Topo

Com ou sem explosões, Rio é a cidade que apresenta maior número de bueiros por domicílio

Artistas fazem intervenções em bueiros de Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro, após explosões - Rafael Andrade/Folhapress
Artistas fazem intervenções em bueiros de Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro, após explosões Imagem: Rafael Andrade/Folhapress

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

25/05/2012 10h01Atualizada em 25/05/2012 16h33

Dos municípios brasileiros com mais de 1 milhão de habitantes, o Rio de Janeiro é o que possui o maior percentual de bueiros e/ou bocas de lobo por casas: 84,6%. O levantamento de características urbanas "desejáveis" no entorno das residências brasileiras, divulgado nesta sexta-feira (25), faz parte do conjunto de dados coletados para o Censo Demográfico 2010.

O índice constatado na pesquisa inédita do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que a capital fluminense está mais de 43% acima da média nacional. Em segundo lugar, com apenas três décimos percentuais a menos, está Curitiba.

A cidade de São Paulo, por sua vez, ocupa apenas a nona colocação no ranking, com 52%, sendo superada a nível estadual por Campinas (58,6%). Já o município com a menor incidência de bueiros/bocas de lobo por domicílios é Fortaleza, que tem apenas 16,5%.

De acordo com a técnica de geografia do IBGE Daléa Antunes, uma das responsáveis pela análise dos dados, a quantidade de bueiros/bocas de lobo em uma determinada cidade está diretamente associada a questões geográficas e climáticas.

"Bueiro é uma variável que precisa ser relativizada. Em uma região de clima úmido, por exemplo, ou quando há relevo de baixada, é esperado que o número de bueiros seja maior por conta do sistema de drenagem. Já as cidades mais onduladas, a exemplo de Belo Horizonte, podem usufruir desse sítio urbano, o que torna desnecessária a instalação de bueiros em algumas regiões", explicou a técnica do IBGE.

"Não só a topografia da cidade deve ser levada em consideração, mas também a questão do clima. Regiões nas quais o clima é mais árido e há menos umidade necessitam de menos bueiros em comparação com as demais regiões do país", completou.

No caso do Rio, segundo Antunes, o fato de o município contar com várias "regiões de aterro" pode ter influenciado o planejamento da infraestrutura urbana no começo do século 20. A pesquisa do IBGE não levou em conta fatores relacionados ao estado e manutenção dos bueiros e/ou bocas de lobo (tampões laterais, que ficam juntos ao meio-fio).

Ironicamente, há pouco tempo, a capital fluminense chegou a ser apelidada de "campo minado" em função de uma série de explosões de bueiros e galerias subterrâneas, o que levou a Prefeitura do Rio a adotar medidas emergenciais --incluindo a contratação sem licitação de uma empresa que ficou responsável pelo monitoramento técnico-- para resolver o problema.

Além disso, as concessionárias de fornecimento de energia elétrica (Light) e distribuição de gás (CEG) foram obrigadas pelo Ministério Público a assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que previa multas de R$ 100 mil a cada explosão. As empresas também são obrigadas a reparar e modernizar a obsoleta estrutura de galerias subterrâneas da cidade até julho deste ano.

SUSTO

  • Bueiro explode em Copacabana, na zona sul do Rio

Bueiros bombas

A última ocorrência envolvendo os "bueiros bombas" do Rio se deu em janeiro deste ano, quando explodiram três tampões da Light situados na rua Erasmo Braga, em frente ao prédio do Tribunal de Justiça. Uma mulher que transitava pelo local sofreu queimaduras leves. Além disso, um automóvel que estava estacionado foi completamente destruído.

Até fevereiro, quando o trabalho de monitoramento era coordenado pela Secretaria Municipal de Conservação, foram realizadas em seis meses mais de 40 mil vistorias na infraestrutura subterrânea da cidade.

Os técnicos encontraram pelo menos 314 bueiros com 100% de chance de explosão --risco calculado a partir da hipótese de que alguma centelha possa ser acesa nas proximidades dos bueiros.

Em todos os casos, foram acionados os protocolos de emergência, e notificações foram enviadas para a Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico (Agenersa). O monitoramento contemplou quase 30 bairros em diferentes regiões da cidade.

O estudo

DOMICÍLIOS PESQUISADOS

  • 3.365.859

    SÃO PAULO

     

  • 1.883.636

    RIO DE JANEIRO

     

  • 688.845

    FORTALEZA

     

  • 559.685

    CURITIBA

     

  • 329.069

    CAMPINAS

     

Fonte: IBGE

    De acordo com o IBGE, o volume "Características urbanísticas do entorno dos domicílios", um dos segmentos do Censo Demográfico 2010, tem o objetivo de quantificar e especificar a infraestrutura urbana no país, com destaque para aspectos como circulação e meio ambiente.

    As informações foram levantadas em praticamente todas as áreas urbanas brasileiras. "Os dados apresentados são estratégicos para a elaboração de políticas públicas, principalmente no nível municipal, servindo de referência para a introdução de novos modelos de gestão do território", avalia a presidente do IBGE, Wasmália Bivar.

    Em 2010, 84,4% da população brasileira --que foi estimada em 190.732.694 pessoas, segundo dados do Censo 2010-- ocupavam as áreas urbanas. Os pesquisadores utilizaram como recorte espacial os quarteirões no entorno de 96,9% dos domicílios brasileiros.

    A meta seria refletir "as condições de circulação nas vias públicas, a infraestrutura urbana disponível e o ambiente onde vivia esta população", de acordo com o instituto.