O que se sabe até agora sobre a queda do helicóptero da PM no Rio
Peritos supervisionados pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão vinculado à Aeronáutica, tentam identificar os fatores que resultaram na queda de um helicóptero da Polícia Militar do Rio, no sábado (19), durante ação contra o tráfico de drogas na Cidade de Deus --região onde há uma disputa entre facções criminosas rivais--, na zona oeste da capital fluminense.
O acidente provocou a morte dos quatro tripulantes, todos policiais militares. Veja abaixo o que a investigação da Seripa-3 (Terceiro Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão designado para apurar o caso, já revelou sobre o acidente:
1. Helicóptero não foi atingido por tiros
Laudos preliminares indicam que nem a aeronave nem as vítimas foram atingidas por disparos de arma de fogo. A informação foi confirmada pelo secretário de Estado de Segurança Pública, Roberto Sá, no domingo (20).
"A Aeronáutica não encontrou, até o momento, perfurações no helicóptero. Temos que aguardar a perícia deles, que vai levar tempo, mas será conclusiva", disse Sá, que participou do velório coletivo dos PMs.
Para o Cenipa, porém, nenhuma possibilidade é descartada até o momento. O Centro informou nesta terça (22) que a perícia está "levando em conta diversos fatores contribuintes, sejam materiais (sistemas da aeronave e projeto, por exemplo), humanos (aspectos médicos e psicológicos) ou operacionais". Isso quer dizer que, para o órgão da Aeronáutica, não há uma "causa" para o acidente, e sim um conjunto de "fatores contribuintes".
"Causa se refere a um fator que se sobressai, que seja preponderante, e a investigação do Cenipa não elege um fator como o principal. Ao contrário, trabalha com uma série de fatores contribuintes que possuem o mesmo grau de influência para a culminância do acidente."
O Cenipa informou ainda que não fará qualquer comentário ou análise antes da divulgação de um relatório formal sobre o acidente, e que não há prazo para que isso ocorra.
A Divisão de Homicídios da Polícia Civil está acompanhando o caso, mas sua assessoria de comunicação informou que apenas o delegado responsável, Fábio Cardoso, poderia comentar. O policial, porém, está em um evento do Exército e não pôde ser contatado. Já a Polícia Militar alega que o trabalho de investigação cabe à Aeronáutica.
2. Aeronave não era blindada
O helicóptero do tipo Esquilo, matrícula PRIDR e modelo AS350B3, sobrevoava a favela para captar imagens no decorrer da operação. A bordo estavam o piloto, o capitão Willian de Freitas Schorcht, 37, o major Rogério Melo Costa, 36, o subtenente Camilo Barbosa Carvalho, 39, e o terceiro-sargento Rogério Félix Rainha, 39.
O veículo, fabricado pela empresa Helibras, não possuía blindagem. Coordenador de comunicação da PM, o major Ivan Blaz afirmou que o modelo Esquilo é uma aeronave leve, destinada à observação e transporte de tropa. "Ela trabalha em uma grande altitude com equipamento ótico de monitoramento", disse.
3. Vistoria estava em dia
A vistoria anual do helicóptero estava em dia, segundo o RAB (Registro Aeronáutico Brasileiro), da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). O IAM (Inspeção Anual de Manutenção), documento obrigatório exigido pela Anac, tinha validade até o dia 4 de dezembro desse ano.
Em nota, a Helibrás informou ter colocado à disposição da Aeronáutica um especialista para "apoiar nas questões técnicas", mas que "não irá se pronunciar sobre o acontecimento até a conclusão da investigação".
4. Pilotos eram experientes
Schorcht e Costa eram pilotos considerados experientes. Ambos fizeram o curso de formação em 2012 e estavam lotados no GAM (Grupamento Aeromóvel), da PM. Em nota, a Polícia Militar informou que Costa tinha 17 anos de serviços prestados à polícia e Schorcht, 15.
"Eles tinham muitas horas de voo e capacidade para realizar aquele tipo de missão. Estavam acostumados a sobrevoar comunidades", disse um colega de turma na Escola de Aviação da corporação.
As outras duas vítimas do acidente eram tripulantes da aeronave. Barbosa e Félix tinham atribuição de alertar os pilotos de algum perigo, como a presença de pessoas estranhas, de uma ave ou rede de alta tensão. Ambos trabalhavam armados, para a eventualidade de precisar fazer algum disparo.
Perguntado sobre a possibilidade de ter ocorrido algum tipo de falha humana, já que os policiais estavam sob forte pressão, o major Ivan Blaz afirmou, no domingo, que os PMs tinham experiência neste tipo de voo. "Estamos falando de policiais que trabalhavam há vários anos em operações aéreas. Falar isso neste momento seria até um desrespeito com esses agentes."
Conflito na Cidade de Deus
Desde a última sexta-feira (18) foram registrados intensos confrontos entre policiais e criminosos da favela Cidade de Deus. No domingo, após mais uma madrugada de tiroteio, sete corpos foram localizados em uma mata na comunidade. A Polícia Civil investiga o caso. Segundo moradores, os corpos seriam de traficantes.
Após a queda da aeronave, a PM iniciou uma operação por tempo indeterminado na região, que é cercada por mata fechada e área de mangue, o que dificulta o trabalho dos militares. De acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública, os confrontos começaram depois que traficantes da Cidade de Deus tentaram invadir a área do Gardênia Azul, área controlada por milícias.
O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, colocou a Força Nacional de Segurança à disposição do Rio. O secretário de Segurança, no entanto, agradeceu a oferta, mas informou que, por enquanto, a mobilização dos agentes federais não é necessária.
A Anistia Internacional divulgou nota no domingo condenando a política de segurança pública implementada no Estado do Rio de Janeiro. Segundo o comunicado, o governo tem falhado em proteger a vida tanto dos moradores quanto dos agentes de segurança pública.
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