"Você tem o meu perdão", diz a Carli Filho mãe de jovem morto em acidente
Presente nos dois dias do júri popular do ex-deputado estadual Fernando Carli Filho, a deputada federal Christiane Yared (PR-PR) afirmou após a decretação da sentença de nove anos e quatro meses de prisão que perdoa o ex-parlamentar pela morte de seu filho, Gilmar Yared.
O jovem, então com 26 anos, foi um dos mortos no acidente de maio de 2009 pelo qual Carli Filho foi condenado hoje no Tribunal do Júri, em Curitiba. Com ele, estava o amigo Carlos Murilo de Almeida, 20, a quem havia dado uma carona. Segundo a perícia, o carro em que eles estavam foi atingido pelo então deputado de primeiro mandato a uma velocidade entre 161 e 173km/h. Os dois morreram na hora, e Yared, com a violência do impacto, também foi decapitado.
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Hoje, indagada sobre o que diria ao autor do acidente, a parlamentar e pré-candidata ao Senado se emocionou, mas foi direta: “[Diria] Fernando, você tem o meu perdão. Eu quero que você fique bem, que a tua geração não seja manchada com o sangue do meu filho. E isso eu falo diante de Deus: que Ele tenha misericórdia de você”, declarou. “A pena que te foi imposta foi exatamente a resposta ao que você me causou naquela madrugada”, complementou, naquela que seria a resposta a Carli Filho.
Ontem, ao ser interrogado no júri, o ex-deputado disse assumir sua “parcela de culpa”, ressalvou que “jamais tive a intenção" de matar alguém e pediu perdão a Christiane e a Vera Lúcia de Carvalho, mãe de Carlos Murilo. “Sei que eu nunca tive a oportunidade de pedir desculpas pelo que eu causei. Os filhos de vocês morreram e eu quero, do fundo do meu coração, pedir desculpas", afirmou, na ocasião.
À época, Yared ajudava a mãe em uma confeitaria e era estudante de jornalismo e de psicologia. Também se preparava para uma viagem à Austrália.
Deputada defende segurança no trânsito
Após a morte do filho, Christiane passou a militar em causas ligadas a familiares de vítimas do trânsito. Em 2010, fundou a ONG Instituto Paz no Trânsito (IPTRAN) a fim de prestar suporte a outras famílias com tragédias semelhantes.
“A essência da instituição é desenvolver projetos que promovam conscientização e responsabilidade em motoristas e outros atores envolvidos no trânsito, a partir de ações educativas que instiguem o comprometimento com a vida, o maior valor defendido pela instituição”, diz o site da ONG.
Em 2014, ela disputou uma vaga na Câmara Federal pelo PTN e se tornou a deputada mais votada pelo Paraná, com pouco mais de 200 mil votos. Em 2016, se filiou ao PR –desde então, votou pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), a favor da PEC dos Gastos Públicos e também pela admissibilidade da investigação por corrupção contra o presidente Michel Temer (MDB). O foco da atuação da parlamentar, no entanto, são as questões de segurança no trânsito.
Após o anúncio da sentença nesta quarta, ela disse que continuará lutando para que mortes como a do seu filho não se repitam. "Ainda tem muito o que ser feito. Tem muita luta a ser lutada, muitas batalhas a serem vencidas. Essa é a sensação de que não acaba aqui. Porque tem outros, e enquanto tiver outros, teremos nós. Se a dor do meu irmão não me incomodar, terá algo errado comigo".
Sobre a sentença não ter acolhido a tese de crime de trânsito alegada pela defesa, a deputada avaliou que a aceitação da tese de dolo eventual representa uma vitória e um marco a outras famílias que aguardam decisões judiciais.
“Não estamos comemorando, mas acreditamos que essa é uma conquista para o país, porque meu filho não foi enterrado: ele foi plantado e agora há uma semente que está dando frutos, e esses frutos vão salvar vidas”, disse. “Ainda há muito a ser feito nessa luta sobre as vítimas de trânsito, ela não acaba aqui. Que as pessoas compreendam que elas podem beber, só não podem beber e dirigir e nem usar o celular enquanto dirigem”, afirmou.
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