Ao menos 75 ônibus são depredados no Rio; "covardia danada", diz motorista
Pelo menos 75 ônibus foram depredados na manhã desta terça-feira (13) durante a paralisação de motoristas e cobradores de ônibus no Rio de Janeiro, segundo informou o Rio Ônibus (sindicato das empresas de ônibus). A Polícia Militar informou que dez pessoas foram detidas.
Um motorista da Viação Jabour que chegou a tentar circular com um ônibus foi atacado a pedras por dois homens em uma motocicleta no Largo do Correia, em Guaratiba, na zona oeste do Rio de Janeiro. Ele precisou voltar para a garagem, que fica em Campo Grande, onde falou com a reportagem do UOL. “Eu só quero trabalhar. Isso é uma covardia danada, porque são meus próprios colegas de trabalho que estão tacando as pedras. Só não consegui identificar, porque estão de capacete, mas estão uniformizados”, disse o motorista, que pediu para não ser identificado. “Essa covardia tem que acabar, porque eu não sou obrigado a fazer greve.”
Outro motorista, que também preferiu não ter o nome divulgado, contou que foi abordado na estrada da Cachamorra, por um veículo escoltado por uma moto. “Foi muito rápido. Dentro de um carro, tinha quatro homens, e numa moto, outros dois homens estavam escoltando. Não tinham armas, e as pedras estavam dentro do carro”, contou. “Foi um susto enorme. Graças a Deus não me machuquei. Eu e os passageiros ficamos em pânico.”
Os trabalhadores reivindicam aumento salarial de 40% (e não os 10% acordados entre o sindicato da categoria e as empresas de ônibus), o fim da dupla função e reajuste no valor da cesta básica –de R$ 150 para R$ 400. A convocação é feita por um grupo dissidente, que não se sentiria representado pelo Sintraturb-Rio (Sindicato dos motoristas e cobradores de ônibus do Rio de Janeiro).
O líder do movimento grevista, Helio Theodoro, pediu desculpas pelos transtornos causados pela paralisação da categoria à população do Rio de Janeiro, "que não tem nada a ver com a história", e afirmou que "a culpa da greve é do sindicato" que representa a categoria.
Para ele, a decisão judicial que o impede, juntamente com mais três pessoas da liderança do movimento grevista, de se aproximarem de garagens, é típico de uma "ditadura". "Vivemos num país democrático, mas isso é uma ditadura. E se eu morar perto de uma garagem, eu não posso ir pra casa?", questionou.
Transtornos
Nas primeiras das 48 horas de paralisação dos motoristas e cobradores de ônibus do Rio, quem tentou se deslocar pela cidade encontrou filas nos pontos de ônibus, veículos lotados, preços abusivos cobrados por vans e dificuldade no acesso ao metrô. Os passageiros que mais enfrentaram transtornos foram os que tentaram deixar a zona oeste da cidade.
Nenhum ônibus de linha municipal circulou pelo bairro de Jacarepaguá desde o início da madrugada. Nem mesmo os ônibus do tipo frescão --mais confortáveis e climatizados, com valores entre R$ 7 e R$ 13-- circularam nas ruas, ao contrário da greve na semana passada, quando os coletivos circulavam com passageiros em pé.
As vans legalizadas, que circulam dentro do bairro, cobravam R$ 10. A tarifa normal é a mesma dos ônibus, isto é, R$ 3.
Com a paralisação, havia nos pontos de ônibus na região da Central do Brasil, no centro da cidade, quem esperasse caronas de colegas de trabalho, como o rádio-operador Felipe Rezende, 24. "Está impossível pegar ônibus pra Ilha do Governador, onde eu trabalho. Ontem à noite, quando saiu a notícia da greve, o pessoal do trabalho se mobilizou pra um dar carona ao outro. Vim de metrô, de Copacabana, e um colega vem me pegar aqui na Central", disse ele, minutos antes de entrar no carro do amigo.
Plano de contingência
A Prefeitura do Rio desenvolveu um plano de contingência para minimizar os impactos da greve, reforçando metrô, trens e barcas, e a Polícia Militar informou que garantiria a segurança na saída das garagens dos quatro consórcios, nas estações do BRT Transoeste e nos terminais de ônibus. No entanto, de acordo com a Secretaria Municipal de Transportes do Rio, apenas 18% da frota de ônibus está circulando.
Motoristas e cobradores fazem greve no Rio de Janeiro
SuperVia, metrô e barcas tiveram o horário de pico ampliado. Segundo usuários de metrô ouvidos pela reportagem, o movimento intenso na estação da Central do Brasil na manhã desta terça foi maior que o de hábito nos guichês de compra de bilhetes e nas plataformas, com muita aglomeração, mas os trens, que passaram a sair em maior número , circularam com lotação normal para o horário.
"Pego metrô todo dia na Pavuna pra vir pra Central e hoje está muito mais cheio aqui. Mas os trens estão saindo mais rápido e menos lotados", afirmou a operadora de telemarketing Débora Lemos, 29.
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