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Outro ônibus é incendiado em Santa Catarina; transporte coletivo é interrompido em parte de Florianópolis

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Florianópolis (SC)

14/11/2012 21h45

A violência em Santa Catarina continua pela terceira noite consecutiva. Mais um ônibus foi incendiado às 20h desta quarta (14), na praia dos Ingleses, na região norte de Florianópolis. As companhias de ônibus Canasvieiras, Insular, Emflotur e Transol cancelaram os serviços ao norte da ilha nesta quarta-feira (14). Os motoristas se negaram a sair dos terminais.

A PM prendeu dois menores suspeitos pelo crime. Não houve feridos. O atentado ocorreu no mesmo local de dois ataques anteriores a ônibus, nas proximidades da favela do Siri, ocupada à tarde pela polícia.

O ataque veio menos de uma hora depois que o governador Raimundo Colombo (PSD) anunciou a demissão do diretor do presídio de segurança máxima de São Pedro de Alcântara, Carlos Alves.

A saída dele foi um sinalização de trégua entre governo com os lideres da facção criminosa PGC (Primeiro Grupo Catarinense) que exigiam sua demissão.

Entre os motivos, estavam o corte de regalias impostos por Alves a condenados e denúncias de torturas --que são apuradas pela Corregedoria do Tribunal de Justiça.

Segundo a polícia, detentos coordenaram de dentro do presídio os 23 ataques --com o de agora à noite-- em seis cidades durante três dias, desde segunda (12).

Mulher de diretor de presídio foi morta

Os atentados começaram em 26 de outubro, com o assassinato da mulher de Carlos Alves, Deise. Ela foi morta quando chegava em casa com um tiro pelas costas. Na ocasião, a versão oficial foi de incidente isolado.

Por alguns dias, Alves ficou afastado, mas reassumiu o cargo no início do mês.

Desde então, já enfrentou duas acusações de torturas e maus-tratos, que supostamente seriam excessos cometidos na investigação da morte de sua mulher.

A primeira denúncia foi investigada pela Corregedoria do Tribunal de Justiça, no dia 8, sem conclusão.

A segunda foi ontem (13). Desta vez, o denunciante foi o preso Rodrigo de Oliveira, 32, condenado por tráfico. Um exame médico realizado ontem comprovou que ele tem lesões compatíveis com chutes e coronhadas.

O diretor do Deap (Departamento de Administração Prisional), Leandro Lima, defendeu o subordinado Alves e negou que aconteçam torturas na cadeia.

Foi entre as acusações que os principais ataques aconteceram - disparos contra delegacias e postos policiais e incêndio de ônibus, na segunda (12). Por enquanto, não houve feridos.

Na terça (13), o governo do Estado e a cúpula da segurança pública ainda mantinham a versão de que eram ataques isolados. A força dos 16 ataques derrubou a tese, com a admissão que eram crimes coordenados.

Faltava saber por quem e de onde. A demissão de Alves indica aquilo que já se sabia nos bastidores das investigações: as ordens vinham de dentro do presídio de São Pedro, em represália pela atuação dele na instituição.

A cadeia tem 1.200 presos. O sistema prisional catarinense tem 17 mil condenados, mas capacidade para apenas 11 mil.

Para piorar, existem 10 mil mandados de prisão em aberto - muitos deles de criminosos que estão nas ruas e agem comandados por chefes presos.

A existência de uma facção criminosa comandando a violência também era negada pelo governo. Agora, é reconhecida. Os nomes mais investigados como responsáveis pelas ordens dos ataques são os presos conhecidos como Cartucho e Derú.

No ano passado, o Deap já tinha pedido, sem sucesso, a transferência de 40 dos mais perigosos chefes para cadeias federais, percebendo o crescimento do PGC. Na versão oficial, era mantida a inexistência dela.

Segundo policiais falando na condição de anonimato, entre os motivos para o governo negar a existência das facções nas cadeias do Estado estaria a imagem do turismo de Santa Catarina, cujo verão atrai gente de todo Brasil com ênfase na segurança de suas cidades de praia.