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"Conseguimos algumas migalhas", diz representante da Polícia Civil do Rio após suspensão da greve

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

14/02/2012 16h01

O presidente do Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol-RJ), Fernando Bandeira, afirmou que a curta paralisação das entidades de classe da segurança pública do Rio --que durou apenas quatro dias-- garantiu aos grevistas "algumas migalhas".

Bandeira se referia à proposta do governo do Estado de antecipação dos reajustes salariais aprovados em 2010. A greve foi suspensa na segunda-feira (13).

"Foi positiva, sim, porque algumas migalhas foram aprovadas. Além do reajuste de salário, a questão da carga horária de trabalho, por exemplo, ainda vai ser examinada. Os policiais trabalham muito mais do que 40 horas semanais. Essas migalhas já são alguma coisa", afirmou Bandeira.

A deliberação a respeito da suspensão da greve foi definida em uma assembleia conjunta de policiais civis, PMs e bombeiros, que compreendem que o movimento se tornou insustentável em razão das centenas de prisões de lideranças dos militares e daqueles que se recusaram a trabalhar. Segundo Bandeira, a dura resposta do governo do Estado surpreendeu os grevistas.

"A mensagem do governo estadual foi pior do que nós imaginávamos. Não pensamos que, depois do episódio da invasão ao quartel central do Corpo de Bombeiros [quando 439 militares foram presos e posteriormente anistiados], isso aconteceria. Os homens presos são pais de família e estão junto com bandidos de maior periculosidade em Bangu 1", disse.

O presidente do Sinpol argumentou que a interrupção do estado de greve simboliza uma mudança de foco do movimento, cuja prioridade será reivindicar a soltura dos praças e oficiais que ainda estão presos. Além disso, a decisão foi tomada "em respeito à população e ao Carnaval".

"Em respeito à população, ao turismo que cresce muito no Carnaval e em respeito aos nossos heróis, a greve está suspensa. Mas o nosso movimento não vai parar até que todos estejam soltos", disse.

Bandeira esclareceu que a retomada ou não da paralisação será definida em uma nova assembleia conjunta em praça pública, a ser agendada após o Carnaval.

Grevistas reclamam de perseguição

Segundo membros do movimento conjunto de policiais civis, PMs, bombeiros e agentes penitenciários, o governo do Estado está "jogando sujo" para sufocar a mobilização das forças de segurança pública do Rio e reprimir os principais porta-vozes do movimento. A tática do Executivo fluminense incluiria a infiltração de agentes do Serviço Reservado da PM (P-2). O governo estadual e a Polícia Militar não comentam o assunto.

"Nas assembleias, nos encontros, nas passeatas, sempre há policiais P-2 nos vigiando e trabalhando para identificar aqueles que eles rotulam como líderes dessa luta", disse a esposa de um bombeiro preso e que preferiu não se identificar.

Em nota divulgada nesta segunda-feira (13), após a assembleia que definiu a suspensão da greve, a união das entidades de classe da segurança pública definiu os praças e oficiais que foram detidos desde a semana passada como "presos políticos".

"No ano passado, 439 homens foram presos arbitrariamente em um quartel. Agora temos homens do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar presos no sistema prisional de Bangu 1 de forma ilegal e covarde. São presos políticos sem direito a uma ligação para a família. (...) É preciso esclarecer que nunca houve nem nunca haverá líderes. Existem porta-vozes", explica a nota lida pela esposa de um bombeiro preso em Bangu 1, identificada como Ana Paula Matias.

Segundo membros do movimento, uma das deliberações da última assembleia foi a de que os militares cujos nomes já figuraram na imprensa na condição de líderes da greve não deem mais entrevistas ou façam qualquer tipo de aparição midiática.

A partir de agora, as notificações devem ser feitas pelas esposas dos bombeiros e dos policiais militares.

Problemas no interior

Nesta segunda-feira (13), o chefe da Comunicação Social da Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro, coronel Frederico Caldas, disse que o número de policiais faltosos no Estado é muito pequeno e não difere das ausências rotineiras. Caldas informou que hoje não foram registrados casos de insubordinação.

No primeiro dia de greve, problemas chegaram a ser registrados em algumas cidades do interior, como Volta Redonda, onde os policiais se recusaram a fazer patrulhamento, e Campos, onde os soldados se recusaram a trabalhar com as viaturas que estavam com documentação irregular. Mas, depois disso, segundo o coronel, não houve novos problemas.

“Não podemos falar em greve hoje, quando não temos nenhum serviço da PM interrompido. Falar em greve é um exagero. Os casos pontuais foram prontamente e severamente combatidos. Aqueles que se recusaram [a cumprir seu trabalho] foram presos e autuados. A vida segue. Nesta semana, já estamos trabalhando para fazer o esquema de segurança do Carnaval. Os eventos do final de semana foram todos cobertos sem problema”, disse.

Segundo Caldas, 129 policiais militares que aderiram à greve na sexta-feira (10), em Volta Redonda, no sul fluminense, foram autuados e serão transferidos para outros batalhões.

Já em Campos, no norte do Estado, o problema foi contornado com o envio de novas viaturas, com documentação regularizada, para o batalhão. Agentes do Departamento de Trânsito (Detran) também foram ao município para regularizar os demais carros.

A Secretaria Estadual de Defesa Civil também informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a rotina do Corpo de Bombeiros hoje está normal. Não houve faltas de bombeiros e os serviços não foram afetados.