Apesar de estável, Brasil também tem chances de sofrer grandes terremotos
A tragédia causada por um terremoto de magnitude de 7,8 graus no último sábado (25) já matou mais de 6.000 pessoas no Nepal. Do outro lado do globo, o Brasil parece estar no extremo oposto da situação. Desde as suas primeiras medições sismológicas, nos anos 70, os tremores causaram apenas uma morte no país. Mas especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que esse histórico não garante que o Brasil jamais sofrerá uma catástrofe semelhante à do país asiático.
A estabilidade geológica brasileira é explicada pelo fato de o país se encontrar afastado das bordas das placas tectônicas do hemisfério Sul. Sua posição é no interior de uma dessas placas, ficando assim longe das principais fontes causadoras de tremores.
Já o Nepal fica no encontro entre a placa tectônica indiana ao sul e a placa eurasiana ao norte. A região, conhecida também por abrigar a Cordilheira do Himalaia, é de grande instabilidade e já sofreu com grandes abalos antes, nos anos de 1505 e 1934 -- este último causou entre 10 mil e 20 mil mortes. O Nepal faz parte de um grupo de países com histórico forte em tremores, como Chile e Japão.
Os maiores terremotos já registrados no Brasil foram há 60 anos, em 1955. Um em janeiro, na Serra do Tombador, em Mato Grosso, de magnitude 6,2; e o segundo em março, na margem continental perto de Vitória (ES), de magnitude 6,1. Por sorte, não causaram grandes danos nem vítimas fatais por terem ocorrido em regiões pouco habitadas.
A única morte causada por tremores aconteceu em Itacarambi (MG) em 2007. O tremor com magnitude 4,9 matou uma pessoa, que foi atingida pelos destroços de uma parede. A última grande ocorrência do gênero foi em fevereiro deste ano, em Confresa (MT), com magnitude 4,1. Outros Estados que recentemente sofreram abalos foram Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Acre, Amazonas, Ceará e Goiás.
No entanto, existem alguns caminhos que colocam o Brasil sob um risco, ainda que pequeno, de sofrer consequências sérias em virtude de terremotos. O primeiro é que o país já registra uma considerável frequência de tremores de média magnitude nos últimos cem anos. Eles seriam capazes de causar grandes danos materiais e humanos se ocorressem em grandes cidades.
O segundo é que a população brasileira continua crescendo, e regiões inabitadas que já contaram com tremores podem vir a receber novos terremotos, desta vez com maiores chances de causar tragédias.
"Não podemos descartar a chance de um terremoto de magnitude 4 ou 5 ocorra perto de uma cidade atualmente populosa. A sismicidade não se altera em 100 ou 200 anos, mas as cidades crescem, a população fica mais exposta e isso sim gera risco", explica Marcelo Bianchi, professor do departamento de Geofísica da USP (Universidade de São Paulo), uma das três instituições de ensino que integram a rede que mede e estuda a sismologia no país.
Outro problema é que a situação "confortável" do país neste assunto levou a construções pouco preparadas para receber terremotos, bem como a falta de preparo da população e das equipes de resgate para estes casos.
"Neste sentido, nas grandes cidades há muitas casas de má qualidade, e um terremoto de magnitude 6 em um centro urbano desses poderia provocar mortes e grandes danos. O Japão é um país mais preparado que o Brasil, mas mesmo assim em Kobe um tremor que nem foi dos maiores destruiu muita coisa", explica Lucas Barros, professor de sismologia da UnB (Universidade de Brasília), referindo-se à tragédia de 1995 que matou 6.400 pessoas.
Outro fatores que influenciam na periculosidade do tremor são a geologia do solo do local afetado -- quanto mais sedimentado, mais perigoso --, a duração do tremor e o horário em que ocorreu. "À noite pode ser mais fatal, pois as pessoas estão em casa dormindo", destaca Barros.
USP, UnB e a UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) integram uma rede que monitora todas as atividades sísmicas do Brasil. A UnB cuida das regiões Centro-Oeste e Norte; a USP, das Sul e Sudeste; o Observatório Nacional, das regiões litorâneas; e a UFRN, da região Nordeste.
Esta rede, que foi criada com recursos da Petrobras, possui 80 estações distribuídas por todo o território nacional, mas segundo Barros, está atualmente com falta de recursos e mão de obra. "Faltam de oito a dez profissionais para ajudar no nosso trabalho", aponta.
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