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Seca similar nos anos 50 inspirou marchinha, lembra meteorologista

Lilian Ferreira

Do UOL, em São Paulo

12/05/2014 11h00

A pouca chuva deste ano é consequência de uma oscilação climática que ocorre a cada 20 a 30 anos. O Brasil passa por um período mais seco e inverno mais seco e frio, explica o meteorologista da Somar,  Celso Oliveira. Ele lembra que uma seca parecida com a atual ocorreu nas décadas de 50 e 60.

"Nesse Carnaval cantaram a marchinha “Tomara que Chova” que é de 51. Entre 49 e 51 tivemos uma grave seca, similar a esta”, lembra. Ele diz ainda que o problema neste ano foi agravado, mas a diminuição da chuva no Sistema Canteira já vem acontecendo há três verões.

“Até 1999 tivemos um período mais favorável à chuva. Depois, entramos de novo em uma fase negativa. Na maioria dos anos deste então tivemos níveis mais baixos do que na década de 90 e 80. Não é novidade problemas com falta de chuva, é o mesmo problema que aconteceu entre 1999 e 2001, o apagão”, diz.

Segundo ele, estamos passando por outro período de seca de 2012 a 2014, mas que do meio de 2009 até 2010, "São Paulo teve a maior chuva já registrada. Então, a oscilação climática não implica que todos os anos sejam secos”, explica.

Para este ano, já passada a época de chuva, que teve o verão mais seco em 10 anos, a expectativa é que os volumes de chuva sejam cada vez menores e as precipitações sejam mais passageiras e isoladas. De acordo com a previsão do tempo, as chuvas mais volumosas voltam apenas a partir de outubro para tentar reverter o quadro de menor nível de abastecimento do Sistema Cantareira, por exemplo.

Histórico

O Sistema Cantareira foi construído em 1974 levando como base o volume de chuva na região entre 1935 e 1969. Assim, as represas foram projetadas para abastecer a cidade de São Paulo e cidades vizinhas, que na época tinham uma população de quase cinco milhões de habitantes. A capacidade inicial de produção era de 22 mil litros de água por segundo.

Porém, o Brasil passaria por uma oscilação positiva naquela época, e o volume de chuva anual projetado era menor do que o observado nas duas décadas seguintes. Com isto, no começo da década de 1990 o sistema já tinha uma capacidade de 33 mil litros de água por segundo e quando a Sabesp percebeu que o acumulado de chuva por ano era maior, passaram a produção para 36 mil litros de água por segundo.

Os ajustem, então, foram feitos sem pensar que a chuva aumenta ou diminui em um determinado período de acordo com o ciclo climático chamado Oscilação Decadal do Pacífico (ODP). Na época em que o Sistema Cantareira foi criado, a atmosfera passava por um ciclo com um menor volume de chuvas anuais. A partir de meados de 1970 iniciou-se a fase que se estendeu até o início dos anos 2000 e que contribuiu para um período de mais chuvas. Paralelo a essas mudanças de ciclos no clima, a população do Estado de São Paulo e o consumo de água também aumentaram, explicam os meteorologistas da Somar.