Polícia vê marido que matou grávida como "frio e dissimulado"; "estou dilacerada", diz prima
Frio e dissimulado. É assim que a polícia de Serrinha, na Bahia, enxerga Adilson Prado Lima Júnior, o homem de 25 anos que confessou ter matado a própria mulher, Daiane Reis Mota (25), grávida de nove meses, no último sábado (16). Essa é a mesma impressão de amigos e familiares. Enquanto o rapaz revelou-se “calculista” em depoimento à polícia, nas buscas por Daiane, os colegas da vítima relatam seus esforços calculados para encontrar a mulher.
O UOL conversou com a polícia e com pessoas próximas à vítima, mas não encontrou o advogado de Adilson até o fechamento da reportagem.
Adilson Prado Lima Júnior foi detido pelo crime de feminicídio e encaminhado nesta segunda-feira ao presídio de Serrinha. A morte de Daiane causou revolta e comoção na cidade baiana, com diversos amigos e familiares prestando homenagens nas redes sociais e clamando por justiça. Ela deixa um filho de três anos, fruto de um relacionamento anterior.
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Michelle Senna é prima, mas considerava Daiane uma irmã. Foram criadas juntas, na mesma casa. Uma das primeiras pessoas avisadas sobre o desaparecimento, ela e o marido, Webert Veiga, saíram pela cidade para ajudar nas buscas. “A gente procurou das 19h de sábado até 5h do domingo. Aí fomos para casa descansar e esperar por noticias.”
O próprio Adilson foi à delegacia naquela mesma manhã para comunicar o desaparecimento. Em princípio, disse que Daiane havia saído de casa na tarde de sábado para fazer compras e não voltou mais. “A gente ficava perguntando ‘e aí, e aí?’ Ele respondia que estava indo em todos os hospitais e revirando a cidade toda. E nós acreditamos”, recorda-se Michelle.
Ela conta que Adilson chegou a dar dinheiro a um amigo segurança para que ele abastecesse sua moto e ajudasse a procurar. “Ele ligava para todo mundo perguntando se alguém tinha visto a Daiane. É um monstro!”
Michelle começou a desconfiar do rapaz depois de baixar um aplicativo que rastreia números de telefone. “Esse aplicativo mostrava que o celular dela estava em casa. Aí perguntamos sobre isso e o Adilson se exaltou.” Em seu depoimento, ele confessou que havia guardado a carteira e o smartphone da mulher em um armário antes de cometer o crime.
De acordo com a Polícia Civil, a “frieza” com que dava sua versão espantou os policiais. Mas as contradições foram tantas, que ele acabou confessando depois de confrontado com a seguinte evidência: câmeras de segurança mostram que, embora marido e mulher tenham saído juntos do povoado por volta de 14h de sábado, apenas ele retornou, às 14h33.
As razões alegadas para o crime, que também resultou na morte da criança, não convenceram as autoridades. “Ele disse que desconfiava da fidelidade da mulher já há algum tempo, não era de agora”, informa a Polícia Civil. “Ele teria lido uma troca de mensagens que ela teve no WhatsApp com um colega do trabalho.”
Adilson, então, teria pego uma arma emprestada "para dar um susto no rapaz", mas acabou guardando o revólver depois de não encontrar nenhuma outra conversa entre os dois. “Ele contou essa história porque foi encurralado. Por que decidiu matá-la de um dia para o outro de forma premeditada? São muitas contradições.”
Webert Veiga, marido de Michelle, diz que Adilson foi um “ator” durante todo o fim de semana. Eles frequentavam a mesma igreja evangélica. “Estive com eles na sexta, um dia antes de morrer. Ela estava ansiosa para o dia do nascimento.”
A data em que a criança viria ao mundo, no entanto, foi a mesma de seu sepultamento. O corpo de Daiane, encontrado em um matagal, foi enterrado na segunda-feira (19). "Eu estou dilacerada. Foi um pedacinho de mim junto com ela”, diz Michelle. “Ele é um miserável, um monstro.”
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