RJ tem três PMs mortos em cinco dias, e total no ano ultrapassa 2014 e 2013
Ao menos três policiais militares foram assassinados no Rio de Janeiro nos últimos cinco dias. Segundo o ISP (Instituto de Segurança Pública), até agosto deste ano, foram contabilizadas 16 mortes --somando os PMs mortos nesta semana, o número vai para 19. Isso já é mais do que os policiais mortos nos anos de 2013 e de 2014 --entre janeiro e dezembro, respectivamente, 16 e 18 policiais militares morreram em serviço.
O último caso ocorreu nesta sexta-feira (2) pela manhã quando um policial militar morreu e outro ficou ferido durante uma tentativa de assalto em Sulacap, na zona norte da cidade. Segundo a PM, os policiais seguiam de moto para um treinamento do Bope (Batalhão de Operações Especiais) em Ramos, também na zona norte, quando foram surpreendidos por dois criminosos, também em uma motocicleta, que anunciaram o assalto. Os policiais reagiram, e houve troca de tiros.
Na quarta-feira (30), o PM Caio César Ignácio Cardoso de Melo, 27, lotado na UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) Fazendinha, no Complexo do Alemão (considerado a área de UPP mais perigosa do Rio) e que dublava nos cinemas o bruxo Harry Potter, protagonista dos filmes baseado na série de J.K. Rowling, foi baleado quando patrulhava a localidade conhecida como Campo do Sargento. A guarnição foi atacada a tiros, e Melo acabou atingido no pescoço. Ele foi socorrido ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha (zona norte), mas não resistiu aos ferimentos.
Já na noite de domingo (27), o policial militar Bruno Rodrigues Pereira, que trabalhava na UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do Morro da Formiga, na Tijuca (zona norte), foi morto por criminosos em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Antes da morte, ele foi arrastado por um cavalo pelas ruas da comunidade.
Ano difícil para a segurança pública na cidade
O ano de 2015 não tem sido fácil para os responsáveis pela segurança pública do Rio de Janeiro. Logo em janeiro, uma sucessão de casos com vítimas de bala perdida levantou questionamentos. Três meses depois, um menino de dez anos foi baleado na cabeça, na porta de casa, no Complexo do Alemão, onde há uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).
Segundo testemunhas, a bala que matou Eduardo de Jesus Ferreira saiu da arma de um PM. Em depoimento à Divisão de Homicídios, o policial afirmou ter efetuado disparos no dia em que a criança foi atingida, pois havia um suposto confronto com traficantes. A corporação afastou oito dos 11 militares que participaram da ação.
A morte trágica de Eduardo gerou críticas à política de segurança do Estado e teve repercussão internacional, assim como o caso do médico Jaime Gold, assassinado a facadas em tentativa de assalto na ciclovia da Lagoa Rodrigo de Freitas, em maio, na zona sul carioca.
Na terça-feira (29), outro Eduardo foi morto em uma favela com UPP. O adolescente Eduardo Felipe Santos Victor, 17, morreu após ser baleado por PMs da UPP da Providência. O caso foi registrado inicialmente como morte em decorrência de intervenção policial, até que um vídeo feito por moradores desmentiu a versão oficial. Já nesta quinta-feira (1) a juíza Daniela Assumpção, da Vara de Execuções penais, foi agredida por detentos durante uma inspeção no BEP (Batalhão Especial Prisional) da Polícia Militar, onde ficam detidos PMs que aguardam decisão da justiça em processos criminais.
No fim do primeiro semestre, o Rio teve uma sucessão de roubos violentos, nos quais os criminosos, principalmente adolescentes, esfaqueavam as vítimas. Meses depois, os frequentadores das praias da zona sul carioca voltaram a temer os arrastões. Em resposta, o Estado decidiu antecipar a Operação Verão, na qual mais de 1.000 agentes de segurança e assistentes sociais são designados para conter a violência nas praias.
Segundo dados do ISP, a três meses do fim do ano, o Rio de Janeiro já possui mais casos de mortes causadas por policiais do que o acumulado em todo o ano de 2013. De janeiro a agosto desse ano, a Polícia Civil registrou 459 ocorrências do tipo nas delegacias do Estado. Em 2013, de janeiro a dezembro, o mesmo indicador foi de 416 vítimas.
Ironicamente, nesta quinta-feira o secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, foi premiado em uma cerimônia que exultou o trabalho de policiais de UPPs. O Instituto Mudando o Final, que apoia projetos sociais nas comunidades pacificadas, distribuiu medalhas a "policiais militares e civis que se dedicaram exaustivamente ao processo de pacificação das favelas do Rio".
Na cerimônia, menções a casos como a morte de Eduardo Victor não apareceram. Em vez delas, muitos elogios eram tecidos aos policiais. Os dois únicos comandantes de UPPs premiados foram o capitão Alexandre Lima Ramos, da UPP Alemão, e o capitão Jean Carlos Sanches, da Vila Cruzeiro. As duas comunidades, na zona norte, sofrem com constantes tiroteios entre PMs e traficantes.
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