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Com onda de homicídios, governador de Alagoas cobra Dilma e diz não suportar mais conviver com violência

Localização de Maceió, capital de Alagoas - Arte UOL
Localização de Maceió, capital de Alagoas Imagem: Arte UOL

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

29/05/2012 06h00

Contratação de militares, compra de carros policiais, bonificação por apreensão de armas, criação do policiamento comunitário. Essas foram algumas ações que o governo de Alagoas adotou nos últimos meses para tentar frear a escalada da violência, mas o resultado se mostrou “insuficiente.” A afirmação foi do próprio governador do Estado Teotonio Vilela Filho (PSDB) nesta segunda-feira (28) em meio à repercussão causada pela morte do médico José Alfredo Vasco Tenório, 67, assassinado com um tiro nas costas no último sábado (26).

Em entrevista a rádio Jovem Pan Maceió, Vilela disse que fez o "possível" para tentar conter a escalada da violência, mas não conseguiu obter o resultado esperado. Vilela cobrou --de forma enérgica-- ações do governo federal em Alagoas e afirmou que não suporta mais conviver com a situação de violência no Estado, que registra a maior taxa de homicídios do país.

“Estou muito indignado. Não consigo mais conviver com essa situação. Amanhã [terça-feira, 29] vou a Brasília me reunir com a bancada federal, com o ministro da Justiça [José Eduardo Cardozo], com a ministra da Casa Civil [Gleisi Hoffmann]. Esse processo é difícil em qualquer Estado da federação. Não me afasto um milímetro da minha responsabilidade, mas todos têm de dar a sua contribuição, fundamentalmente o governo federal e as prefeituras.”

O governador contou que, ontem, procurou a presidente Dilma Rousseff e teve uma conversa com ela para pedir uma ação mais efetiva do governo federal, assim como ocorre no Rio de Janeiro --que tem taxa de homicídio de 26,2 para cada 100 mil habitantes, contra 66,8 de Alagoas, segundo dados do Mapa da Violência 2012.

“Falei de manhã com a presidente Dilma, a quem escrevi uma carta há 10 dias relatando isso que estou dizendo [problemas da segurança]. Disse a ela que Alagoas tem um papel muito importante, que não fujo da minha responsabilidade disso, mas preciso de ajuda. Ela não está ajudando o Rio de Janeiro? Tudo bem que lá tem Rio+20, Copa do Mundo, Olimpíadas. Mas aqui em Alagoas tem gente que chora, que sofre, que está angustiada com essa situação. Ela se mostrou sensível e me chamou a Brasília para uma reunião para discutir alguns pontos dessa carta”, disse.

O governador ainda fez um apelo para que governo federal “não abandone” Alagoas nesse momento e cumpra com o seu papel federativo. “São muitas ações que estão sendo feitas: polícia comunitária, ronda cidadã, chamamos a reserva técnica, compramos viaturas, mas não é suficiente. E eu preciso muito do apoio do governo federal. Eu já disse ao ministro: eu quero ser fiscalizado, monitorado, auditado, mas não posso é ficar sozinho. Alagoas está com as contas arrumadas, mas é um Estado pobre”, alegou.

Sem dinheiro

Segundo Teotonio Vilela Filho, o Estado sofre com a falta de recursos para superar o problema da violência, que necessita de investimento. Entre as ações necessárias para melhorar a ação contra a criminalidade em Alagoas, o governador citou reforço do efetivo federal no Estado.

 “Alagoas não produz o crack, que vem todo de outros Estados. É preciso reforçar o contingente da Polícia Federal em Alagoas, que é pequeno demais. Precisa ampliar o contingente da Força Nacional. Precisamos de mais para policiar a fronteira para evitar a chegada do crack. É preciso também que o município dê a sua contribuição, que as ruas estejam iluminadas, que os becos onde não entram as viaturas, passem a ter acesso. É preciso botar para funcionar essas áreas de lazer para que os jovens tenham lazer, de uma forma construtiva”, alegou.

Mudança de plano

Em março, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse, durante visita a Maceió, que os Estados terão planos individualizados e serão convocados a assinar um novo pacto e cumprir metas pré-estabelecidas pelo ministério. Segundo ele, a proposta de mudança é motivada pelos resultados insatisfatórios apresentados por alguns Estados, que estariam usando os recursos repassados pela União de maneira insatisfatória.

“Nós temos que mudar um pouco a ótica de como estamos vendo o problema. Até agora, a União atuou apenas como repassador de recursos para os Estados. Mas muitas vezes nós sentimos que os recursos não são utilizados na condição adequada. Em alguns Estados, o governo federal aplica os recursos, e os governadores retiram os seus recursos, substituindo o dinheiro por aquele do governo federal. Daqui pra frente nós vamos fazer um plano de segurança para cada Estado e vamos, a partir daí, alocar recursos com fixação de metas, onde o governo federal não será um mero repassador, mas efetivamente um indutor de política de segurança”, argumentou.

Dados

Segundo o Mapa da Violência 2012, feito pelo Instituto Sangari e adotado pelo Ministério da Justiça como índice oficial de assassinatos, o Brasil registrou no ano passado média de 26,2 homicídios para cada 100 mil habitantes. Já Maceió tem a maior taxa de do país entre as capitais, com 109,9 homicídios por 100 mil habitantes. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a partir de 10 assassinatos para cada 100 mil pessoas, a violência já é considerada em “nível epidêmico.”

O primeiro caso aconteceu no dia 14, quando o empresário José Ednaldo Brandão, 67, foi morto dentro do estacionamento de um supermercado, após ser abordado por dois homens, durante assalto, ainda no interior do seu carro.

Neste sábado (26), o médico José Alfredo Vasco Tenório, foi morto com um tiro enquanto fazia um passeio de bicicleta no corredor Vera Arruda, praça localizada na orla de Maceió. O médico teria tentado fugir, após ser abordado por dois homens, e acabou levando um tiro de pistola nas costas.

Em 2012, segundo dados do contador de homicídios do site Alagoas 24 Horas, mais de 800 pessoas já foram assassinadas. Este mês, dois casos de latrocínio causaram grande indignação, os dois no bairro nobre da Jatiúca.