MPF quer saber se governo do ES ordenou que policiais voltem ao trabalho
O MPF (Ministério Público Federal) no Espírito Santo quer saber se houve determinação expressa e direta a policiais militares para que deixassem os quartéis e assumissem seus postos de trabalho. Caso isso não tenha acontecido, a procuradoria deseja uma explicação da Secretaria de Segurança sobre essa ordem não ter sido dada.
Desde sábado (4), familiares de PMs têm impedido a saída dos agentes dos quartéis do Estado, o que, na visão do MPF, tem instaurado caos e pânico geral acerca da segurança pública da população capixaba.
Mais de 60 homicídios foram registrados no Espírito Santo desde então, o que aumentou em mais de seis vezes a média diária de assassinatos. Saques, roubos e arrastões também são registrados por todo o Estado.
O prazo para que a secretaria passe a informação ao MPF acabou no fim da tarde desta terça-feira (7). Segundo o procurador Carlos Vinícius Cabeleira, a expectativa é de receber os dados até a manhã desta quarta (8).
"A gente pode pedir essas informações judicialmente, mas não temos essa perspectiva", disse o procurador. "Precisamos saber se houve omissão das autoridades do governo do Estado ou se houve uma desobediência na cadeia hierárquica da polícia militar."
“A ordem foi dada nesta manhã”, disse o comandante da PM do Estado, coronel Nilton Rodrigues, no início da tarde. “As escalas de serviço existem como existiram sempre. A escala de serviço é uma ordem”.
Clima de feriado
A presença de militares e da Força Nacional não foi suficiente para encorajar os moradores de Vitória e da região metropolitana a retomarem a rotina. Com a PM nos quartéis e batalhões, a maioria das ruas permaneciam vazias e o comércio, fechado no começo da manhã desta terça, em uma espécie de feriado forçado.
Ao menos 250 integrantes das Forças Armadas já estão no Espírito Santo, segundo o comando do Exército na região. A expectativa é de que mais 1.000 cheguem, ainda hoje, ao Estado, disse o secretário de Segurança Pública capixaba, André Garcia, à Record TV. "Estamos garantindo a segurança para que a vida volte ao normal", disse, qualificando a suspensão do serviço de policiamento como "um movimento irresponsável".
Entenda a crise no Espírito Santo
No sábado (4), parentes de policiais militares do Espírito Santo montaram acampamento em frente a batalhões da corporação em todo o Estado. Eles reivindicam melhores salários e condições de trabalho para os profissionais. Desde então, sem patrulhamento nas ruas, uma onda de violência tomou diversas cidades.
A Justiça do Espírito Santo declarou ilegal o movimento dos familiares dos PMs. Segundo o desembargador Robson Luiz Albanez, a proibição de saída dos policiais caracteriza uma tentativa de greve por parte deles. A Constituição não permite que militares façam greve. As associações que representam os policiais deverão pagar multa de R$ 100 mil caso a decisão seja descumprida.
A ACS-ES (Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo) afirma não ter relação com o movimento. De acordo com o cabo Thiago Bicalho, do 7º Batalhão da Polícia Militar do Estado e diretor Social e de Relações Públicas da associação, os policiais capixabas estão há sete anos sem aumento, e há três anos não se repõe no salário a perda pela inflação.
Segundo o secretário estadual de Segurança Pública, André Garcia, as negociações sobre salários e condições de trabalho de policiais serão feitas apenas quando o patrulhamento na rua for retomado e a situação estiver controlada.
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse, na segunda (6), que militares das Forças Armadas ficarão no Espírito Santo durante o "tempo necessário" para que a ordem no Estado seja restabelecida.
*Colaborou Nathan Lopes, do UOL, em São Paulo
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