Nepal, uma terra de preocupantes ameaças sísmicas

Pierre Le Hir

  • Xinhua

    Após terremoto do sábado (25), Nepal vive ameaça de um que pode ser ainda maior

    Após terremoto do sábado (25), Nepal vive ameaça de um que pode ser ainda maior

Infelizmente, o Nepal já está acostumado com sobressaltos destruidores da crosta terrestre. Com o país ainda mergulhado no caos pelo violento tremor que, na manhã de sábado (25), devastou o vale de Katmandu, ele agora vive sob a ameaça de um terremoto que promete ser ainda maior.

Essa extrema instabilidade da litosfera tem por origem aquilo que os cientistas chamam de "Main Himalayan Thrust", que consiste no encontro entre a placa tectônica indiana ao sul e a placa eurasiana ao norte, cuja borda é constituída pelo maciço himalaio.

O processo começou há cerca de 100 milhões de anos, quando o subcontinente indiano se destacou definitivamente do supercontinente Gondwana (que outrora reuniu a Antártida, a América do Sul, a África, a Austrália e a Índia) para derivar na direção do norte, para o continente asiático.

Foi a gigantesca colisão entre os dois blocos continentais, há pouco mais de 50 milhões de anos, que deu origem à cordilheira do Himalaia. Hoje, segundo Pascal Bernard, sismólogo do IPGP (sigla em francês para Instituto de Física do Globo de Paris), a placa indiana continua penetrando como uma cunha, em um plano inclinado, sob a placa eurasiana, provocando sua elevação. Essa sobreposição, cuja velocidade se reduziu muito desde o choque das duas massas continentais, agora se dá em uma velocidade da ordem de 2 centímetros por ano.

Riscos de réplicas 'mais fortes'

"Essa zona de contato, sobre uma imensa falha que corre ao longo de toda a cordilheira himalaia, acumula enormes tensões", explica o pesquisador. O Nepal, em especial, ao pé do Himalaia, se "contrai", por assim dizer, em 2 centímetros a cada ano. São essas pressões colossais que se liberam com as rupturas da falha.

É por isso que a região himalaia é a parte continental do globo mais exposta aos tremores de terra, ainda que as zonas de subdução próximas das costas, onde se confrontam placas oceânicas e placas continentais, possam gerar tremores mais violentos, como no Chile e no Japão.

Foi uma ruptura dessas que ocorreu no sábado de manhã, com o terremoto de magnitude 7,8, cujo epicentro estava situado a cerca de 80 quilômetros ao noroeste da capital nepalesa e cuja onda de choque se propagou, em cerca de quarenta segundos, por uma distância de 150 quilômetros, devastando o vale de Katmandu.

Apesar da brutalidade do fenômeno, "somente a parte profunda da zona de contato rompeu, na parte central do Nepal", afirma Pascal Bernard. Tanto que "restam zonas bloqueadas" e "podemos temer novas rupturas gerando novos tremores, mais e leste ou mais a oeste". Foi isso que aconteceu no domingo de manhã, com uma réplica de magnitude 6,7, cujo epicentro estava situado a leste de Katmandu.

Deve-se esperar por réplicas "que podem ser igualmente fortes, ou até mais fortes", e que "poderão ocorrer por vários meses ou até vários anos", prevê o sismólogo.

Magnitude 8 em 1934

Mas o pior ainda está por vir. O tremor do sábado, ainda que considerado um "grande terremoto" pelos especialistas, foi menor que o de 1934, de magnitude 8, que devastou três grandes cidades do vale --Katmandu, Patan e Bakhtapur-- , causando entre 10 mil e 20 mil mortes. Em 1505, um outro tremor de terra também havia atingido a mesma magnitude.

Mas Pascal Bernard ressalta que "se estima que a magnitude máxima que se pode esperar de um terremoto no Nepal seja de 8,5 a 9, ou seja, uma energia trinta vezes maior do que a que foi liberada pelo tremor de sábado".

Indícios geológicos permitem pensar que um evento como esse tenha acontecido nos anos 1.100, só que o tempo de recorrência desse gênero de cataclismo é estimado em "um milhar de anos, com uma margem de incerteza de 20% a 30%".

A conclusão é definitiva: "em um prazo que pode ser desde um século até alguns séculos, o Nepal não escapará da catástrofe de um terremoto gigante". E a ameaça vale para toda a borda sul do Himalaia, inclusive Índia e Bangladesh.

 

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