foi feita por Boatos.org.

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