"Voltei correndo", diz moradora da favela do Moinho ao saber que casa estava pegando fogo
"Acordei cedo, às 6h15, para levar as crianças na creche. Voltei correndo quando avisaram que minha casa estava pegando fogo". O depoimento é da moradora da favela do Moinho, Rafaela Jesus Melo Vieira, 22, auxiliar de limpeza, ao comentar o incêndio desta manhã no local.
O incêndio, num ponto embaixo do viaduto Engenheiro Orlando Murgel, no bairro de Campos Elíseos, região central de São Paulo, começou por volta das 7h e foi controlado às 8h30 pelo Corpo de Bombeiros. Vinte carros de bombeiros e 70 homens estiveram no local. Os bombeiros confirmaram a morte de uma pessoa.
A vizinha de Rafaela, Silvana Melo Vieira, 39, auxiliar de cabeleireiro, lamentava o prejuízo em mais um incêndio no Moinho. "Perdi geladeira, fogão, guarda-roupa... Perdi tudo", disse Silvana.
"Tinha acabado de sair para trabalhar quando minha filha me avisou do fogo. Ela estava em casa, e como trabalho perto, voltei correndo", conta entre lágrimas a ajudante de cozinha, Mariângela dos Santos Soares, 44, que mora na favela com as duas filhas menores. Na hora do incêndio, apenas uma das filhas estava em casa.
"Graças a Deus minha filha não se machucou, se salvou. Mas agora não tenho mais nada, não sei o que vai ser de mim agora".
Mariângela estava no incêndio do ano passado, mas sua casa não foi atingida. No entanto, ela diz que a situação foi horrível.
Assim como a filha de Mariângela, Bárbara Ellen Salles, 21, que vive de bicos, estava em casa na hora do incêndio. "Estava dormindo e me assustei quando ouvi o pessoal gritar fogo. O rapaz que mora comigo me alertou também. Foi o tempo de pegar minha mochila e sair correndo", conta a moradora.
"Minha mochila já estava pronta com uma muda de roupa e documentos para o trabalho. Não sei o que sobrou da minha casa, que tinha guarda-roupa, geladeira, fogão, o básico".
Camila dos Santos, 24, foi até o local para ver se amigos e parentes estavam feridos. Ex-moradora da favela do Moinho, ela deixou o local no ano passado, após um incêndio em dezembro, e foi morar em um local próximo com o marido e o filho. A nova moradia cujo aluguel é de R$ 600, é paga com ajuda do auxílio-aluguel de R$ 450, pago pela prefeitura.
"Eu perdi tudo e a ajuda da prefeitura não é suficiente", disse.
“Agora os moradores devem obedecer às recomendações dos bombeiros. Não retornem neste momento para as suas casas”, disse o capitão do Corpo de Bombeiros, Renato de Natale Júnior, em entrevista à Globo News. Segundo o capitão, o trabalho de rescaldo deve durar de três a quatro horas.
De acordo com Ricardo Perrone, jornalista do UOL que mora em um edifício na região, o local está um "caos". "Tem muita gente na rua, muito trânsito. Tive de sair do apartamento porque estava muito quente. Há muita fumaça e é difícil de enxergar. O fogo parecia coisa pequena, mas em cinco minutos se alastrou numa proporção gigantesca. Alguns moradores da favela ajudam os bombeiros com mangueiras. A avenida Rio Branco aqui está interditada. Estamos com medo de que o fogo chegue aqui no prédio", disse.
VEJA O LOCAL DO INCÊNDIO
Incêndio em 2011
No dia 22 de dezembro do ano passado, um incêndio de grandes proporções destruiu parte da favela do Moinho. O fogo começou em um prédio abandonado de quatro andares. Segundo o Corpo de Bombeiros, em menos de meia hora, o incêndio devastou um terço da comunidade, onde moravam cerca de 600 pessoas. O local afetado tinha 6.000 m². Duas pessoas morreram e dezenas de famílias ficaram desabrigadas.
A área onde está a favela do Moinho vem sendo alvo de disputas judiciais entre a prefeitura e os moradores nos últimos anos. Enquanto a administração municipal tenta desapropriar a área e utilizá-la para outros fins, os moradores buscam conquistar o direito de permanecer no local.
Outros casos
Na última segunda-feira (3), um incêndio de grandes proporções atingiu a favela morro do Piolho, na zona sul da capital paulista, deixando 285 famílias desabrigadas --o equivalente a cerca de 1.140 pessoas, segundo informações da Defesa Civil.
Quatro dias depois, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, declarou que o fogo pode ter sido intencional. "Lá existe até a suspeita de que o incêndio possa ter sido provocado, como, aliás, foi identificado em outros casos", disse.
Por sua vez, o Ministério Público de São Paulo investiga se a série de incêndios ocorridos desde janeiro deste ano em favelas da capital paulista tem relação com o interesse do setor privado ou do setor público em construir nas áreas de entorno dessas comunidades.
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