Crianças agredidas, crimes sexuais, tiros: diretor conta rotina do IML do Rio
O médico legista Reginaldo Franklin, que trabalha há 20 anos nessa área e hoje é diretor do Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto, no Rio, resume sua rotina profissional com uma frase curta: "Nós convivemos com dor e sofrimento".
Franklin conta que as vítimas mais frequentes são pardos e negros baleados ou mortos por arma branca, como facas. Mas os casos mais marcantes são os crimes com crianças, abusadas sexualmente ou estranguladas. "A gente se emociona a todo momento."
Apesar da intensa disputa entre criminosos pelo domínio do tráfico, de acordo com Franklin, não houve aumento do número de vítimas de homicídio recebidas pelo instituto.
Ele usa uma fórmula para aguentar a dureza do que vê no trabalho: "Uma boa oração antes de sair de casa e outra assim que retornar funciona muito bem. Tem funcionado comigo".
Este é terceiro vídeo da série sobre a recente explosão de violência no Rio. No primeiro vídeo do projeto, a médica Flávia L. Rocha, que trabalha há nove meses na emergência da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Cidade de Deus, na zona oeste da capital, afirmou que chegam cada vez mais casos de baleados e amputados no local. "De janeiro a julho deste ano, houve um aumento de 120% no número de feridos por bala se comparado a todo o ano passado."
No segundo, Zeca Borges, idealizador do Disque Denúncia, central especializada no recebimento de relatos de casos de violência do Estado do Rio de Janeiro, relata uma piora na segurança pública: "Antes era com faca, caco de vidro, hoje se assalta com fuzil", afirmou o engenheiro civil, cujo serviço recebe mais de 10 mil ligações por mês. "Às vezes, dá vontade de jogar a toalha", diz.
A série reúne conversas com profissionais que lidam diretamente com vítimas da violência para mostrar como isso afeta muitas pessoas. Médicos, psicólogos e coordenadores de projetos de combate ao crime falam das consequências de estar na linha de tiro e dão voz ao sentimento que ecoa em toda a sociedade.
Na semana que vem, o último vídeo mostra a rotina de psicólogos que ajudam vítimas de crimes, policiais e pessoas com problemas com a lei.
Aumento da violência
O medo no Rio de Janeiro se intensificou por conta de uma sangrenta disputa pelo controle do tráfico entre Antônio Bonfim Lopes, no Nem da Rocinha, e Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, que têm métodos diferentes para atuar na Rocinha.
Enquanto Nem era conhecido por seu perfil assistencialista, de ajuda à comunidade, Rogério 157 cobra "taxas de serviço", com tributos para quem atua com mototáxis, distribui botijões de gás ou vende água, fornecimentos importantes numa comunidade em que esses produtos têm dificuldade de serem entregues.
Os dois eram da mesma facção criminosa, mas romperam por conta das divergências.
Rogério 157 teve prisão preventiva decretada nesta quarta-feira (27), enquanto Nem continua preso na penitenciária federal de Porto Velho (RO), de onde, segunda a polícia, segue dando ordens a seus subordinados.
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