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Sem ônibus, cariocas montam esquemas de carona para ir ao trabalho

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

13/05/2014 07h49Atualizada em 13/05/2014 12h15

Com a paralisação de 48 horas dos motoristas e cobradores de ônibus do Rio de Janeiro, que começou à 0h desta terça-feira (13), havia nos pontos de ônibus na região da Central do Brasil, no centro da cidade, quem esperasse caronas de colegas de trabalho, como o rádio-operador Felipe Rezende, 24. “Está impossível pegar ônibus pra Ilha do Governador, onde eu trabalho. Ontem à noite, quando saiu a notícia da greve, o pessoal do trabalho se mobilizou pra um dar carona ao outro. Vim de metrô, de Copacabana, e um colega vem me pegar aqui na Central”, disse ele, minutos antes de entrar no carro do amigo.

A empregada doméstica Marly Nascimento, 49, que trabalha em São Conrado, na zona sul do Rio, saiu às 4h15 de casa, em Queimados, na Baixada Fluminense, e ainda esperava um ônibus na Central do Brasil às 6h30. “Já estava desistindo de ir quando um colega me ligou e disse que passaria aqui pra me dar uma carona”, contou Marly.

“Eu não acho legal fazer um movimento de 48 horas porque, no final, é a população que paga o pato. Reivindicar melhores condições, todo mundo tem direito, mas eles podiam fazer isso de outra forma”, opinou.

A movimentação de passageiros de ônibus na região da Central do Brasil era tranquila no início da manhã. Entre as 5h45 e as 6h45, havia poucas linhas de ônibus circulando na região, geralmente abastecida por ônibus que partem de toda a cidade. Presença massiva, apenas a de veículos que fazem viagens intermunicipais, principalmente de oriundos da Baixada Fluminense.

Na última quarta-feira (8), motoristas e cobradores de ônibus fizeram outra paralisação, de 24 horas, que provocou uma série de transtornos para os usuários do transporte público na capital fluminense, pegando a maior parte da população de surpresa e lotando pontos de ônibus e estações de metrô. Houve quem demorasse até cinco horas apenas para chegar ao trabalho.

“Hoje (terça) está mais vazio porque o pessoal já sabe que tem greve e muita gente nem veio”, opinou a auxiliar de engenharia Fabiana Figueiredo, 35, que mora em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e chegou ao terminal de ônibus da Central do Brasil às 5h35. Uma hora depois, ela ainda esperava um ônibus para levá-la ao trabalho, na Ilha do Governador.

“Semana passada esperei umas três horas pelo meu ônibus e acabei voltando pra casa. Pelo visto, hoje vou ter que desistir de novo”, afirmou Fabiana.

Zona oeste

Os passageiros que mais enfrentam transtornos são os que tentam deixar a zona oeste da cidade. Nenhum ônibus de linha municipal está circulando pelo bairro de Jacarepaguá desde o início da madrugada. Nem mesmo os ônibus do tipo frescão estão nas ruas, ao contrário da greve na semana passada, quando os coletivos circulavam com passageiros em pé.

Na noite de segunda (12), após o anúncio da paralisação, a Prefeitura do Rio divulgou nota informando que desenvolveu um plano de contingência para minimizar os impactos da greve. Além do reforço em metrô, trens e barcas, a Polícia Militar deve garantir a segurança na saída das garagens dos quatro consórcios, nas estações do BRT Transoeste e nos terminais de ônibus.

Na SuperVia, a operação de horário de pico foi antecipada em uma hora e meia e começou às 4h30. O horário de pico da tarde também será prolongado, de acordo com a demanda. No metrô, o horário de pico começou uma hora antes, às 5h30, também com prolongamento à tarde. Já a operação das barcas teve início às 6h30, meia hora antes.

Segundo usuários de metrô ouvidos pela reportagem, o movimento intenso na estação da Central do Brasil na manhã desta terça é maior que o de hábito nos guichês de compra de bilhetes e nas plataformas, com muita aglomeração, mas os trens, que passaram a sair em maior número por conta do Plano de Contingência, estão circulando com lotação normal para o horário.

"Pego metrô todo dia na Pavuna pra vir pra Central e hoje está muito mais cheio aqui. Mas os trens estão saindo mais rápido e menos lotados", afirmou a operadora de telemarketing Débora Lemos, 29.

Nas paradas de ônibus, o movimento tranquilo de passageiros era acompanhado de perto por guardas municipais. “Tem bem menos gente nas paradas do que o normal. Na paralisação da semana passada, isso aqui estava lotado”, disse um deles, que não quis se identificar.

Em alguns bairros da cidade, a oferta de ônibus era praticamente nula entre as 4h e as 6h, segundo o taxista Maximiliano Pereira, 40. “Nessas duas horas em que estou na rua, só vi um ônibus rodando. Acho até que os próprios donos de empresas ficaram com medo de mandar ônibus para as ruas, por causa das avarias que os carros sofreram na semana passada”, afirmou o motorista, referindo-se à depredação de coletivos ocorrida na última quarta.

Segundo balanço divulgado pelo Rio Ônibus, 531 veículos foram depredados em diversos pontos da cidade. Hoje, o sindicato informou que pelo menos 74 ônibus foram depredados.

A Justiça do Rio já determinou que quatro líderes da comissão de rodoviários que decidiu pela paralisação, identificados como Hélio Alfredo Teodoro, Maura Lúcia Gonçalves, Luís Claudio da Rocha Silva e Luiz Fernando Mariano, devem se abster de "promover, participar, incitar greve e praticar atos que impeçam o bom, adequado e contínuo funcionamento do serviço de transporte público, bem como mantenham distância das garagens das empresas consorciadas filiadas ao sindicato (Rio Ônibus)".

Motoristas e cobradores começam o dia em greve

Os trabalhadores reivindicam aumento salarial de 40% (e não os 10% acordados entre o sindicato da categoria e as empresas de ônibus), o fim da dupla função e reajuste no valor da cesta básica –de R$ 150 para R$ 400. A convocação é feita por um grupo dissidente, que não se sentiria representado pelo Sintraturb-Rio (Sindicato dos motoristas e cobradores de ônibus do Rio de Janeiro).