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Vizinhos de praça barulhenta na zona sul do Rio reclamam e pedem "paz"

Mariana Menezes

Do UOL, no Rio

17/06/2014 06h00

Um grupo de moradores vizinhos à Praça São Salvador, em Laranjeiras, zona sul do Rio de Janeiro, se organizou por meio das redes sociais para pedir maior respeito aos horários de silêncio. A praça fica entre as ruas Esteves Júnior e São Salvador, na divisa dos bairros de Laranjeiras e Flamengo. Há pelo menos sete anos, vários eventos culturais são realizados gratuitamente no local, como rodas de choro, samba e encontro de malabaristas, no qual é ensinada a arte circense.

A praça também se tornou ponto de encontro de jovens em todos os dias da semana. Durante o Carnaval, alguns blocos também se concentram na região, entre eles o Bagunça o Meu Coreto.

Segundo os moradores, o problema está na “perda de controle” com excesso de sujeira, bagunça, tráfico de drogas, prostituição e no uso de som amplificado mesmo após as 22h. "Todos estamos cansados, pois bem ou mal, somos minoria e o diálogo é muito difícil. Principalmente com aqueles que acham que somos reacionários, classe média e defendem que a praça é "viva" em qualquer horário e portanto esse é o preço que se paga por estarmos aqui. O que nos une é a necessidade urgente de paz e silêncio", afirmou, em cartas coletiva enviada ao UOL, um grupo de moradores.

A reportagem acompanhou o início da movimentação na praça na última sexta-feira (13), das 17h às 21h. O clima no início da noite era tranquilo, com vendedores ambulantes de bebidas começando a trabalhar e crianças brincando. 

Após as 20h30, as crianças deram lugar aos jovens, grupos com violão e som alto. Comerciantes e frequentadores preferiram não se identificar por medo de repressão. “Eu trabalho na praça há mais de três anos e sustento minha família com o dinheiro da venda de bebidas aqui. No começo eram uns dez comerciantes, agora são mais de cem. Não temos alguém que nos represente e, apesar de viver do dinheiro daqui, todo final de semana acompanho a bagunça e a sujeira que fica a região depois das 22h”, explicou uma das vendedoras. “Eu entendo a reclamação dos moradores, mas prefiro não me identificar por medo. Muita gente diferente vem aqui, e dependo do dinheiro da praça.”

Alguns frequentadores disseram que a região é ótima por ser central, pequena e ter muita cultura. “Saio do trabalho e venho aqui sempre. Realmente, chega um certo horário que fica lotado, mas não acho que seja o caso de gradear a praça. Tem gente que vem aqui depois de uma festa, são essas pessoas que atrapalham”, explicou uma engenheira civil que preferiu não se identificar. “Muita gente só gosta de ter um espaço aberto para encontrar os amigos e gastar pouco.”

A polêmica cresceu após a vereadora Leila do Flamengo (PMDB-RJ) ter encaminhado, no dia 9 de junho, um ofício pedindo ao secretário municipal de Conservação e Serviços Públicos do Rio, Marcus Belchior, a instalação de grades em torno da Praça São Salvador. Procurada pelo UOL, a secretaria informou que o pedido está em análise e não há prazo para a resposta.

A iniciativa da vereadora gerou revolta dos frequentadores do local, que criaram no Facebook páginas de apoio às atividades na praça. O grupo de moradores, também organizado digitalmente, é heterogêneo e diz não existir um discurso coeso com relação às soluções: parte apoia a colocação de grades ao redor da praça e parte acredita no diálogo e não quer o gradeamento.

Ao UOL, eles informaram que uma das soluções para o problema seria a criação de campanhas de conscientização, regulamentação da utilização do local (sem o uso de som amplificado de domingo a sexta), cumprimento da lei do silêncio e migração dos eventos para o anfiteatro do Aterro do Flamengo.

No Facebook, uma das páginas de repúdio à colocação das grades, “Eu não quero grade na Praça São Salvador”, já tem mais de 8.000 curtidas. Em outra, a população é convidada a enviar um e-mail para o secretário rebatendo as críticas da vereadora ao local.  

Uma moradora do local disse, também na página da internet, se incomodar com a sujeira, o barulho e a bagunça na praça, mas propõe uma maior educação dos frequentadores ao invés de gradear o local.

“A falta de educação de alguns não pode punir aqueles que amam e preservam o espaço público. Agora acho que os frequentadores, moradores ou não, têm que olhar para nossa pracinha com mais carinho e entender que o seu entorno é o lar de muitas famílias que precisam dormir e manter sua rotina normal”, explica a moradora.

A Associação de Moradores e Amigos de Laranjeiras disse que não recebeu nenhum pedido formal de ajuda pelos moradores e que, sempre que solicitada, vai junto aos órgãos responsáveis para auxiliar os moradores, comerciantes e frequentadores dos espaços públicos.

Por meio de nota, a Polícia Militar informou que estão sendo feitas constantemente operações na região e que, após a Copa do Mundo, está prevista uma ação conjunta entre PM, Secretaria Especial da Ordem Pública e Vigilância Sanitária para vistoriar e regularizar as questões dos bares da região. Sobre a denúncia de tráfico de drogas, a PM disse realizar vigilância diária de repressão a esse tipo de crime.