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Disputa por água de açude causa tensão e cria conflito entre cidades no sertão do Ceará

Açude tem 111 milhões de metros cúbicos, mas está com cerca de 15% de sua capacidade - Divulgação / Comitê pela Liberação da Água do Açude Flor do Campo Através de Adutora
Açude tem 111 milhões de metros cúbicos, mas está com cerca de 15% de sua capacidade Imagem: Divulgação / Comitê pela Liberação da Água do Açude Flor do Campo Através de Adutora

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

07/06/2013 06h00

A disputa pela água de um açude para abastecimento colocou em pé de guerra a população de três municípios do sertão cearense. O conflito envolve os municípios de Crateús, Novo Oriente e Quiterianópolis, que lutam pela água do açude Flor do Campo, localizado em Novo Oriente.

O açude --o maior da região do sertão de Crateús-- abastece hoje as cidades de Novo Oriente (por adutora) e Quiterianópolis (por carro-pipa), em situação de emergência pela seca. As duas cidades se uniram e prometem impedir, de qualquer forma, a abertura das comportas.

O governo do Estado informou que, a partir do dia 20, a água do açude deve começar a ser transposta para outro açude de Cratéus, para garantir o abastecimento daquela população. Segundo o governo, o município deve entrar em colapso no início do próximo mês.

O problema alegado pelos moradores de Novo Oriente e Quiterianópolis é que o açude tem capacidade de 111 milhões de metros cúbicos, mas está com cerca de 15% de sua capacidade --16 milhões. Desse total, 7 milhões de m³ serão liberados para Crateús, segundo o governo do Estado.

Com a transposição das águas, os moradores das duas cidades hoje abastecidas alegam que, além de haver perda de 70% do total que será retirado do açude, haverá, em breve, um desabastecimento das duas localidades.

Protestos

O anúncio do governo de abertura de comportas, no mês passado, gerou uma série de protestos da população. Temendo problemas de abastecimento num futuro próximo, moradores e autoridades se reuniram e montaram o "Comitê pela Liberação da Água do Açude Flor do Campo Através se Adutora." Uma série de manifestações está prevista.

Segundo o agrônomo Claudino Sales, a água será liberada do açude pelo leito do rio Poti. "Desse modo ocorre muita perda por infiltração, e apenas 30% do que é liberado chegará a Crateús. Queremos a liberação através de adutora, pois assim não ocorre perdas por infiltração no solo do rio que esta seco", disse.

Diante da situação, o agrônomo explicou que os moradores estão mobilizados e vão realizar manifestações na próxima semana e levar o caso ao MP (Ministério Público Estadual), por meio de um abaixo-assinado. "Vamos fazer também uma passeata. Populares afirmam que Cogerh só tira a água do açude dessa forma [sem adutora] à força", informou.

Onde fica

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    Cidades estão no oeste do Ceará

No município de Crateús, há uma grande expectativa pelo desfecho da novela. "A cidade está num clima muito grande de apreensão, mas confiante nos gestores do município vizinho e no conhecimento técnico do órgão do Estado e da Universidade Federal", disse o prefeito Carlos Felipe (PCdoB).

Para Felipe, houve manipulação da informação, que gerou a revolta "Se trabalhou muito a informação politizada, e a questão emotiva da população. Veja o problema que a falta de água geraria: somos cidades vizinhas, e aqui fazemos os partos de Novo Oriente. Como vai fazer sem água? Se fala tanto em disputa no futuro pela água, e antecipamos essa guerra", disse.

Explicação

Em nota técnica enviada ao UOL nesta quinta-feira (6), a Cogerh explicou que Crateús sofre com a seca e poderia ser abastecida, emergencialmente, por três reservatórios, mas dois deles não têm mais condições de abastecimento.

"Diante desta situação, o único reservatório capaz de transferir água para garantir o abastecimento de Crateús, pelo menos até fevereiro de 2014, seria o Flor do Campo", disse a companhia, citando que "não há outra alternativa viável como solução emergencial."

Sobre o pedido de construção de uma adutora para levar a água, a Cogerh explicou que a obra não deverá ser feita. Um estudo do órgão apontou que não haveria uma economia significativa de água nesse procedimento. Segundo a companhia, 65% da água deve chegar ao açude Carnaubal, com 35% de perda.

"Um estudo mais apurado mostrou que a diferença de reserva do açude Flor do Campo no final de 2014, comparando-se a liberação através de adutora e diretamente pelo leito do rio, não é significativa, desaconselhando o investimento estimado em cerca de R$ 11 milhões para a construção da adutora."

"As simulações mostram que a vantagem seria pequena, equivalendo ao volume de 700 mil m3 em dezembro de 2014, o que representa um ganho de apenas dois meses de reserva para o abastecimento de Novo Oriente" , informou.

Outro empecilho é tempo que a obra levaria. "Mesmo que a adutora fosse construída num prazo de 3 meses, o açude Flor do Campo ficaria sujeito, nesses meses, a uma elevada evaporação, devido a maior superfície de evaporação."

A companhia disse que, mesmo com a transposição da água, o município de Novo Oriente deverá ter o abastecimento garantido até dezembro de 2014, mesmo com a hipótese de seca.
 

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