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MST faz bloqueios simultâneos em rodovias pelo país; Anhanguera é fechada em SP

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

17/04/2012 09h34Atualizada em 17/04/2012 11h09

No segundo dia de ações do “Abril Vermelho”, integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) realizaram “trancaços” simultâneos em várias rodovias e estradas vicinais do país nesta terça-feira (17).

O movimento cobra punição aos responsáveis pelo Massacre de Eldorado do Carajás (PA), que hoje completa 16 anos.

As vias foram bloqueadas por volta das 9h, por 21 minutos, em referência às 21 vítimas do massacre, segundo contabilização do movimento --para a polícia paraense, foram 19 mortos.

Em São Paulo, os manifestantes bloquearam a rodovia Anhanguera no km 27, na chegada à capital, nos dois sentidos. A interdição foi mais longa do que o previsto e durou 35 minutos. Segundo o movimento, a mesma rodovia foi bloqueada em Hortolândia e em Ribeirão Preto. Também houve “trancaços” na rodovia Marechal Rondon e no Pontal do Paranapanema.

O bloqueio no km 27 da Anhanguera começou por volta de 8h15. Cerca de 400 manifestantes fizeram um ato, com faixas e alegorias, para lembrar as vítimas do massacre.

A escola de samba Unidos da Lona Preta, ligada ao MST, também se apresentou enquanto a rodovia ficou bloqueada. Os ativistas distribuíram aos motoristas alimentos produzidos na Comuna Irmã Alberta, que fica perto da Anhanguera.

O bloqueio provocou longas filas de congestionamento, o que irritou alguns motoristas e motociclistas. Não houve, entretanto, registro de violência. Também na manhã de hoje o MST realizou ocupações de fazendas em diversos Estados.

As ações exigem que as vítimas do massacre sejam indenizadas pelas sequelas e mutilações sofridas, já que, segundo o movimento, a maior parte dos sobreviventes ainda não recebe indenização.

Dos 154 policiais militares indiciados pelo massacre na época, apenas dois foram condenados: o coronel Mário Collares Pantoja e o major José Maria. Ambos foram condenados no Tribunal do Júri, mas recorreram em instâncias superiores e respondem em liberdade. O último recurso aguarda julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal).

Segundo dia de manifestações 

Ontem (17), o MST realizou ações 46 ocupações de terra e prédios públicos em 17 Estados e também no Distrito Federal, onde 1.500 de manifestantes ocuparam o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para exigir que o governo federal cumpra as promessas que fez ao sem-terra em agosto do ano passado.

O ministro Pepe Vargas declarou que só conversará com o movimento quando o prédio for desocupado.

Minas Gerais

Em Minas Gerais, cerca de 200 integrantes do MST, do Movimento dos Atingidos por Barragens e CPT (Comissão Pastoral da Terra) fecharam a BR-365, em Jequitaí, norte do Estado. Eles protestam contra a violação dos direitos humanos em projetos estatais na região, como o Jequitaí e do Gorutuba, desenvolvidos pela Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba). Os trabalhadores também reivindicam assentamentos de famílias acampadas e ações contra a violência no campo.

Nordeste

No Nordeste, o MST também realiza uma série de bloqueio em rodovias. Em Sergipe, os trabalhadores fecharam 13 rodovias por 21 minutos, em memória de cada um dos mortos no massacre de Eldorado dos Carajás. Em Alagoas, foram 16 rodovias fechadas, enquanto em Pernambuco o MST informou que foram 15 pontos interditados.

Reforma agrária

Dados do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) apontam que o número de desapropriações de terra para fins de reforma agrária no primeiro ano do governo Dilma Rousseff foi o menor dos últimos 16 anos.

Segundo o MST, o Ministério do Planejamento decidiu, em abril, cortar 60% dos recursos do Incra, o que, segundo o movimento, impedirá novas desapropriações e investimentos em programas de assistência técnica e de educação nos assentamentos. Os sem-terra querem que o orçamento do Incra seja reposto e pedem uma audiência com a presidente Dilma Rousseff.

O MST reivindica ainda um plano emergencial para assentar 186 mil famílias acampadas pelo país e a criação de um programa de desenvolvimento dos assentamentos, com investimentos em habitação rural, educação, saúde e crédito agrícola.