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Gates não encerrou entrevista após pergunta sobre vacina; vídeo é deepfake

17.mar.2023 - É falso que Bill Gates acabou entrevista ao ser perguntado sobre vacina - Arte/UOL sobre Reprodução/Instagram
17.mar.2023 - É falso que Bill Gates acabou entrevista ao ser perguntado sobre vacina Imagem: Arte/UOL sobre Reprodução/Instagram

Do UOL, em São Paulo

17/03/2023 04h00

É uma deepfake o vídeo que mostra Bill Gates encerrando uma entrevista ao ser questionado de forma crítica sobre as vacinas contra covid-19. O diálogo do vídeo falso não acontece no vídeo original. A conversa foi conduzida pela jornalista Sarah Ferguson, do programa 7.30 da ABC Austrália, em 30 de janeiro.

As imagens foram adulteradas com uso de IA (inteligência artificial). A informação foi confirmada pelo perfil do TikTok que, segundo especialista ouvida pelo UOL Confere, publicou originalmente o vídeo falso.

O pedido de checagem foi enviado pelo WhatsApp (11) 97684-6049.

O que mostra a versão falsa?

  • Uma das publicações com o vídeo adulterado tem o seguinte título: "Jornalista confronta Bill Gates sobre vacina e o deixa sem palavras";
  • No vídeo adulterado, Ferguson pergunta a Gates: "Com as suas próprias palavras, no que você contribuiu para o mundo?";
  • Ela ainda o acusa de ter um padrão comportamental de "pegar tecnologia de outras pessoas";
  • Ferguson também questiona como Gates está se sentindo após "ter investido pesadamente e ter ganho bilhões de dólares com isso [vacina contra a covid-19], que causou inúmeros ferimentos, danos materiais e mortes"
  • Ela ainda faz um paralelo com a Microsoft, sugerindo que Gates não entende tecnologia da própria empresa e que está "vendendo um produto cheio de bugs, causando prejuízos massivos e lucrando com isso de forma espetacular".

Foi usada IA para alterar as falas e você pode perceber uma mudança nas expressões faciais, parecendo quebradas, e com falas para dar a entender que as palavras saíram da boca deles."
Nina da Hora, cientista da computação

Nina disse que já tinha pesquisado e visualizado usuários do Twitter e TikTok que tinham repostado o vídeo falso, chegando ao perfil do TikTok @bdti989. Segundo Nina, o usuário chegou a postar no perfil uma gravação em que afirmava ter criado o vídeo viral com ferramentas de IA para deep fake, mas depois apagou a publicação.

"Como qualquer um pode ver, os lábios e o som não estão 100% sincronizados."
@bdti989, em resposta ao UOL Confere

O perfil alega que a finalidade da publicação era educacional, para "conscientizar os perigos que a inteligência artificial pode causar no mundo".

Há também outras deep fakes na página dele. Em uma delas, uma imagem de Joe Biden diz conteúdos sexuais. Em outra, Vladimir Putin aparece cantando. Ambos possuem hashtags pontuando que o conteúdo é "humorístico".

Os aplicativos de deepfake geralmente precisam fazer modificações nas bocas dos personagens alvos da desinformação, tornando as imagens distorcidas.

"Essas mídias sintéticas são projetadas para parecer reais e são criadas por algoritmos de treinamento em grandes conjuntos de dados existentes, como imagens, vídeos e gravações de áudio."
Nina da Hora, cientista da computação

O resultado é um conteúdo ideal para manipular ou enganar as pessoas, fazendo parecer que alguém disse ou fez algo que não fez.

Como foi a entrevista verdadeira?

A vacina contra covid-19 não foi abordada na entrevista original.

Em uma busca pelas palavras-chave Bill Gates, 7.30 e interview (entrevista, em inglês), é possível encontrar um post no perfil do Twitter @abc730, de 30 de janeiro anunciando a entrevista. Na mesma data, o site da ABC News divulgou uma matéria com a íntegra do vídeo original. O canal do Youtube da ABC News Australia também publicou a entrevista inteira. Assista:

Ferguson e Gates falam sobre:

  • Novas ferramentas de inteligência artificial;
  • Mudança climática;
  • Filantropia;
  • Desinformação;
  • Jantares que Gates teve com Jeffrey Epstein, bilionário americano acusado de tráfico sexual de menores que se suicidou na prisão aguardando o seu julgamento.

Vacina contra covid-19 é segura

A afirmação de que as vacinas contra a covid-19 têm bugs e causam efeitos colaterais é falsa e desinforma sobre a segurança da imunização.

O CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) e o FDA (Federal Drug Administration), agências dos EUA, seguem reforçando a eficácia e segurança das vacinas contra covid-19 (aqui, em inglês). Além de também publicarem em seus sites oficiais novos resultados de estudos sobre o assunto (aqui, em inglês).

A OMS também recomenda que o público "tome todas as doses da vacina contra a covid-19 recomendadas pela sua autoridade de saúde assim que for a sua vez, incluindo uma dose de reforço, se recomendado" (aqui, em inglês).

A recomendação do CDC é de que todas as pessoas com 6 meses de idade ou mais se mantenham com a vacinação atualizada (aqui, em inglês). O site da agência informa que os efeitos colaterais são raros e que os benefícios da vacinação superam quaisquer possíveis riscos (aqui, em inglês).

O conteúdo também foi checado por Fato ou Fake (aqui), Estadão (aqui) e AFP (aqui), além de AP News (aqui, em inglês) e Newschecker (aqui, em inglês).

Sugestões de checagens também podem ser enviadas para o email uolconfere@uol.com.br.

Fabíola Cidral conta como reconhecer logo de cara uma fake news

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