Após tentar Congresso e Planalto, manifestantes invadem Itamaraty, em Brasília
Após tentar, sem sucesso, entrar no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto, ambos protegidos por um cordão de isolamento da Polícia Militar, um grupo de manifestantes de Brasília invadiu o Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, na noite desta quinta-feira (20). Alguns, inclusive, subiram na escultura "Meteoro", que fica dentro do espelho d'água do palácio.
Depois de cerca de meia hora, a PM conseguiu conter os manifestantes, que jogaram pedras nas vidraças do prédio, projetado por Oscar Niemeyer. Até às 20h, um manifestante havia sido preso e havia duas pessoas feridas. Também havia focos de incêndio no palácio.
Bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta foram usadas pela PM para dispersar os manifestantes.
O Itamaraty fica ao lado do Congresso Nacional, a apenas alguns metros de distância.
O confronto entre a polícia e alguns manifestantes começou por volta das 19h, quando um grupo deles começou a jogar bombinhas e rojões em direção ao cordão de isolamento que a Polícia Militar faz ao redor do Congresso Nacional -- até então, o protesto vinha sendo pacífico.
Os ativistas também provocaram os policiais jogando água do espelho d'água que fica em frente ao Congresso Nacional.
A Polícia Militar calculou o número de manifestantes em 30 mil.
A maioria dos manifestantes continua a protestar em um clima pacífico. Um grupo entrevistado pela reportagem do UOL cantava marchinhas de Carnaval no gramado do Congresso Nacional, enquanto outros comiam pipoca.
Além do cordão externo de isolamento, a PM fez um novo cordão sobre a rampa de acesso ao Congresso. A PM também impede a chegada ao Palácio do Planalto, sede do poder Executivo, e à Praça dos Três Poderes.
O policiamento foi reforçado e pelo menos quatro cachorros da polícia estão na marquise do Congresso Nacional para impedir a entrada de manifestantes. Bombeiros também se postaram sobre a laje do prédio.
Políticos hostilizados
O aglomerado de manifestantes em frente ao Congresso Nacional hostiliza, em gritos de guerra e cartazes, alguns dos políticos brasileiros. Eles cantaram o Hino Nacional e bradaram palavras de ordem contra os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Renan Calheiros (PMDB-AL), atual presidente do Senado.
O PT, partido da presidente Dilma Rousseff, também foi hostilizado: "Uh, cadê, o PT sumiu", gritaram os ativistas -- entre eles, a reportagem do UOL não localizou bandeiras de partidos.
Entre os manifestantes presentes ao ato, muitos protestam contra a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 37, que limita os poderes de investigação do Ministério Público.
É o caso dos estudantes, Lucas Sarkas, 22 anos, e Lucas Soares Neves, 20 anos. Neves disse esperar que as manifestações tenham como prioridade o combate à aprovação da PEC 37, motivo que o levou à manifestação hoje.
Hoje, o presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), afirmou que a votação da PEC 37 foi adiada e que o grupo de trabalho deve reunir-se na terça-feira (25) para definir o texto e uma nova data.
A auxiliar odontológica Máiade Assis Lepesquer, 25 anos, Veio protestar contra a corrupção e o mau uso do dinheiro público. Ela espera que o movimento, daqui para a frente, saiba se unir em torno de reivindicações únicas e um ideal comum "educação, saúde e transporte".
Entre os cartazes exibidos no ato, há dizeres contra o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, contra a PEC 37, contra a corrupção e contra a roubalheira, entre outros.
Alguns dos gritos de guerra entoados pelos manifestantes se dirigem aos policiais, como "ei, soldado, você tá do lado errado" e "ei você aí fardado, você já foi roubado". Também há brados de "sem violência" e contra a imprensa, chamada de "mídia, fascista, sensacionalista".
Quinto dia de protestos
A capital federal vive hoje o quinto dia de protestos em menos de uma semana.
O primeiro ocorreu na sexta-feira passada, na véspera do jogo de abertura da Copa das Confederações no Estádio Nacional Mané Garrincha, em que houve queima de pneus na via que fica ao lado do estádio. Cinco pessoas foram presas.
Em seguida, houve um protesto no dia do jogo entre Brasil e Japão, duramente reprimido pela Polícia Militar. Pelo menos duas manifestantes que participaram do protesto em frente ao estádio foram atingidas na cabeça por balas de borracha disparadas pela PM.
Na última segunda-feira, o maior protesto da série reuniu cerca de 10 mil pessoas, segundo a PM. Manifestantes desceram pelo Eixo Monumental e ocuparam a marquise do Congresso Nacional, onde permaneceram por cinco horas.
Ontem, o protesto reuniu cerca de 1.300 pessoas, segundo a Polícia Militar. A principal bandeira dos manifestantes, que se concentraram na rodoviária do Plano Piloto, era a tarifa zero no transporte público no DF.
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