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Faca é a principal arma usada para matar mulheres em SP, mostra estudo sobre feminicídio

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Daniela Garcia

Do UOL, em São Paulo

01/03/2018 18h19Atualizada em 02/03/2018 10h37

Faca, foice ou canivete são as principais armas usadas por agressores para matar mulheres em casos de feminicídio no Estado de São Paulo, segundo estudo do Ministério Público divulgado nesta quinta-feira (1º). Em 58% dos casos, armas brancas foram a causa da morte.

O levantamento "Raio X do Feminicídio" analisou as características de 364 casos entre março de 2016 e março de 2017 registrados em 121 cidades paulistas.

Já armas de fogo representam 17% das mortes, seguida por objetos de uso doméstico, como panela de pressão, cabos e móveis (11%). Cerca de 10% dos agressores asfixiaram as vítimas.

De acordo com a legislação brasileira, feminicídio é o homicídio praticado contra a vítima por ela ser mulher. O crime pode envolver violência doméstica, menosprezo ou discriminação à condição da mulher.

Coordenadora do núcleo de gênero do MP, a promotora Valéria Scarance diz que a pesquisa evidencia que o feminicídio exige estratégias de combate diferentes das utilizadas, em geral, na segurança pública. "Não se combate feminicídio com a melhoria da iluminação pública ou apreensão de armas, sendo que o agressor usa, em regra, armas caseiras", afirma.

Segundo ela, o estudo mostra que os agressores são capazes de crimes "extremamente cruéis" ao repetir golpes contra as vítimas. "Não é carinho, não é amor, não é paixão. É o crime derivado de sentimento de posse, de alguém que não conseguiu ouvir um 'não'", afirma Valéria.

A pesquisa também verificou o número de golpes ou tiros contra as vítimas. Na maior parte dos casos, 48%, foram deferidos mais de dois ataques. Na sequência, estão os crimes com um golpe/tiro, enquanto 8% registraram dois golpes ou tiros.

Dentre os 364 casos estudados, 240 deles tratam de feminicídio com relação afetiva –quando o crime foi praticado por namorados, maridos, relacionamentos extraconjugais ou com profissionais do sexo.

Nesses casos, a principal motivação para o crime é a separação do casal, ocorrida no momento do crime ou recentemente, segundo o estudo, e representa 45% dos casos em que há relação de proximidade ou amorosa.

Ciúme, sentimento de posse ou machismo responde por outros 30% dos casos me que há relação entre agressor e vítima. Outros 17% tratam de discussão, 2% por motivo financeiro e 6% não contava na denúncia.

O estudo não traz detalhes da motivação quando não há relação afetiva.

Maioria dos crimes ocorre à noite

Em relação ao horário dos crimes, 58% deles acontecem durante a noite, entre 18h e 6h. A pesquisa ainda concluiu que a cada três vítimas de feminicídio, duas delas foram atacadas em casa. Segundo o estudo, 66% aconteceram na residência da vítima. Em seguida, 8% dos crimes foram praticados no caminho para casa ou para o trabalho.

Feminicídio é evitável, diz promotora

O estudo também verificou os casos em que as vítimas tinham obtido medida protetiva, uma conquista garantida pela Lei Maria da Penha. Dentre os 364 registros, 12 mulheres com medida protetiva foram vítimas da violência, o que representa 3% do total.

"O que leva à conclusão de que romper com o silêncio e deferir medidas de proteção é uma das estratégias mais efetivas na prevenção da morte de mulheres", disse a promotora Valéria Scarance. "O feminicídio é evitável", completou.