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Em terceira noite de ataques, SC tem um ferido e seis ônibus incendiados

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Florianópolis (SC)

15/11/2012 02h46Atualizada em 15/11/2012 04h34

Um motorista ficou ferido depois que criminosos atearam fogo em um ônibus em Palhoça, na Grande Florianópolis (Santa Catarina), nesta terceira noite consecutiva de ataques violentos na região.

Por volta das 23h desta quarta-feira (14), bandidos invadiram o ônibus, ordenaram aos passageiros que saíssem do veículo e atearam fogo, antes de fugir. O motorista do veículo, que teve dificuldades para livrar-se do cinto de segurança, sofreu queimaduras leves. Este é o primeiro registro de caso envolvendo vítimas desde que os ataques começaram, na segunda-feira (12). 

Também por volta das 23h, outro ônibus foi incendiado em Gaspar, no Vale do Itajaí. Segundo a PM, um grupo de quatro pessoas em duas motos pediu parada ao motorista no ponto final do ônibus, na altura da rua Ernesto Ceci. Armados, os criminosos obrigaram motorista, cobrador e passageiros a descerem do veículo e atearam fogo. Ninguém foi preso.

Só nesta quarta-feira (14), cinco ônibus, dois carros e uma creche foram incendiados, e uma base da Polícia Militar foi alvejada pelos bandidos, elevando para 30 o número total de atentados. Este tipo de violência urbana é inédito no Estado de Santa Catarina.

Força-tarefa policial

Uma força-tarefa policial está nas ruas tentando prevenir os ataques. A polícia acredita que os mandantes da violência são bandidos presos na penitenciária São Pedro de Alcântara que estão agindo em represália pelas más condições carcerárias. 

Na tarde desta quarta-feira (14), o governo do Estado anunciou a troca de comando da cadeia, numa tentativa de inibir a violência. A saída do diretor do presídio, Carlos Alves, foi um sinalização de trégua entre governo com os lideres da facção criminosa PGC (Primeiro Grupo Catarinense), que exigiam sua demissão.

Entre os motivos, estavam o corte de regalias impostos por Alves a condenados e denúncias de torturas --que são apuradas pela Corregedoria do Tribunal de Justiça. Contudo, menos de uma hora depois da medida ter sido anunciada os ataques recomeçaram. Um ônibus foi incendiado na praia dos Ingleses, no norte de Florianópolis. Dois carros que estavam próximos também pegaram fogo.

Colapso no sistema de transporte

Em consequência, o sistema de transporte coletivo da ilha entrou em colapso. Nos terminais, motoristas amedrontados suspenderam as viagens. A PM escoltava os ônibus cujos motoristas ousavam fazer as viagens para a ponta norte da capital.

Dois menores foram presos acusados pelo crime e levados à 6ª delegacia. Em Gaspar, na região de Blumenau (125 km de Florianópolis), outro ônibus foi incendiado, às 23h. Na Cachoeira do Bom, próximo à praia dos Ingleses, uma escola abandonada foi incendiada por volta das 21h30. Em Tijucas, 40 km ao norte de Florianópolis, dois ônibus foram atacados. Um deles era da Secretaria de Educação de cidade de Porto Belo. O outro era de transporte coletivo. Em São José, na Grande Florianópolis, dois homens numa motocicleta atiraram na base da PM dentro do shopping Itaguaçu, quebrando vidraças.

Mulher de diretor de presídio foi morta

Os atentados começaram em 26 de outubro, com o assassinato da mulher de Carlos Alves, Deise. Ela foi morta quando chegava em casa com um tiro pelas costas. Na ocasião, a versão oficial foi de incidente isolado.

Por alguns dias, Alves ficou afastado, mas reassumiu o cargo no início do mês.

Desde então, já enfrentou duas acusações de torturas e maus-tratos, que supostamente seriam excessos cometidos na investigação da morte de sua mulher.

A primeira denúncia foi investigada pela Corregedoria do Tribunal de Justiça, no dia 8, sem conclusão.

A segunda foi ontem (13). Desta vez, o denunciante foi o preso Rodrigo de Oliveira, 32, condenado por tráfico. Um exame médico realizado ontem comprovou que ele tem lesões compatíveis com chutes e coronhadas.

O diretor do Deap (Departamento de Administração Prisional), Leandro Lima, defendeu o subordinado Alves e negou que aconteçam torturas na cadeia.

Foi entre as acusações que os principais ataques aconteceram - disparos contra delegacias e postos policiais e incêndio de ônibus, na segunda (12). Por enquanto, não houve feridos.

Na terça (13), o governo do Estado e a cúpula da segurança pública ainda mantinham a versão de que eram ataques isolados. A força dos 16 ataques derrubou a tese, com a admissão que eram crimes coordenados.

Faltava saber por quem e de onde. A demissão de Alves indica aquilo que já se sabia nos bastidores das investigações: as ordens vinham de dentro do presídio de São Pedro, em represália pela atuação dele na instituição.

A cadeia tem 1.200 presos. O sistema prisional catarinense tem 17 mil condenados, mas capacidade para apenas 11 mil.

Para piorar, existem 10 mil mandados de prisão em aberto - muitos deles, de criminosos que estão nas ruas e agem comandados por chefes presos.

A existência de uma facção criminosa comandando a violência também era negada pelo governo. Agora, é reconhecida. Os nomes mais investigados como responsáveis pelas ordens dos ataques são os presos conhecidos como Cartucho e Derú.

No ano passado, o Deap já tinha pedido, sem sucesso, a transferência de 40 dos mais perigosos chefes para cadeias federais, percebendo o crescimento do PGC. Na versão oficial, era mantida a inexistência dela.

Segundo policiais falando na condição de anonimato, entre os motivos para o governo negar a existência das facções nas cadeias do Estado estaria a imagem do turismo de Santa Catarina, cujo verão atrai gente de todo Brasil com ênfase na segurança de suas cidades de praia.