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Rio: mãe defende filho e morre após receber coronhada de fuzil de PM na cabeça, diz família

A diarista Marisa Nóbrega morreu dois dias após ser agredida por PM, diz família - Arquivo Pessoal
A diarista Marisa Nóbrega morreu dois dias após ser agredida por PM, diz família Imagem: Arquivo Pessoal

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

10/10/2017 15h54

A diarista e vendedora, Marisa de Carvalho Nóbrega, 48, morreu dois dias após receber uma coronhada de fuzil na cabeça dada por um policial militar do Bope (Batalhão de Operações Especiais) no último sábado (7), na Cidade de Deus, zona oeste do Rio de Janeiro, segundo denunciou sua família. A polícia investiga a morte --o sepultamento aconteceria nesta terça-feira (10), mas o corpo passará por exames.

A vítima foi agredida durante uma discussão com policiais que teriam abordado e agredido seu filho de 17 anos que estava na companhia da irmã, da prima e da namorada. De acordo com a denúncia, os policiais queriam que o jovem admitisse ser traficante. O grupo foi revistado e sofreu violência física e psicológica na favela.

“Eles queriam que o jovem assumisse que era traficante, pois estava bem vestido. Ele estava arrumadinho, logo concluíram que era bandido. Começaram a dar tapa na cara de todo mundo até que ele se meteu na frente das meninas. Foi quando os policiais mandaram chamar a mãe dele. Ela chegou perguntando o que estava acontecendo. Começou um bate-boca até que deram um soco no rapaz e uma coronhada de fuzil na cabeça dela”, contou uma testemunha que não quis se identificar.

De acordo com parentes, a diarista começou a passar a mal no local. “Após agredi-la, os policiais ainda a acusaram de mentir e fazer drama”, conta a testemunha.

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Marisa foi levada para casa reclamando de suor intenso e mal-estar até que desmaiou. A família chegou a buscar o primeiro atendimento na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da região. De lá, a paciente foi encaminhada para o Hospital Municipal Salgado Filho, no bairro do Méier, na zona norte carioca.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a mulher deu entrada na unidade no sábado com um trauma. A paciente ficou sob os cuidados da equipe de neurocirurgia, mas, na manhã de segunda-feira (9), ela morreu.

Polícia investiga a morte

A família disse que não realizou boletim de ocorrência contra os PMs por medo de represálias. Eles moram na favela há mais 20 anos.

O sepultamento de Marisa aconteceria na tarde desta terça no Cemitério do Pechincha, na zona oeste do Rio. Mas, segundo a Polícia Civil, o corpo foi encaminhado hoje para o IML (Instituto Médico Legal) para exames.

Os investigadores querem saber se a diarista morreu em decorrência da coronhada. De acordo com a 32ª DP (Taquara) foi instaurado inquérito policial para apurar as circunstâncias da morte de Marisa. Segundo a polícia, parentes foram ouvidos na delegacia.

O filho de 17 anos da diarista, o primeiro a ser agredido durante a abordagem, trabalha como mototaxista durante o dia e à noite estuda. Ele cursa o ensino fundamental da rede pública de ensino. Além dele, Marisa tinha outros quatro filhos: a caçula com nove anos e outros três com 22, 25 e 30 anos.

Mais cedo, a Polícia Militar disse, por meio de nota, que a Corregedoria Interna da corporação não havia sido informada do caso e que o órgão possui vários canais para denúncias de crime militares que são investigados e comunicados ao Ministério Público Militar.

As informações, de acordo com o comunicado, podem ser repassadas pro meio do aplicativo WhatsApp pelo número (21) 97598-4593 ou pelo telefone (21) 2725-9098.

Redes Sociais

A violência que resultou na morte de Marisa ganhou espaço nas redes sociais. Na página destinada à Cidade de Deus, muitos moradores lamentaram a morte da moradora.

“Que absurdo. Quem deveria estar protegendo está matando”, disse um internauta.

“Que absurdo! Tem que ter uma resposta”, cobra outro.

“Agora andar bem arrumado intitula bandido? Polícia totalmente despreparada. Que a justiça seja feita”, escreve outro membro da página.

Operações na Cidade de Deus e Rocinha

No início do mês, moradores da Cidade de Deus viveram dias de tiroteios intensos devido a operações policiais na favela. Policiais do Bope fizeram buscas na região por criminosos envolvidos na morte de um sargento do grupo de elite da PM, Adilson Ferreira Riça Filho. Ele foi encontrado morto em um condomínio no bairro do Pechincha, também na zona oeste. A Divisão de Homicídios investiga o caso.

Devido às incursões policiais que chegaram a ocorrer por cinco dias seguidos, mais de 5.000 alunos ficaram sem aula. Fecharam as portas na região 12 escolas, três creches e quatro EDIs (Espaços de Desenvolvimento Infantil).

Nesta terça-feira (10), mais de 2.400 estudantes voltaram a ser afetados pelo fechamento de escolas na Rocinha, comunidade da zona sul do Rio. As Forças Armadas voltaram à favela hoje em apoio a operação da polícia, que faz buscas por armas e drogas.