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Manifestação em área nobre de SP reunirá vítimas de violência neste domingo

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

30/06/2013 06h00

Organizações sociais, vítimas de arrastões e de outras formas de violência e familiares realizam neste domingo (30), em São Paulo, uma manifestação pedindo melhorias na segurança pública da cidade --que só este ano, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado, teve registrados quase 70 arrastões em estabelecimentos comerciais. O ato será no Parque do Povo, no Itaim Bibi (zona oeste da capital paulista). 

Entre os participantes do evento, organizado via Facebook, estão ainda chefs e proprietários de restaurantes badalados que foram assaltados nos últimos meses, além de moradores de prédios invadidos por assaltantes.

Batizada de “Dia D pelo Fim da Violência e Impunidade", a passeata está marcada para as 10h e, até a última sexta (28), tinha confirmados mais de 36 mil participantes. Os organizadores pedem que os participantes usem roupas pretas.

No texto de divulgação, os organizadores informaram que o evento “é uma manifestação apartidária, que clama por paz” e destacaram: “Não representamos uma minoria. Somos a maioria”, para enfatizar, em seguida, que não será promovida “nenhuma ação truculenta”. Aos interessados em participar, é pedido que usem camisetas pretas.

Onda de crimes no Estado de São Paulo
Onda de crimes no Estado de São Paulo
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Dona de restaurante sofreu arrastão com casa cheia

Entre as vítimas de arrastão este ano, em São Paulo, está a a chef Danielle Dahoui, dona do restaurante Ruella. O bistrô foi invadido por três homens armados no último dia 30, no Itaim Bibi, quando ao menos 70 clientes jantavam no local. Em poucos minutos, os ladrões levaram dinheiro, celulares e relógios de 18 deles. Entre as vítimas, estava o apresentador Felipe Andreoli, do programa "CQC", da Band, que usou as redes sociais para reclamar da violência no Estado.

“Se eu ficasse quieta, seria covarde e conivente com esse quadro. Queremos que tanto o governador Geraldo Alckmin quanto o prefeito Fernando Haddad achem, conosco, uma solução, porque esse é um problema que não afeta só quem vai aos restaurantes, mas quem trabalha e sai de madrugada deles, por exemplo, e encontra iluminação pública precária ou não tem transporte”, disse.

Pernambucana radicada em São Paulo há quase duas décadas, Danielle tem outra unidade do restaurante em Pinheiros, outro bairro nobre da zona oeste paulistana, mas disse que o arrastão do mês passado foi o primeiro pelo qual passou desde que está na cidade. Um de seus funcionários, conta, ficou sob a mira de um revólver.

“Vivemos um momento de terror, com um a polícia mal armada e mal remunerada e com uma elite que muitas vezes reclama, usa carro blindado, paga as melhores escolas e hospitais, mas é inerte quando o assunto é violência. Esperamos que as pessoas deixem as reclamações do computador e protestem também na passeata”, concluiu. “Afinal, nós pagamos o salário do prefeito e do governador, pagamos altos impostos. E ouvi da polícia que são apenas dois carros para patrulhar o Itaim Bibi, a Vila Nova Conceição e a Vila Olímpia”, citou, referindo-se a bairros tradicionais em gastronomia e entretenimento e nos quais os arrastões vêm pelo menos desde 2008.

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"Não quero me fechar em casa; São Paulo é das pessoas", diz sommelier

Empresária do ramo de vinhos, a sommelier Alexandra Corvo afirmou que participará da manifestação mesmo sem nunca ter passado por uma situação de assalto. A escola em que ela dá aula a futuros profissionais da área, no Paraíso (zona sul), foi arrombada uma vez, à noite, quando não havia mais expediente no local. Bastou para que ela decidisse implantar câmeras e sistema de monitoramento.

“A gente fica com a sensação de que pode acontecer um arrastão diante dos olhos a qualquer momento; parece que é uma questão de tempo”, comentou. Alexandra é vizinha de um prédio na alameda Lorena, nos Jardins, que foi alvo de um arrastão em abril passado.

Mãe de um filho de três anos, ela desabafou: “Fiquei muito mais apavorada de sair às ruas com ele, essa sensação ganha outra dimensão nos dias de hoje. Não quero que entrem no meu apartamento e me amarrem, mas também não quero me fechar em casa e comprar carro blindado. São Paulo é das pessoas, a rua é nossa.”

Restaurante sofreu dois assaltos em menos de uma semana

Também confirmada no evento, a chef do restaurante Amici, Renata Cruz, contou que mudou a casa da Chácara Santo Antonio (zona sul) para o Itaim Bibi, em 2011, após dois assaltos em menos de uma semana.

“Os arrastões são uma parcela do problema, que, quando se trata de segurança, em São Paulo, é geral”, constata. “Por menor que seja, acredito que a população precisa fazer um barulho contra essa omissão do governo”, declarou, em relação à manifestação do dia 30.

Arrastões voltaram com força em 2013, diz federação

Para o presidente da Federação de Bares e Restaurantes do Estado de São Paulo, Edson Pinto, o setor vive uma nova onda de violência em 2013, a exemplo do que a entidade –que tem 31 sindicatos filiados em todo o Estado-- verificou em anos como 2008, 2010 e 2011.

“Neste ano os arrastões voltaram com muita força. Sabemos de ao menos 20 casos só nesses primeiros meses; em 2010 e 2011 foram mais de 50 casos. Esse movimento cíclico do crime é muito prejudicial”, declarou, para completar: “Chegamos ao ponto de o cliente não saber mais se será assaltado antes ou depois da sobremesa, e as ações estão cada vez mais violentas”.

O dirigente afirma que, somado ao endurecimento da Lei Seca, o receio de arrastões diminuiu em 35% a 40% o movimento noturno em bares e restaurantes do Estado nos últimos meses. “Queremos trazer a sociedade à reflexão, pois há muita letargia”, criticou, ele que disse também apoiar a manifestação.