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Médico sequestrado na Maré diz que traficante precisava amputar o braço após ser baleado

Fuzil deixado pelos traficantes durante a movimentação pelo Complexo da Maré - Estefan Radovicz/Agência O Dia/Estadão Conteúdo - Estefan Radovicz/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
Fuzil deixado pelos traficantes durante a movimentação pelo Complexo da Maré
Imagem: Estefan Radovicz/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

19/10/2017 10h31

O médico sequestrado no Complexo da Maré, no domingo (15), para socorrer um traficante baleado disse à Polícia Civil do Rio de Janeiro, após ter sido liberado, que o criminoso precisava amputar o braço para evitar uma infecção generalizada e, consequentemente, o risco de morte em razão da gravidade do ferimento.

O traficante, identificado como Renan Henrique Barbosa Campos, foi atingido por disparos no braço e na perna durante confronto com a Polícia Militar. Campos chegou à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Maré depois que cerca de 50 homens armados invadiram a unidade e obrigaram médicos e enfermeiros a atendê-lo. Toda a movimentação foi registrada pelas câmeras de segurança da UPA. As imagens foram divulgadas na quarta-feira (18).

Como não havia estrutura necessária para indicação cirúrgica, os traficantes renderam o motorista de uma ambulância e usaram o veículo para fazer a transferência do suspeito até uma clínica localizada na Baixada Fluminense, conforme relatou o delegado do caso, Wellington Vieira, da 21ª DP (Bonsucesso). O médico foi obrigado a ir junto. A localização exata da unidade de saúde ainda é investigada.

renan henrique barbosa campos - Reprodução - Reprodução
Campos seria, de acordo com a Polícia Civil, gerente do tráfico na Vila do João, no Complexo da Maré
Imagem: Reprodução
O socorro ao traficante baleado durou cerca de seis horas, de acordo com o primeiro depoimento do médico sequestrado. Durante esse tempo, que inclui o trajeto do Complexo da Maré até a clínica na Baixada Fluminense, amputação necessária para salvar a vida do criminoso não teria ocorrido. A Polícia Civil, no entanto, investiga se outros médicos atuam no local para onde Campos foi levado. Há indícios de que o local seria uma espécie de "hospital clandestino".

Para confirmar essas e outras informações, o delegado da 21ª DP espera ouvir ainda nesta quinta-feira (19) o médico. Assustado, ele deverá indicar o local e o horário para que possa reapresentar a sua versão dos fatos e ser confrontado com dados coletados durante a investigação. O primeiro depoimento foi dado pouco depois do crime, quando ele ainda estava em estado de choque.

O andamento do inquérito e o nome da vítima, que seria incomum, segundo o delegado Wellington Vieira, indicam que o médico seria estrangeiro, possivelmente colombiano.

No vídeo do circuito interno da UPA, aparecem homens fortemente armados, com fuzis e pistolas, acompanhando uma pessoa gravemente ferida em uma maca.

Campos seria um dos homens de confiança de Thiago da Silva Folly, o TH, um dos líderes da facção TCP (Terceiro Comando Puro) e chefe do tráfico de drogas na maior parte do Complexo da Maré. O nome de TH chegou, inclusive, a ser cogitado como o ferido que recebeu atendimento na UPA. "Estamos isolando a imagem de cada bandido que aparece no vídeo e comparando com o nosso banco de imagens para identificar cada um deles", Vieira.

O confronto com a PM que feriu Campos ocorreu na noite de sábado (14), na avenida Brasil, na altura de Bonsucesso, zona norte da cidade. Ele e comparsas levaram a pior ao trocarem tiros com policiais do BPVE (Batalhão de Policiamento em Vias Expressas). Na ocasião, em momento de fuga, um dos criminosos deixou um fuzil cair no chão. A arma contém a inscrição "Tropa do TH".