Topo

Ataques no Afroreggae e caso Amarildo são "afronta ao poder público", diz novo coordenador das UPPs

Julia Affonso

Do UOL, no Rio

10/08/2013 06h00

O novo comandante das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) do Rio de Janeiro, coronel Paulo Frederico Borges Caldas, 48, que assumiu o cargo na última quinta-feira (8), se define como um profissional prático. Menos de 24 horas após sua nomeação, Caldas estava reunido com o coronel Paulo Henrique Azevedo de Moraes, 47, seu antecessor, para discutir as mudanças que serão feitas nas UPPs.

Ele assume o cargo em meio a investigações sobre a participação de policiais militares da UPP da Rocinha, zona sul da capital fluminense, no desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43, sumido desde o dia 14 de julho, ataques à sede do Afroreggae, no Complexo do Alemão, na zona norte, e a decisão sobre o local onde será implantada a próxima unidade de polícia pacificadora.

"As questões do Afroreggae no Alemão e do Amarildo acabaram acendendo uma luz vermelha. É uma afronta ao poder público. Eu acredito no programa das UPPs, e isso é fundamental”, afirmou o novo comandante ao UOL. “Mas sei da necessidade de fazer correções de rumo, não é um programa perfeito. Em breve, vamos ter um reforço de cem policiais no Alemão.”

De acordo com Caldas, a primeira medida à frente das UPPs será investir no treinamento dos policias. Não serão feitos novos cursos. As aulas que a tropa já tem serão intensificadas.

"Em razão de ter sido porta-voz da PM, tenho proximidade com as UPPs. Acompanho o processo de expansão. Vou trabalhar as relações humanas”, disse Caldas. “Em muitas situações, a gente percebe que o policial não tem a habilidade de administrar o conflito. Atuando em cenário complicado, o PM que chega para abordagem tem que ter equilíbrio emocional e técnica para que ele não vire um problema. Muitas vezes, o policial chega à comunidade com inabilidade e gera conflito. Para ele, este é o maior desafio da carreira: "É preciso ter uma aproximação maior com a comunidade".

Em muitas situações, a gente percebe que o policial não tem a habilidade de administrar o conflito

As UPPs são o maior programa de segurança pública do Rio de Janeiro e um dos pilares do governo de Sérgio Cabral (PMDB). Desde a implantação da primeira unidade, no Morro Dona Marta, em 2008, o programa ainda lida com problemas em diversas favelas ocupadas. Para o novo comandante, o atual momento é um dos mais difíceis nos últimos quatro anos.

"Sem dúvida já tivemos outras crises delicadas, como a morte da Fabiana [soldado da UPP] no Alemão. Foi um fato muito triste, não só por ser ataque a um policial, mas porque representou uma ameaça ao poder público muito grande. São mais de quatro anos da inauguração da UPP Santa Marta”, afirmou. “Nesse tempo, as unidades já enfrentaram grandes desafios."

Caso Amarildo

A suspeita de participação de policiais da UPP da Rocinha no desaparecimento do ajudante Amarildo deu origem a um IPM (Inquérito Policial Militar) na Corregedoria da corporação. Caldas afirma que vai investir também no setor de inteligência das UPPs e não aceitará desvios de conduta.

Há todo o interesse da PM em esclarecer este caso

"A apuração será rigorosa, e [com] quem quer que tenha envolvimento, a PM será implacável na punição e na cobrança da disciplina. Policial não tem o direito de destratar um cidadão só porque ele mora em uma comunidade carente. As condições que essas pessoas vivem são inacreditáveis”, afirma ele, que vai comandar 8.600 policiais em 33 UPPs espalhadas pela capital fluminense. “Não aceito desvio de conduta."

"Há todo o interesse da PM em esclarecer este caso [do sumiço de Amarildo]. Estou acompanhando as duas linhas de investigação dos dois delegados. A divergência é boa, porque enriquece a apuração”, disse o coronel, que está há 29 anos na corporação. “Mas, se há envolvimento [de Amarildo] com o tráfico, não importa. Isso é irrelevante."

Segundo ele, o local da próxima UPP será definido nos próximos dias. É possível que a unidade não seja instalada no Complexo da Maré, na zona norte, uma das mais cotadas para ser ocupada.

 

"Precisamos preparar uma infraestrutura para a próxima UPP. Estamos aguardando a definição da Secretaria de Segurança Pública para saber onde será. Há especulações sobre a Maré, mas o Complexo vai requerer 1.500 policiais”, afirmou. “Tem todo um trabalho de formação e capacitação dos PMs a se fazer."

O coronel é formado em Jornalismo e em Relações Públicas e foi subcomandante da Academia de Polícia Militar Dom João 6º, chefe do CRSP (Centro de Recrutamento e Seleção de Praças) e comandante do 23º BPM (Leblon), responsável pelos bairros do Arpoador, Ipanema, Leblon, de São Conrado, parte do Joá, da orla da Lagoa Rodrigo de Freitas, Gávea, de parte do Alto da Boa Vista, da Fonte da Saudade, do Jardim Botânico e Horto. Desde 2011, era o coordenador de comunicação social e porta-voz da PM.

A mudança de cargo faz parte de uma série de trocas que começou com a exoneração do comandante da Polícia Militar, coronel Erir Costa Filho. Ele foi substituído pelo coronel Luis Castro, quatro dias após ter concedido anistia a 450 policiais que haviam sido punidos administrativamente.

Para a nova função, Caldas diz que vai levar conhecimentos obtidos em um curso de policiamento comunitário no Japão. "Mesmo sendo uma outra cultura, a experiência no Japão é válida. Lá, o policias visitam os moradores, têm esse sentimento de cuidar dos deles. Trago isso desse curso, quero que o meu policial tenha esse cuidado", afirma o coronel. "Existem três características que eu quero que o policial da UPP tenha: honestidade, que é a mais importante; educação com as pessoas; e sensibilidade para compreender a vida que essas pessoas levam e as dificuldades que elas têm."

Clique na imagem para ver o mapa das UPPs no Rio

  • Arte/UOL